Guia da Semana

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Linguagem é cultura. É por meio dela que significamos o mundo e por ele somos significados. A escuta e a fala da língua materna são os primeiros recursos que usamos para nos conectarmos aos costumes e às práticas sociais. Aprender uma língua não é somente aprender a decodificar palavras, mas, principalmente, compreender seus sentidos culturais que interpretam e representam a realidade. Como já bem disse Caetano Veloso na canção Língua: "A língua é nossa pátria".

Desde que nascemos, a linguagem é o canal de comunicação que nos aproxima de nossas mães, pais e das práticas culturais de nosso meio social. Portanto, é um recurso que deve ser usado sempre, desde a chegada do bebê. Cantar, contar histórias, brincar e conversar são recursos culturais fundamentais para estimular o gradual processo de aquisição da linguagem oral. Momentos de afeto, como a troca de fralda, a amamentação, o banho ou o fazer dormir, são especiais para usar esses recursos e fomentar a oralidade. Os bebês estabelecem interações importantes que serão utilizadas na aprendizagem da fala, que se dá por um processo gradativo de idas e vindas.

A aprendizagem da fala ocorre, principalmente, por meio da apropriação da fala do outro, apropriação entendida como escuta, como se entregar ao outro pela língua. Além dos recursos citados anteriormente, falar com seu filho em diversas situações cotidianas é fundamental para que ele se aproxime da linguagem oral e comece a dar seus primeiros passos e tropeções na fala. Mas é necessário ficarmos atentos quando nos comunicamos com as crianças. A imitação é um instrumento utilizado por elas no processo de aprendizagem. Aprendem imitando os adultos, outras crianças, imitando situações, reproduzindo histórias, brincadeiras, músicas, interagindo com o mundo...

De maneira geral, muitos adultos acreditam que, falando com seus filhos da forma parecida com a que eles falam (levemos em conta que o adulto imita os estereótipos da fala infantil), estarão ajudando a compreender melhor o que querem dizer ou se aproximando deles. Engano. Os adultos são responsáveis por fornecer modelos de oralidade correta para as crianças e infantilizar a fala ao conversar com os filhos pode fazer com que considerem esse jeito de falar como o certo. Não se esforcem em constituir um repertório para ampliar e melhorar a capacidade oral. Não é necessário corrigir a fala da criança nas suas tentativas de se expressar. Apenas converse com ela de forma correta.

Os familiares também tendem a criar expectativas em relação à aprendizagem da fala dos pequenos: "Será que está demorando muito para falar?"; "Ele(a) fala tão pouco..."; "Quando estará falando tudo?". Calma! Cada criança tem um tempo, um ritmo para aprender a falar. Por volta dos quatro meses, ela pode estabelecer situações de comunicação por meio da emissão de sons. Pode balbuciar quando encontra alguém, quando quer demonstrar sua felicidade, ao encontrar o pai ou a mãe. São esforços que revelam a tentativa de se comunicar com outras pessoas. Fomente, signifique, traduza e responda. Isso é importante não só para estimular a fala, mas, principalmente, para demonstrar afeto e interesse pelos sentimentos e desejos da criança. Depois, com 1 ano, ela pode selecionar os sons que lhe são dirigidos, esforçar-se em descobrir o sentido desses sons e usá-los em contextos adequados. A partir desse momento, passa a construir a capacidade de falar, de maneira gradativa e não linear.

É importante dizer também que, muito antes de adquirirem a linguagem oral, as crianças se fazem entender e entendem os outros. A construção da linguagem oral é um processo que caminha junto com a ampliação e o desenvolvimento da linguagem corporal. A criança pequena se comunica muito (muitas vezes, até mais) com o corpo, com gestos, sinais... A linguagem corporal é fundamental para significar, apoiar e ampliar a linguagem oral.

Mesmo que demore um pouco mais para falar do que outros amigos da escola ou outras crianças conhecidas, isso não constitui problema, desde que percebamos que ela está se fazendo entender e entendendo o que lhe estão dizendo, por meio do corpo, dos gestos, de expressões faciais e outros sinais corporais possíveis.

Cantem juntos, brinquem juntos, leiam diversos livros, ouçam muitas músicas, contem histórias um para o outro, conversem sobre sentimentos, vontades, desejos... Fomentar a oralidade é também ampliar o repertório cultural, estreitar o vínculo afetivo entre familiares e filhos e vivenciar diversos momentos agradáveis com seus pequenos.

Isso é transformar a fala em comunicação, afeto, cultura e crescimento!

Quem é a colunista: Júlia Souto Guimarães Araújo.

O que faz: pedagoga e coordenadora pedagógica da Escola Estilo de Aprender.

Melhor lugar do mundo: Qualquer lugar é o melhor lugar do mundo quando se está acompanhado de pessoas queridas!

Pecado gastronômico: chocolate.

Fale com ela: julia @estilodeaprender.com.br

Atualizado em 1 Dez 2011.