Guia da Semana

Por Ana Stella Guisso

Se uma criança chora é porque lhe falta alguma coisa ou algo está incomodando-a. Caso não esteja na hora do pequeno se alimentar, a primeira coisa que os pais fazem é colocar uma chupeta na boca dele. Provavelmente ele irá parar de chorar e essa situação voltará a se repetir por anos. Mas já parou para pensar se é saudável o uso desse artifício para acalmar o bebê?

De acordo com a professora de fonoaudiologia da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp -, Zelita Ferreira Guedes, nenhum bebê deveria receber a chupeta, pois, do ponto de vista fisiológico, não há necessidade de utilizar o objeto. "É dificílimo colocar isso na cabeça dos pais, já que o uso da chupeta está arraigado nos costumes das pessoas. Se seu filho está chorando, a mãe, a avó ou a tia vai sugerir que você dê a chupeta para a criança e, assim, começa o hábito", explica Zelita.

No entanto, uma hora a criança precisa parar de chupar chupeta, pois isso pode comprometer seu desenvolvimento, e é neste momento que os pais não sabem o que fazer para conseguir acalmar o pequeno sem o pacificador, que, aliás, é a tradução literal do nome da chupeta na língua inglesa.

Dois anos é o limite

"Cada criança tem história de vida diferente, tanto no aspecto afetivo como no orgânico e estrutural, mas o ideal é retirar a chupeta e a mamadeira até os dois anos de idade", relata a fonaudióloga do Hospital São Vicente de Paulo, Rosane Braga. Após esse período, o uso contínuo da chupeta poderá interferir na amamentação - levando ao desmame precoce -, prejudicar a oclusão dentária, comprometer o desenvolvimento dos maxilares e arcada dentária, além de afetar as funções de respiração, fala, mastigação e deglutição.

Rosane ressalta que crianças que fazem uso da chupeta até os cinco ou seis anos mostram comprometimentos em nível orgânico-estrutural e também emocional. Zelita complementa que quanto antes os pais exterminarem o hábito da chupeta, menos prejuízos as crianças terão. "Os pequenos podem perder os pontos articulatórios da fala, pois a chupeta impede o contato da língua com os lábios, os dentes e o palato. Assim, podem trocar a letra 'l' pela 'r', quando começarem a falar, sem perceber", pontua.

De acordo com a professora da Unifesp, há alguns casos raros em que o uso da chupeta é benéfico para a criança, como em portadores da Síndrome Pierre Robin - que nascem com fenda palatina, retração da língua e mandíbula bem pequena -, pois a chupeta impede que a língua desça para a garganta, trazendo-a mais para frente da boca. Outro caso em que a chupeta ganha preferência é quando a criança começa adquirir o hábito de chupar o dedo, já que é mais fácil livrar-se da chupeta do que do dedo.

Como tirar de vez

O processo de retirada da chupeta tem que ser iniciado pela mente dos pais. "Eles precisam estar convencidos de que essa é a melhor decisão para seus filhos e, depois de iniciado, não devem voltar atrás com os apelos das crianças", aconselha Roseane.

A coordenadora do Colégio Itatiaia, Cláudia Razuk, acrescenta que é comum os pais exagerarem nos argumentos e explicações para os filhos esquecerem a chupeta, mas isso mostra o quanto o pai e a mãe estão supervalorizando a situação e como estão preocupados e inseguros.

Zelita sugere que os pais comecem a desvincular as ações divertidas das crianças ao uso da chupeta. "Se estiverem brincando, não há necessidade de usar a chupeta. Deixe apenas na hora de dormir e, assim ela vai se condicionando", exemplifica.

Cinco dicas para livrar-se da chupeta

- Converse com seu filho, da maneira mais clara e tranquila possível, sobre como é preciso largar a chupeta e explique os prejuízos que ele terá com esse hábito.

- Aos poucos, vá diminuindo o tempo e o local de uso da chupeta.

- Seja muito presente na vida do seu pequeno para acompanhar esse processo com paciência e firmeza.

- Estabeleça uma troca - sem volta - da chupeta por algo que o pequeno goste ou deseje muito. Nessa hora, vale oferecer para o Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e até para o super-herói predileto.

- Parabenize a criança sempre que conseguir fazer qualquer atividade sem o uso da chupeta.

Atualizado em 10 Abr 2012.