Guia da Semana

Por Ana Stella Guisso

É quase impossível ver uma criança brincando com seu cachorrinho e não se maravilhar com a cena. O desenvolvimento da personalidade dos pequenos só tende a progredir a partir do contato com os bichos. É o que comprova um estudo realizado pelo Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo, feito em parceria com a Comissão de Animais de Companhia (Comac), que fala sobre os benefícios dos pets à saúde dos donos.

De acordo com a pesquisa, os benefícios são visíveis na melhora de imunidade de crianças e adultos, na redução dos níveis de estresse e na incidência de doenças comuns, como dor de cabeça ou resfriado. No entanto, não é exclusivamente de benefícios que se dá a relação crianças e animais de estimação. É preciso ter algumas cautelas para que essa amizade aconteça da maneira mais saudável possível.

Idade indicada

Ter um animal de estimação em casa não pode ser encarado apenas como uma brincadeira, pois a criança precisa entender que um pet requer muita responsabilidade. "Eu sugiro que a criança passe a ter um animal de estimação em casa a partir do quinto ano de vida, pois é quando ela possui uma noção maior de higiene e pode respeitar mais o animal", informa o coordenador do serviço de pediatria do Hospital Balbino, do Rio de Janeiro, Antonio Carlos Turner.

O veterinário Marcelo Quinzani também sugere que os pequenos ganhem seus bichos por volta dos cinco anos de idade, pois é quando eles passam a entender as limitações dos animais e respeitar suas diferenças. "Na verdade, a idade indicada depende do animal de estimação. Porém, todos precisarão da supervisão de um adulto em relação à alimentação, aos cuidados de manuseio, aos passeios e aos gastos", indica.

No entanto, se o casal já possuía um animal de estimação - como cães ou gatos - quando o bebê chega, o jeito é conseguir conciliar a convivência do bichinho com os demais membros da família. "O animal, às vezes, fica enciumado com o contato com a nova criança da casa, pegando seu espaço e sua atenção, e ele pode se tornar agressivo", comenta Turner.

Animais certos

De acordo com Quinzani, é mais indicado que as crianças adquiram, primeiramente, animais que requerem cuidados menos intensos, como peixe, hamster ou outro roedor que viva em gaiolas e não tenha contato direto com o pequeno. A partir dos quatro ou cinco anos, e com o contato com esses animais, a criança vai começar a entender que eles são frágeis, se alimentam e precisam de atenção.

Gato e cachorro são mais recomendados quando o pequeno já está entre os oito ou dez anos, pois sua responsabilidade passa a ser ainda maior. Além de que, esses bichos precisam de maiores cuidados, como passeios, banhos, idas ao veterinário, e possuem alimentação ainda mais rigorosa. "O garoto ou a garota já sabe como lidar e tocar no animal sem machucá-lo, sem ser mordido ou arranhado, visto que são movimentos de defesa desses animais e que podem acontecer", informa o veterinário do Hotel Fazenda para Cães, Clube de Cãompo.

Se quiser ter mais garantias de sucesso dessa relação, a família também pode optar por raças mais indicadas para o convívio com os pequenos. Persa e Maine Coon são as raças mais indicadas para os gatos. Já quando o assunto são os cães, as progênies sugeridas são as de pequeno porte e mais dóceis, como Wippets, Pugs, Bichon Frisse, SRD e Maltes. Mas, mesmo entre as raças tranquilas, pode existir animais mais agressivos - por isso é muito importante observar o temperamento dos pais e também dos animais quando filhotes.

Benefícios dessa relação

Fora a contribuição com o amadurecimento, o entrosamento com os pets faz as crianças consolidarem seu senso de respeito aos mais frágeis e aos diferentes. Segundo Quinzani, essas virtudes acabam sendo assimiladas nos relacionamentos com os coleguinhas e as pessoas que fazem parte do seu círculo.

O pediatra do Hospital Balbino revela que o principal benefício desse contato para a criança é que ela vai desenvolvendo noções de responsabilidade, sem falar no amor que ela desenvolve pelo bichinho. Ele completa que os pequenos costumam apenas receber ordens, e a única maneira de eles conseguirem mandar é com seu animalzinho.

Cautelas necessárias

Para uma convivência saudável, os pais precisam ensinar aos filhos cuidados básicos de higiene para manejar a saliva , urina e fezes de maneira adequada. "A não ser que o animal não esteja doente ou com algum parasita, essas tarefas não oferecem grandes perigos a nossa saúde", revela o médico veterinário do Clude de Cãompo.

Para garantir a saúde dos bichinhos - e das crianças - os pets devem sempre estar vacinados e vermifugados, de acordo com as orientações de um veterinário, e fazer pelo menos duas visitas por ano ao consultório. Já algumas aves doentes podem transmitir doenças respiratórias. Os roedores estão suscetíveis a morder quando se assustam e os gatos a arranhar se são mal conduzidos ou colocados sob situação de estresse. As raças de cães de grande porte ou mais agressivas jamais devem ser oferecidas como animais de estimação para crianças.

Para essa história de amizade ter um desenvolvimento feliz para os dois lados, pais e crianças precisam ter consciência de que os animais de estimação não são brinquedos. Eles exigem dedicação, cuidados e carinho. Porém, se os pais ficarem atentos na supervisão e ensinarem os pequenos a cuidarem de maneira cautelosa e com respeito, a amizade entre o bichinho de estimação e a criança tende a ser uma grande lição de vida.

Por Ana Stella Guisso

Atualizado em 1 Dez 2011.