Guia da Semana

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A campanha de inverno 2010 da grife paranaense Joyful foi baseada nas bicicletas, como incentivo a mobilidade sustentável

Atualmente, não há nada mais in do que desenvolver coleções que utilizam materiais reciclados ou com matérias-primas produzidas de maneira sustentáveis. Desmembramentos e denominações para esse segmento são o que não faltam. Para ficar por dentro, a presidente fundadora do Instituto Vestir Consciente Ecotece, Ana Cândida Zanesco fala todos os conceitos: 'ecomoda' associa de maneira mais específica uma produção ecológica com ativos ambientais; 'moda sustentável' une manufatura com ativos sociais, ambientais e culturais, por exemplo, valorizando o que é feito à mão e resgatando técnicas artesanais e tradicionais; por fim, o 'vestir consciente' não se restringe apenas a moda ecológica ou sustentável, mas agrega fraternidade, solidariedade e bem-estar social ao se prestar atenção na manufatura das roupas que se usa, por exemplo.

Os estilistas brasileiros são um dos grandes precursores da ecomoda ou ecofashion, no entanto, como quem dita as tendências são os europeus, vamos buscar na história como esse filão despertou atenção. Em meados de 1700, foi quando surgiu pela primeira vez um olhar mais atento ao meio ambiente, por intermédio da moda, na Europa. As empresas de confecção passaram a se preocupar com a durabilidade das roupas, para aliviar a oferta e a procura. No ano de 1875, a conceituada revista estadunidense Harper´s Bazaar criticou o uso de penas de animais selvagens em adornos e roupas, muito usados na época. Foi no século XX ainda que os designers adotaram uma postura ecofrindly em suas coleções.

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Foto de uma da campanha ecofriendly da estilista britânica Stella MacCartney, que utiliza matérias-primas sustentáveis, como o couro vegetal

Ecofriends

A estilista da atualidade que primeiro ousou enveredar-se pelo mundo da sustentabilidade e fundir-se com o da alta costura foi Stella MacCartney. Um dos grandes nomes da moda britânica trouxe para as passarelas da Paris Fashion Week peças feitas com algodão orgânico e uma linha de acessórios e calçados feitos em couro vegetal (saiba mais sobre essas matérias-primas sustentáveis no quadro abaixo). Stella lançou também uma coleção especial para a Adidas, que faz parte do programa Adidas Better Place (Um lugar melhor), em que os materiais devem seguir maneiras sustentáveis de produção. Há várias linhas, mas o destaque fica para Gym Yoga, na qual as peças são feitas de tencel, que é um tecido produzido a partir da madeira de eucalipto certificada; além de calçados manufaturados a partir de lona natural, tecidos reciclados e polpa de maneira.

A onda ecofashion vem ecoando até mesmo no mundo da arte e cultura. A nova exposição do museu Fashion Institute of Techonology, em Nova York, chama-se 'Eco-fashion: going green' e aborda a relação da moda com o meio ambiente e suas tentativas sustentáveis, através de mais de 100 peças, entre roupas, acessórios e tecidos, que transitam do século XIX até os dias atuais. Um grande expoente da moda nacional e que ganhou boas repercussões no desfile de Primavera 2008, apresentado na New York Fashion Week, foi Carlos Miele. O estilista brasileiro trouxe àquela passarela um vestido feito inteirinho de fuxicos de seda, confeccionados pelas artesãs da Coopa-Roca, que é a Cooperativa de Trabalho Artesanal e de Costura da Rocinha, no Rio de Janeiro. Miele mostrou que mais do que proteger o meio-ambiente, também é necessário promover o desenvolvimento social.

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As camisetas produzidas pela Ecotece são feitas com fibras de garrafa PET reciclada, com adornos artesanais e estampas que prezam pela sustentabilidade

Sustentáveis e nacionais

Designers voltados para a tendência eco na moda são o que não faltam no Brasil. Poderíamos elencar vários nomes, como Júlio César e Geová Rodrigues, que levaram o jeito brasileiro de fazer moda sustentável para seus ateliês em Nova York. O primeiro apostou no tecido feito com fita cassete reaproveitada, chamado Sonic. Já o outro aproveitou retalhos de roupas que iriam para o lixo e fez seu diferencial no mercado da moda. A Osklen, através do seu estilista Oskar Metsavaht, engajou-se na vertente sustentável da moda há muito tempo e um dos ícones da grife, os tênis, já foram produzidos a partir de couro de peixe e com látex natural da Amazônia, em um projeto que beneficiava 460 famílias de seringueiros. A estilista paranaense Carolina França começou a investir no conceito ecofashion há um ano e montou uma loja em Curitiba, seguindo o mesmo estilo sustentável da grife Joyful. "Trabalhamos apenas com o tingimento vegetal, com peças que iriam para o lixo, como o couro de peixe e tecidos diferenciados, como o algodão orgânico e a seda de tecelagem", revela. Somente para título de informação, Carolina expõe como é importante incentivar o pequeno agricultor a produzir o algodão sustentável, pois uma camiseta que leva 200 gramas do material, precisa de 400 mililitros de agrotóxico em sua produção agrícola.

A grife trabalha em cima de muita pesquisa e sempre agrega uma campanha com direcionamento sustentável em suas coleções. Nas peças de inverno, a Joyful incentivou o transporte ecoeficiente, com o uso das bicicletas; e na linha de produção do verão, a inspiração são os recifes de corais, em que as peças abusarão dos tons variantes do rosa, coral e laranja. A estilista fala que a iniciativa pretende chamar atenção para realidade da espécie, em que um terço dos recifes coralinos do planeta está ameaçado de extinção. Ana Cândida também é uma das representantes do ativismo ambiental na moda. Ela deixou o jornalismo um pouco de lado para dedicar-se ao Instituto Ecotece, que um centro de estudos e desenvolvimento de práticas do 'vestir consciente'. A ONG trabalha em três frentes de ação: comunicação e conhecimento, com o site, palestras, cursos, workshop e consultoria; projetos de desenvolvimento sociais, fundação do Retece, que leva a proposta do 'vestir consciente' para um grupo de mulheres na periferia de Santo André, em São Paulo; e os produtos, que são camisetas de algodão orgânico, com estampas voltadas para a sustentabilidade.

Eco matérias-primas
Algodão orgânico Produto agrícola cultivado sem agrotóxicos ou produtos químicos
Couro vegetal É extraído o látex da seringueira e aplicado sobre uma base de tecido
PET reciclado O fio têxtil é formado por detritos das garrafas PET com algodão e levado paras tecelagens ou malharias para produzir o tecido

Atualizado em 10 Abr 2012.