Guia da Semana

Os desafios de um personagem de RPG
Foto: espacorpg.com.br

Se quando ouve a sigla RPG a primeira coisa que vem à sua cabeça são as sessões de Reeducação Postural Global da sua irmã mais velha, você precisa ter mais imaginação. Aliás, esse é o ingrediente principal do Role Playing Game - jogo de interpretação de papéis, que une alguns conceitos de teatro com regras e estratégias de uma disputa.

Para jogar, você precisa de uma história, chamada de aventura, que pode acontecer em qualquer cenário, desde a época medieval, com seus cavaleiros e tesouros, até os dias atuais, com vampiros que precisam abandonar a família e a profissão. Existem vários sistemas de RPG que definem, em livros, as regras que vão guiar o desenvolvimento da história e a construção dos personagens.

Sistemas
Os principais sistemas são o d20, com aventuras medievais; o Daemon, em que o tema principal são heróis; o Storyteller, com histórias atuais que usam vampiros, lobisomens e magos; o Gurps, que se baseia em fatos históricos, como o descobrimento do Brasil; e o 3D&T, com aventuras japonesas.

Daniel e o chapéu de mago
A aventura é apresentada aos jogadores pelo narrador, também chamado de mestre, que define as situações, os desafios e outros detalhes. Para conduzir bem a história, ele precisa conhecer detalhadamente as regras e ser criativo: "Quando o narrador só fica falando e falando, não tem graça. Ele pode distribuir material aos jogadores: fotos, mostrar vídeos, dar pistas para ficar mais interessante", conta o rpgista Daniel Lopes, 17 anos.

Características dos personagens, como força e inteligência, são definidas antes do jogo começar e o sucesso ou fracasso de suas ações durante a aventura depende dos pontos tirados nos dados ou nas cartas. Atualmente, a maioria dos sistemas usa dados. Existem dados de quatro até 100 lados.

Incremente seu jogo:
? Crie uma linguagem especial: use palavras ficcionais ou estrangeiras.
? Use e abuse da música: pode ser o tema de um personagem, mudar o volume em situações de perigo ou calmaria, etc.
? Se for o mestre, ornamente a narrativa. Para isso, leitura é essencial. Mas não exagere, sua fala pode ficar cansativa.
? Coloque enigmas na história, faça os jogadores pensarem. Um romance também pode dar novo fôlego à aventura.

Tipos de RPG
O RPG mais praticado é o de mesa que pode ser jogado na casa de um dos participantes, em eventos ou até mesmo em praças públicas. Para que o narrador conduza bem a história, é melhor que o número de jogadores seja pequeno, em torno de cinco ou seis pessoas. As aventuras podem durar apenas um dia ou vários meses: "Já participei de uma aventura que durou seis meses. Nas férias, nós jogávamos todos os dias, quando começaram as aulas, era todo fim de semana", conta Daniel.

Dados de rpg
Já o RPG Live Actions, em português "Ações ao Vivo", abusa da interpretação teatral e não se prende tanto às regras. Esta modalidade é praticada em lugares mais reservados, de preferência que tenham a ver com o cenário da aventura, e os jogadores se fantasiam e usam acessórios que incrementam o jogo. O número participantes é maior e pode haver mais de um narrador. Para agilizar a ação, os dados podem ser substituídos por cartas ou pela brincadeira "pedra, papel, tesoura". Para evitar que alguém se machuque durante lutas e duelos, é proibido se tocar.

RPGs eletrônicos se tornam cada vez mais populares pela dificuldade que há em conciliar o horários de todos os participantes. Entretanto, a interpretação fica muito limitada, por isso alguns jogadores radicais se recusam a reconhecê-lo como RPG. Os jogos online, que conectam pessoas de todas as partes do mundo pela internet, permitem que vários personagens coexistam. É o MMORPG - Massive Multiplayer Online Role Playing Game.

Algumas aventuras de RPG se tornaram bem conhecidas graças ao cinema e à animação. É o caso de O Senhor dos Anéis, Pokemon e As Crônicas de Nárnia. Mas o RPG também dá o que falar por causa do excesso de alguns jogadores. Em 2005, um jovem e seus pais foram assassinados por outros dois adolescentes que não souberam separar a diversão da realidade.

Os 10 mandamentos do jogador
? Cooperarás com o narrador
? Confiarás no trabalho em equipe
? Pensarás antes de agir
? Explorarás tudo
? Assumirás teu personagem
? Dividirás seus achados
? Agirás como herói
? Não ficarás com raiva
? Praticarás, assim conduzirás à perfeição
? Divertirás acima de tudo

A psicóloga Maria Laura Gomes explica que, além de aprender a conviver em grupo, o RPG traz outros benefícios: "A pessoa se projeta no personagem e extrai lições de vida do jogo, que acaba aplicando também na vida real. O RPG é uma maneira de se expressar, ele oferece a possibilidade de conseguir com o personagem o que não é possível na vida real, mas como em todas as coisas, deve-se tomar cuidado com o excesso. É importante ter os pés no chão e não querer viver apenas num mundo imaginário", alerta.

Coisa do demônio x coisa de nerd
Ainda hoje, muitas pessoas vêem o RPG com maus olhos, principalmente por causa da influência de igrejas que consideram a brincadeira uma prática satânica. Isso acontece porque muitas aventuras citam bruxas e entidades ocultas, o que despertaria o interesse dos jogadores sobre essas forças "malignas".

Por outro lado, há quem ache que RPG é coisa de nerd: "É porque a maioria das pessoas começa a jogar na escola, então todo mundo pensa que quem joga RPG é aquele cara estudioso", opina Daniel, que joga desde os 11 anos. A verdade é que para jogar RPG não tem idade, basta ter muita imaginação.

Para começar
Quem nunca jogou e quer se aventurar, pode começar pelos jogos eletrônicos. Os mais famosos são Ragnarok, World of Warcraft e Fly For Fun. A maioria dos rpgistas teve o primeiro contato com o jogo através de livros com aventuras solo. Na internet, há sites com várias opções. Confira alguns: Members Aventura Solo e Mad Dice.

Atualizado em 6 Set 2011.