Guia da Semana

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O brasileiro, de forma geral, não tem a cultura de formar sua própria opinião. Na maioria das vezes, suas conclusões são tiradas por meio da mídia, opiniões de terceiros e o pior: costuma-se julgar os outros por não compartilharem dos mesmos pensamentos dos demais. Mas por que isso acontece? Parece ser um absurdo o que estou escrevendo, mas, se pararmos para analisar tal assunto, encontraremos exemplos em diversas situações do nosso cotidiano e vamos ver que isso não é tão maluco quanto parece.


Quantas vezes, inconscientemente, já não deixamos de frequentar algum restaurante, deixamos de comprar um carro, assistir um filme, viajar para determinado lugar só porque um amigo disse que não era do agrado dele? Quantas vezes não somos influenciados por propagandas que vemos na televisão, nas revistas, rádios, internet...?


Eu também, de alguma forma, me coloco nesse bolo. Por muitas vezes, já deixei de levar determinada cerveja do meu gosto para um churrasco só porque tive vergonha de ser zombado e recriminado pelas pessoas que ali estariam. Talvez porque, segundo a maioria, "dizem" que tal marca dá dor de cabeça, é aguada, ou, simplesmente, é barata.


Em cima da cerveja, temos vários cases de que isso realmente acontece. Há um tempo, tivemos uma propaganda com vários músicos conceituados que chamávamos de "Amigos". Naquela época, a cerveja em questão era uma das mais consumidas nas rodinhas de amigos. De uma hora para outra, porém, virou um produto sem muito apreço só porque alguém, em algum momento, começou a dizer que a água da fabricação não era mais a mesma, que fazia mal, etc. Um outro exemplo foi a cerveja do "Experimenta", com um garoto-propaganda respeitadíssimo nesse assunto. Mas, após ele ser contratado pela concorrente, uma empresa maior, a propaganda perdeu o seu sentido e o povo brasileiro, que antes experimentou, em um segundo momento condenou e colocou em xeque sua qualidade.


Hoje em dia, com o mundo globalizado, temos acesso a vários tipos de cerveja. Mas por que insistimos em dizer que apenas uma ou outra são de boa qualidade? Quantos de nós somos especialistas no assunto?

Tal questão que levanto aqui abrange muito mais coisas do que imaginamos. Não podemos comprar carro branco em São Paulo porque parecerá um táxi; não podemos usar certos tipos de roupas porque não condizem com o que a sociedade determina; não viajamos (ou não divulgamos) que fomos para a Praia Grande porque é lugar de povão. Não assistimos (ou não falamos que assistimos) determinado programa porque dizem que não temos cultura. Até mesmo na política somos assim. Não analisamos e votamos de acordo com os nossos ideais para o país. Preferimos escolher as mesmas opções para não sermos taxados de loucos, utópicos, dentre outros adjetivos.


Cabe fazermos uma reflexão a respeito do tema. O brasileiro, de um modo geral, prefere pensar com a cabeça dos outros, o que limita seus conhecimentos que o impedem de descobrir novos horizontes. Temos que começar a ter nossas próprias opiniões, tirar nossas próprias conclusões porque, quanto mais informações, de diferentes pontos de vista tivermos, maior o nosso crescimento. Caso contrário, ficaremos reféns de discursos prontos, notícias tendenciosas e propagandas, cujo objetivo é apenas lucrar em cima de nossa ignorância.


Quem é o colunista: André Fernandes, jornalista, pós-graduado em administração de negócios.

O que faz: Sócio-proprietário do Bar Santo Grau, em Moema (SP).

Pecado gastronômico: Viciado em sanduíche.

Melhor lugar do Mundo: Ilhas do Caribe.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Seu Jorge, Maria Gadú, MPB em geral.

Fale com ele: [email protected]








Atualizado em 6 Set 2011.