Guia da Semana

Foto: Sxc.hu


A neurofisiologia clínica compreende um conjunto de exames que estuda aspectos funcionais do sistema nervoso. Na maior parte dos laboratórios especializados, os protocolos de monitorização foram desenvolvidos para adultos, sendo muito pouco úteis em outros pacientes, como crianças, que raramente são cooperativas e perdem o interesse com facilidade. A necessidade da elaboração de protocolos de realização de exames direcionados visa não somente o maior conforto do paciente, mas a melhora da qualidade do exame obtido.

Na década de 70, deu-se início aos procedimentos para melhorar as condições de realização dos exames direcionados às necessidades de diferentes grupos de pacientes, principalmente aos que precisam de atenções especiais, como crianças, idosos e pacientes com transtornos psiquiátricos.

A abertura de centros pediátricos e com direcionamento para o estudo de crianças com distúrbios neurológicos ou psiquiátricos levou à criação de uma enorme variedade de estratégias.

Os cuidados com os exames na faixa etária pediátrica começam com o agendamento e as orientações para a realização dos exames. O agendamento em horário flexível, com a marcação preferencial para o horário do sono da criança, caso o registro em sono seja necessário, pode determinar a menor necessidade do uso de sedativos.

As unidades pediátricas para epilepsia e sono estão em centros pediátricos ou, pelo menos, possuem equipe especializada no tratamento de crianças. Dessa forma, os primeiros passos para atender às necessidades particulares da criança vêm do treinamento adequado da equipe técnica e médica.

Recomendações específicas em relação às unidades de monitorização têm sido publicadas e há demonstrações de que pequenas alterações podem fazer enormes diferenças na qualidade do atendimento à faixa etária pediátrica. Indica-se, por exemplo, que os quartos devam ser individuais e grandes o suficiente para acomodar vários membros da família. A presença da família dá maior conforto e pode, inclusive, diminuir o número de sedações necessárias para a realização dos exames, pois, ao se sentir mais à vontade, a criança tem o sono espontâneo.

As suítes pediátricas devem oferecer ambiente agradável (decoração das paredes, brinquedos, balões etc.), ao mesmo tempo em que devem garantir completa privacidade. Nos casos em que a hospitalização é necessária, sugere-se que seja oferecida a maior quantidade de atividades possível ao paciente, através de material educacional, vídeos e brinquedos. Os pais ou responsáveis devem receber instruções detalhadas sobre os procedimentos que serão realizados. Os pais são testemunhas dos eventos clínicos que levaram à solicitação do exame e, por isso, lhes cabe uma série de responsabilidades, como: usar adequadamente os marcadores de eventos clínicos (avisando a equipe sobre a ocorrência do evento); manter a criança no campo de visão da câmera (no caso do vídeo-EEG e na polissonografia, quando os eventos clínicos são filmados para o seu diagnóstico) e retirar barreiras (como cobertores) para a filmagem. O entusiasmo dos pais em participar é importante e auxilia no processo de monitorização, embora não substitua a observação objetiva de técnicos treinados em neurofisiologia.

Estes e outros fatores ajudam a diminuir a tensão que a realização destes exames possa causar nas crianças, facilitando o relacionamento da família e do paciente com a equipe clínica e, conseqüentemente, aumentando a probabilidade da realização de um exame de boa qualidade técnica com o menor grau possível de desconforto para todos.

Os exames mais comuns da neurofisiologia clínica são:

Eletrencefalograma (EEG): avalia a atividade elétrica cerebral e pode, em alguns casos, mostrar a localização das descargas elétricas anormais, permitindo ao médico o diagnóstico e a escolha da melhor terapêutica medicamentosa.

Vídeo-eletrencefalograma (Vídeo-EEG): monitorização de EEG concomitante ao registro da imagem por uma câmera com um circuito de televisão, recurso que permite a gravação de uma crise e sua repercussão no traçado do EEG. Este procedimento pode ser realizado durante um dia ou durante internação mais prolongada, em média de 3 a 5 dias. Tem como indicação principal o diagnóstico diferencial de epilepsia.

Monitorização contínua com EEG: analisa a atividade elétrica cerebral espontânea através do registro contínuo do eletrencefalograma, utilizado predominantemente com o paciente internado, para determinar a presença de crises epilépticas que possam não ter manifestação clínica.

Polissonografia: registro simultâneo de algumas variáveis fisiológicas durante o sono, indicado para distúrbios do sono como insônias, sonolência excessiva, distúrbios respiratórios sono-dependentes (apnéias do sono) e comportamentos anormais durante o sono.

Poligrafia Neonatal: realizado em recém-nascidos, prematuros ou de termo, analisa os aspectos comportamentais, permitindo a avaliação simultânea do eletrencefalograma, do eletrocardiograma, dos padrões respiratórios e dos movimentos oculares. É indicado na suspeita de crises neonatais, na avaliação da maturidade cerebral, anóxia, apnéia, entre outros.


Quem é a colunista: Doutora Kette Dualibi Ramos Valente é neuropediatra e uma das principais pesquisadoras da neurofisiologia no Brasil.
O que faz: É coordenadora do Laboratório de Neurofisiologia do Hospital São Luiz.
Pecado gastronômico: Culinária francesa.
Melhor lugar do Brasil: minha casa
Fale com ela: : [email protected]

Atualizado em 10 Abr 2012.