Guia da Semana

Los Angeles


Deixando de lado as fórmulas mais usuais para se falar sobre relacionamentos, Surpresas do Amor diverte sem forçar a barra e levanta o espírito para encarar a correria das compras e, claro, reuniões familiares do próximo... Natal? O espírito natalino é um dos elementos marcantes do filme - cujo nome original Four Christmases, ou seja, Quatro Natais, fazia mais sentido -, que chega atrasado ao Brasil e aparenta ser apenas mais uma comédia romântica. É mais do que isso. E vale o ingresso.

O senso cômico de Surpresas do Amor começa com a escalação de seu elenco: Vince Vaughn é gigante, Reese Witherspoon é baixinha. Mas seus personagens tem um relacionamento impecável. Não se casaram, se reconquistam sempre que possível - normalmente inventando personagens capazes de apimentar a relação - e, o mais importante de tudo, fogem das famílias durante as festas de fim de ano. Claro que, desta vez, algo sai errado e as coisas mudam.

E tudo ganha um tom surreal quando as famílias entram em cena. Filhos de pais separados, esses dois pombinhos precisam comparecer a nada menos que quatro reuniões natalinas, no mesmo dia, em pontos extremos da região de São Francisco. Tudo isso gera espaço para muitas autodescobertas, discussões malucas e, claro, famílias pra lá de disfuncionais. Afinal de contas, aceitar que sua mãe (Sissy Spacek) tenha se casado com seu melhor amigo e que seu pai (Robert Duvall) prefira viver com a tecnologia do século passado, não são tarefas simples para o moderno Brad (Vaughn), enquanto tem que aturar a mãe assanhada (Mary Steenburgen) e as constrangedoras fotos familiares causam pesadelos em Kate (Reese).

O elenco chama a atenção e ainda tem Jon Voight, Jon Favreau e a cantora country e atriz Kristin Chenoweth. Mas tudo que acontece ali é meio amalucado. Os personagens vão se conhecendo realmente por conta do contato com as famílias, que nada sabem do mundinho perfeito em que vivem. É aquele tipo de filme inofensivo, incapaz de ofender e pronto para garantir sorrisos em diversos públicos, sem ser exagerado. Boa parte dessa qualidade vem da atuação de Vaughn, dono de ótimo senso de timing e capaz de cativar, mesmo com sua fala rápida e um pouco insegura.

Surpresas do Amor foi campeão de bilheteria por algumas semanas, justamente por apostar em pessoas e problemas aceitáveis no mundo de hoje, ao contrário da onda ecológica e urgente que assolou o cinema norte-americano em 2008. Foi um jeito de se despedir do ano com esperança e humor suficiente para acreditar num melhor 2009. No caso do Brasil, ele chega depois de dramas pesos-pesados como O Curioso Caso de Benjamin Button e A Troca, o que o transforma em uma ótima opção para quem busca a base do cinema: entretenimento.

Não serão poucos os casos de pessoas se surpreendendo com o resultado dessa película dirigida por Seth Gordon. Robert Duvall está hilariante e a dobradinha Vaughn/Witherspoon é agradabilíssima, especialmente nas cenas românticas. Ele literalmente guia os passos de Reese, que foi carregada no ar pelo "gigante" numa divertida aula de dança de salão. Surpresas do Amor tem a medida certa para agradar e fazer rir. Seria perfeito na época de Natal, mas a PlayArte errou na pedida. Não se engane pelo título de comédia sem graça e arrisque. Você pode se surpreender.


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.


Atualizado em 6 Set 2011.