Guia da Semana

De Los Angeles


Embora Kung Fu Panda fosse carta marcada entre as estréias desse ano, a DreamWorks conseguiu exceder todas as expectativas - que já eram altas, aliás - e é o primeiro blockbuster do ano capaz de agradar a todas faixas etárias de público e, interessante, sem usar violência exagerada. Mas como pode um filme sobre que envolve Kung Fu não ser violento? As lutas são mais artísticas e a ausência de realismo nesse sentido atenua os efeitos da pancadaria, sem tirar a parte bacana de ver os "donos" dos famosos estilos caindo na porrada!

Em termos de argumento, porém, Kung Fu Panda tem uma referência direta que chegou às telas alguns meses antes: Forbidden Kingdom, o tão esperado filme de Jackie Chan e Jet Li. Ambos tratam da temática do jovem que adora Kung Fu, sonha com seus ídolos e, como todo aficionado, ou fã - numa leitura mais atual - quer se tornar alguém importante. Os sonhos de Po (voz de Jack Black), aliás, proporcionam uma das melhores seqüências do longa-metragem. É na abertura do filme que vemos o maior dos maiores, o melhor dos melhores, o mais maravilhoso dos maravilhosos e irresistível dos irresistíveis Po derrotar hordas de inimigos, às vezes com o mero olhar. O estilo de animação a lá Samurai Jack, de Gendy Tartakovsky, é agressivo e de tirar o fôlego, além de demonstrar a inocência do Panda, que narra suas histórias com redundância e auto-afirmação praticamente infantis. O estilo é adulto, mas é uma criança contando. Equilíbrio desde o princípio.

A história se desenrola com Po sendo escolhido como o Dragon Warrior pelo mestre Oogway (Randal Duk Kim) e, de acordo com a profecia - sempre tem uma, repararam? - é o único capaz de derrotar o imbatível Tai Lung (Ian McShane), um tigre da neve que destrói tudo em seu caminho e quer, a todo custo, ocupar o posto dado ao fanboy Po. O curioso aqui é que o Panda sabe de suas limitações, pois é gordo e desengonçado - como todo panda que se preze, aliás - e confronta seu mestre, Shifu (Dustin Hoffman), com a dura realidade de não ser o guerreiro que todos esperam.

Esse tipo de decisão da história garante identificação com o personagem. Todo mundo tem aquele sonho impossível, aquela vontade guardada desde a infância e poucos seriam capazes de encarar os fatos como Po o faz. Mas, claro, Mestre Shifu não é o maior de todos os mestres à toa e, juntos, eles vão encontrar um caminho para treinar o panda nas artes marciais. E o melhor jeito de ensinar um gordão comilão é, claro, pelo estômago.

E a comédia que já corria solta, entra num ritmo completamente absurdo daí em diante. O bom gosto das piadas e a qualidade técnica, que permite uma série de piadas físicas envolvendo Po, pontuam a produção sem exageros e também sem falhas. Nenhuma das piadas passa incólume pelo público.

Entretanto, a versão dublada no Brasil parece ter fugido à regra e as piadas falharam. Mais uma vez, a escolha de atores famosos para fazer as vezes de profissionais da dublagem prejudica um produto que, teoricamente, não tem falhas. Deu certo com o Bussunda, dadas as proporções, mas isso não é prova de que funciona toda vez. Juliana Paes no lugar de Angelina Jolie ficou horrível. O elenco original foi escolhido a dedo e funciona magistralmente. Destaques para Jack Black, Dustin Hoffman e James Hong, que interpreta o pato Mr. Ping, pai de Po. Pato? Pai do Panda? Melhor nem perguntar. Curiosamente, a vila onde os personagens vivem é composta por apenas três raças: porcos, patos e coelhos. Apenas os lutadores de kung fu são de outras espécies, os Furious 5, representando cada um dos estilos, Mestre Shifu (ratinho), Mestre Oogway (tartaruga) e Po, o único panda da região.

Kung Fu Panda é o filme mais engraçado da temporada, mesmo se comparado ao Agente 86, e seu desempenho só o coloca atrás de Homem de Ferro e Indiana Jones. Foram US$ 156 milhões e um sólido terceiro lugar nas bilheterias norte-americanas batendo em porcarias pseudoartísticas como Sex and the City e O Guru do Amor, que ainda não estreou no Brasil.

É o Pandamônio tomando conta do cinema!


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

Atualizado em 6 Set 2011.