Guia da Semana

Montagem: Fernando Kazuo / Guia da Semana
Atores Arno Frisch e Michael Pitt na mesma cena das versões de 1997 e 2007 de Violência Gratuita.

Com a estréia em São Paulo do novo filme do aclamado diretor alemão Michael Haneke, Violência Gratuita, muitos devem imaginar que se trate de um relançamento. As imagens, os trailers, tudo lembra um filme com o mesmo nome de 1997. Filmado em 2007 com Naomi Watts, Tim Roth e Michael Pitt, o lançamento de agora é, na verdade, uma refilmagem americana do longa austríaco. Haneke, que dirigiu as duas versões, quis alcançar um público maior, por isso usou astros internacionais, falando em inglês, mas refazendo praticamente quadro a quadro seu sucesso anterior.

Não diferente é a situação dos irmãos Danny e Oxide Pang, que lançaram recentemente o thriller Perigo em Bangkok. O longa, com Nicolas Cage, é um remake de um dos primeiros dos cineastas gêmeos de Hong Kong, de 1999. Desta vez, porém, há diferenças em relação à obra original. A principal delas é que o protagonista da primeira versão é tailandês e surdo-mudo. Na nova fita, ele é americano e não tem nenhuma deficiência, ao contrário da mulher por quem se apaixona, que desta vez sim é surda-muda.

Mas os irmãos não são os primeiros orientais a dirigirem uma versão hollywoodiana de sua própria obra. Recentemente, dois diretores japoneses fizeram o mesmo. Hideo Nakata, que havia realizado a série Ringu em seu país, foi convidado a dirigir O Chamado 2, e brevemente fará o terceiro, ambos com Naomi Watts. Já Takashi Shimizu, realizador do também terror Ju-On, adaptou seu filme para o solo americano, rebatizando de O Grito, com Sarah Michelle Gellar. O diretor ainda fez O Grito 2 e está se preparando para o terceiro.

Sarah Michelle Gellar em O Grito, refilmagem do terror japonês Ju-On.

Esta mania de o mesmo diretor refazer um filme próprio não é atual. Já em 1956, dois grandes cineastas da época criaram novas versões de seus clássicos. Enquanto o americano Cecil B. DeMille refilmava de forma grandiosa seu Os Dez Mandamentos, adaptando o longa de 1923, o inglês Alfred Hitchcock criava uma nova leitura americana de seu filme europeu de 1934. DeMille, que recriou sua obra muda, concorreu a sete Oscar, incluindo melhor filme. Já Hitchcock, pôde mostrar à América um de seus clássicos pouco visto.

Ser reconhecido em Hollywood e, consequentemente, no mundo, é a principal desculpa para se realizar este tipo de ação. Por isso, raros são os casos em que americanos, como DeMille, refazem seus filmes. Geralmente orientais ou europeus. Foi o que aconteceu recentemente com o francês George Sluizer e o dinamarquês Ole Bornedal. O primeiro é responsável por O Silêncio do Lago, de 1993, com Sandra Bullock, refilmagem de uma obra sua de apenas cinco anos antes. Já Ole, refez O Principal Suspeito, com Ewan McGregor, três anos depois de filmar em sua terra natal, em 1994.

Foto: Gabriel Oliveira / Guia da Semana
Diretor Jeremias Moreira (de chapéu), nos sets do novo O Menino da Porteira.

Mas há casos também de diretores que querem aproveitar um momento melhor para o lançamento de um filme, e assim decide refazê-lo. É o caso de John Carl Buechler, que em 1986 realizou a aventura de fantasia Troll, e que se prepara para levar a história novamente às telas, em 2009. Além das vantagens dos avanços na tecnologia, e pelo clima do filme ser favorecido pelas semelhanças com a trilogia O Senhor dos Anéis, o longa tem um trunfo que deve atiçar a curiosidade de muitos. O protagonista se chama Harry Potter, apesar de o filme ter sido realizado anos antes de J.K. Rowling pensar em escrever sua obra.

E não é apenas nos EUA que são feitos os remakes, no Brasil também existem os casos de diretores que decidem refazer sua obra. Um dos precursores foi Alberto Pieralisi, que fez O Comprador de Fazendas em 1951 e refez em 1974. Ainda no clima interiorano, aproveitando o sucesso alcançado no cinema sertanejo por Dois Filhos de Francisco, o diretor Jeremias Moreira acaba de refilmar seu clássico de 1976, O Menino da Porteira. Enquanto na primeira versão, o protagonista era o cantor Sérgio Reis, desta vez é Daniel quem estrela o longa, que deve ficar pronto ainda este ano.

Atualizado em 6 Set 2011.