Guia da Semana



Sempre fui filha única. Só soube o que era ser irmã aos 14 anos, quando meu pai teve uma filha em outro casamento. Lembro de que, no começo, era estranho pensar em ter uma irmã, ainda mais porque eu já tinha crescido sozinha e ela não era filha da minha mãe, nem nunca moraria comigo. Confesso que por alguns anos, a estranheza continuou, mas de uns tempos para cá a coisa mudou de figura. Nos últimos meses tenho, finalmente, me sentido uma irmã.

Eu sei, eu sei. Ter irmãos significa dividir a atenção dos pais (só do pai, no meu caso) e as crianças podem ser chatinhas e bastante irritantes, mas há alguns dias eu reconheci nos olhinhos da minha irmã de nove anos o amor que existe entre nós. Agora que ela está mais crescida, menos birrenta e mais esperta, conseguimos conversar, passear, dar risada juntas. Ela me abraça forte do nada, me liga numa tarde de domingo para tomarmos um sorvete e diz "aaah..." quando falo que vou embora. É engraçado pensar como esse ser faz tão parte de mim.

Todo mundo já tinha me falado que irmão, acima de amigos e outros parentes, é aquele que, de fato, estará sempre ao seu lado. Já vi muitos brigarem, se desentenderem demais e estabelecerem relações nada saudáveis, ainda mais quando são filhos de casamentos diferentes. Os amigos nós escolhemos por afinidade, mas, e os irmãos? Esses são como são, e temos que aceitá-los e amá-los acima de qualquer divergência. Aguentar a irmãzinha chorando, puxando o seu cabelo, mexendo nas suas coisas e dizendo para os seus pais que a culpa é toda sua, não é nada agradável. Ainda mais quando somos adolescentes e menos tolerantes.

Também passei por essa fase com a minha e, por um bom tempo, não conseguia imaginar o que era o tão grande e avassalador amor de irmão. Mas há alguns meses, nosso pai e a mãe dela, que são separados, começaram a ter alguns desentendimentos mais sérios e recebi uma ligação chorosa às três da tarde no trabalho. Aquilo me partiu o coração. Fiquei desesperada e depois de uma hora estava na casa da irmãzinha que ainda chorava e falava como um adulto sobre suas tristezas e dilemas.

Senti ali que éramos irmãs. E tive um prelúdio de tudo o que compartilharíamos na vida, dos momentos em que nos ajudaríamos, das conversas que teríamos. Percebi que essa relação seria construída ao longo dos anos, com muito amor e paciência, para que pudéssemos estar sempre uma ao lado da outra. Agora vamos enfrentar o nosso mais novo e grande desafio juntas: o terceiro filho do meu pai, que está a caminho. Mas tenho certeza de que seremos ótimas irmãs mais velhas para o(a) caçulinha.

Leia as colunas anteriores de Fernanda Carpegiani:

Amizade Colorida

Minha galera

Não será o último

Quem é o colunista: Fernanda Carpegiani - Uma jovem cheia de energia, que aproveita a vida de uma forma intensa e particular.

O que faz: Jornalista apaixonada.

Pecado gastronômico: Batata frita.

Melhor lugar do Brasil: Ubatuba - São Paulo.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.