Guia da Semana

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O dedicado pastor prega em diversos locais do Brasil


São mais de 300 filmes pornôs na bagagem. Há três anos o ator Juliano Ferraz se transformou no pastor Giuliano Ferreira, que prega todos os fins de semana na Assembléia de Deus Madureira de Ribeirão Bonito, interior de São Paulo. Agora casado e com três filhos, o conferencista, como é chamado pelos fiéis, viajou por mais de 10 países divulgando os filmes eróticos.

As curvas bem delineadas, que faziam das cenas com outros atores e várias mulheres muito picantes, deram lugar ao terno e a Bíblia, que hoje é estudada todos os dias. Mas o que mudou desde o último filme que fez, A Primeira Vez de Rita Cadilac? Em entrevista ao Guia da Semana Giuliano fala sobre sexo e religião.

O começo

Guia da Semana: Porque decidiu fazer filme pornô?
Giuliano Ferreira: Eu tinha 18 anos, era de uma família humilde e tinha acabado de ter um filho. Precisava trabalhar e essa foi a opção. Comecei a dançar em casas noturnas e logo veio a primeira proposta. Entrei de cabeça.

GDS: Você fazia pelo prazer, além do dinheiro?
GF: Nunca. Algumas vezes me sentia até mal, fazia por necessidade.

GDS: Quanto você ganhava por filme?
GF: No começo todos ganham por volta de 500 reais por cena dentro de um filme. Depois, como comecei a trabalhar no exterior, ganhava em dólar, e três vezes mais do que os iniciantes, fazendo duas cenas por filme.

GDS: Você sente falta da fama?
GF: De forma nenhuma. Há algo dentro de mim que substitui, que é Jesus.

GDS: No seu orkut todos os ícones "sexy" estão preenchidos. Você se incomoda com isso?
GF: Eu não tinha notado isso (surpreso), mas não me incomodo. Hoje não sou mais aquele rapazinho de 19 anos que tinha o corpo todo malhado e as pessoas têm o direito de dizer o que querem.

A igreja

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Fiéis em uma das reuniões promovidas pela Assembléia de Deus Madureira de Ribeirão Bonito


GDS: O que mudou desde o último filme?
GF: Depois do filme com a Rita Cadilac mudou tudo. Sou outra pessoa, uma nova criatura.

GDS: E como você sentiu que tinha que mudar?
GF: Sempre quis sair, mas o dinheiro, a fama e tudo mais que essa vida me deu não deixava. Todo ano falava a mesma coisa, mas era complicado. Depois de passar por diversos acidentes, até de avião, e uma infecção generalizada senti que deveria parar.

GDS: Você tem muitos fãs daquela época. Eles ainda te procuram?
GF: Sim, tenho fãs daquela época, mas os que me procuram são os que também querem mudança em suas vidas.

GDS: Qual a reação de gays, lésbicas, garotas de programa quando são recebidos na sua igreja?
GF: Eles são bem recebidos, não são forçados a fazer nada, vão porque querem e ali, se permitirem, podem mudar de vida, como eu mudei.

GDS: As pessoas estão preparadas para aceitar sua história? Elas acreditam no que você prega?
GF: Em toda decisão tem pessoas que são contra e outras que são a favor. Existem aquelas que acreditam nas mudanças que Deus pode fazer, como foi comigo. E com certeza elas acreditam na minha história e é por isso que cada vez que prego de 10 a 15 pessoas aceitam a Jesus.

GDS: O que a Igreja Assembléia de Deus, que é super tradicional, acha do tipo de exposição que você está tendo?
GF: Mudou muita coisa dentro da igreja, claro que seguindo os padrões bíblicos, mas tenho apoio total da presidência. Minha mudança serve de exemplo para outras pessoas.

Sexo e religião

GDS: Qual era sua opinião sobre sexo? Qual é hoje?
GF: Eu era ator e tinha que interpretar, mas meu conceito sempre foi de fazer com a pessoa que ama e entre quatro paredes, sem exposição.

GDS: Então entre quatro paredes vale tudo?
GF: Vale respeito, cada pessoa tem seu limite e respeitar é sempre bom.

GDS: Você acha que a imagem dos evangélicos está distorcida?
GF: O evangelho virou modismo e está sendo usado para obter mídia. As pessoas que fazem filmes pornôs e fotos eróticas se dizendo evangélicas não tiveram mudança de caráter. Crente todo mundo é, até o diabo.

GDS: De que forma a sexualidade é ensinada na sua igreja?
GF: Sexualidade dentro da igreja é só casando. No namoro não existe isso e ponto, não tem outro jeito.

GDS: Hoje você é casado. Como foi conhecer sua mulher depois de 300 filmes?
GF: Conheci minha Mulher quando estava no fim da minha carreira. Ela, graças a Deus, sempre foi muito compreensiva e via o profissionalismo que eu tinha.

GDS: Ela já viu seus filmes?
Nunca quis ver e eu sempre respeitei, até achei melhor. Como o ditado diz: o que os olhos não vêem o coração não sente.

Atualizado em 28 Mai 2014.