Guia da Semana

Que o 3D é sucesso, não há dúvida. A plataforma vem lotando salas de cinema de todo o mundo e de olho nisso, grandes produtoras pretendem transformar seus clássicos e colocá-los em cartaz novamente. O gênero que mais recebe atenção nesse sentido são as animações.

Com o intuito de ganhar um público que ainda não teve chance de conhecer as histórias, as empresas de cinema trabalham arduamente em projetos de conversão de suas obras. Esse foi o caso de Toy Story 1 e 2, Shrek 1, 2 e 3, A Bela e a Fera, que completa 20 anos em 2011 e pretende ser relançado, e dessa vez, o recorde de bilheteria, O Rei Leão.

O produtor da história do leãozinho, Don Hahn, explica que o desenho animado em 2D passou por um processo de conversão, feito com muito cuidado. De forma que ficasse nos padrões de tecnologia Disney Digital 3D.

Lançado em 1994, O Rei Leão tornou-se um dos maiores sucessos da casa do Mickey e rendeu US$ 312 milhões de dólares somente nos Estados Unidos e mais de R$ 1 bilhão ao redor do mundo. A repercussão não foi diferente no Brasil. Foram cerca de 500 mil pagantes somente na estreia, somando 4,2 milhões ao total. Além disso, o VHS vendeu 4,5 milhões de cópias no dia do lançamento, em 1995, e o DVD, em 2003, chegou a 2 milhões na mesma ocasião.

Além da história de Simba, outros personagens que devem voltar às telonas são Jack e Rose, protagonistas de Titanic. Em sua recente passagem pelo Brasil, o premiado diretor James Cameron afirmou que está trabalhando no projeto de conversão do longa para 3D. Porém, isso levará tempo, já que Cameron é um dos grandes defensores da plataforma e crítico em relação à banalização do gênero, se referindo a filmes que não foram pensados para o 3D e no meio do processo foram adaptados - caso de Fúria de Titãs (2010).

Foto: Imdb.com


Mercado promissor

Realmente, esse filão na indústria cinematográfica tem feito sucesso. E, segundo o crítico de cinema Christian Petermann, em grande parte devido à curiosidade do recente gênero e a busca do retorno financeiro. "O motivo principal é, sem dúvida, capitalizar em cima da atual tábua de salvação da indústria de cinema em Hollywood, o 3D. Além disso, atiçar a curiosidade de fãs, admiradores e novos espectadores para obras clássicas e referenciais que ressurgem com esse atrativo extra", afirma.

Já de acordo com Pedro Butcher, crítico de cinema do jornal Folha de S.Paulo e editor do site Filme B, o 3D se confirmou como uma força e abriga uma capacidade gigante de atrair público ao cinema - até maior do que a própria indústria esperava. "Uma nova geração está se habituando ao 3D como normal e padrão. O bom filme em 3D é aquele que não é deslumbrado pelos efeitos. Em alguns, os longas não são pensados de forma tão sofisticada para a plataforma; assim, os estúdios usam o mercado de uma forma predatória", relata.

Trabalho triplicado

A conversão é um processo tecnicamente complicado, afinal, o ideal é que o longa seja pensado e produzido em 3D desde suas câmeras ou, então, desenhos e personagens já produzidos para a versão tridimensional. "Um 3D estudado e bem aplicado não atrapalha em nada, como o feito nas duas primeiras partes de Toy Story, em trabalhos de preparo para o terceiro e último filme da série, que desde o começo concebeu a versão tridimensional. Mas um 3D inútil, desconexo, oportunista, sensacionalista ou de segunda categoria realmente só tende a prejudicar uma obra", comenta Petermann.

Foto: Imdb.com


De acordo com Rafael Ribas, um dos diretores da Start Media, responsável por animações como O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes, para converter um filme é preciso animar tudo novamente, modelar, fazer a pré-produção e reinderizar, gerar as imagens. "A grande diferença é na hora da reinderização. É preciso ter à disposição um software com três ângulos. O programa capta o filme por dois olhos diferentes, por isso, ele precisa ser digital. Depois, é necessário finalizar o filme duas vezes, portanto, o trabalho fica dobrado", explica.

Já os filmes produzidos em 2D, como é o caso de O Rei Leão, uma animação feita a mão, o processo é diferente. "Quando se faz o 3D são usadas duas câmeras em um personagem. No desenho feito a mão só é possível fazer isso uma vez. Nesse caso, é preciso um software para trabalhar tudo isso e fazer os multiplanos. As animações feitas assim não permitem um 3D de volume, preza muito mais a profundidade. É preciso trabalhar os planos, como se víssemos várias cartolinas recortadas, uma em cada profundidade".

Quanto custa

No projeto de Avatar, James Cameron passou dez longos anos pesquisando e criando todos os aparatos necessários para a composição do longa. Considerado o filme mais caro da história - em torno de US$ 500 milhões -, Avatar é a grande prova de que produzir em 3D custa bastante. "Estamos com um projeto no valor aproximado de R$ 4 milhões. Se fosse necessário utilizar somente a tecnologia para fazer a conversão, provavelmente giraria em torno de R$ 2 milhões. Em se tratando de produções da Disney, esse valor fica difícil de calcular. Toy Story, por exemplo, gastou US$ 100 milhões na produção e deve ter consumido, no mínimo, metade para conversão", comenta Rafael Ribas.

Atualizado em 10 Abr 2012.