Guia da Semana

O documentário Cidade Cinza, que lotou as salas do Festival É Tudo Verdade em abril deste ano, estreia nos cinemas neste mês com a ajuda dos fãs, que financiaram a distribuição pelo site Catarse.

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Escrito por Peppe Siffredi e dirigido por Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, o filme acompanha o trabalho dos grafiteiros OsGemeos, Nunca, Nina, Ise, Finok, Zefix e Coyo na capital paulista, desde 2008. Naquele ano, OsGemeos e Nunca foram convidados para pintar as paredes da galeria londrina Tate Modern, ao mesmo tempo em que um mural de sua autoria era coberto de tinta cinza na avenida 23 de Maio, a pedido da prefeitura de São Paulo.

O escândalo transformou o que seria apenas um registro histórico numa denúncia contra o desprezo pela cultura nacional. “Muita coisa mudou nestes seis anos em como a sociedade e o poder público enxergam o grafite, mas isso acabou jogando a favor do filme, pois conseguimos fazer um retrato mais profundo do que acontece nas ruas da cidade”, defende o diretor.

Como os personagens do filme, Mesquita também precisou cruzar o continente para divulgar seu trabalho e ter reconhecimento. No Festival Internacional de Montreal, realizado em agosto, o cineasta viu Cidade Cinza se tornar tema de um debate acalorado sobre o caos que envolve o grafite paulistano e a realidade (bem menos turbulenta) da arte de rua canadense.

Por aqui, porém, o debate ainda está frio. “Acredito que o filme possa ser uma arma interessante, propondo um novo diálogo entre a sociedade, os grafiteiros e o poder público”, aposta Mesquita. Siffredi é menos otimista e afirma que o problema é estrutural: “o grafite permite medir o grau de liberdade de expressão de uma cidade, a quantidade e qualidade dos espaços públicos voltados ao lazer e às artes, a formação e o fomento à produção, distribuição e consumo das artes em geral”. Em outras palavras, a arte brasileira está sufocada, como os murais pintados de cinza.

Apesar do sucesso de público em abril, o filme não teve apoio oficial para ser distribuído. Mesmo assim, mais de 50 mil reais já foram arrecadados via crowdfunding, quase 70% do valor necessário para chegar aos cinemas. “Esse fenômeno é muito interessante, pois coloca o realizador em contato direto com seu possível público”, analisa Siffredi, lembrando que o cinema independente (em especial o documentário) ganha cada vez mais força na internet, com a divulgação viral de quem assistiu e aprovou.

Veja o trailer do filme:

Por Juliana Varella

Atualizado em 22 Nov 2013.