Guia da Semana


Fotos: Gabriel Oliveira




Na última segunda-feira, a Avenida Paulista parou. A causa não era o trânsito, muito menos uma prévia de Carnaval, apesar do som da bateria que tocava ao fundo. Pessoas pintadas da cabeça aos pés corriam em todas as direções, em busca de um trocado para dar aos seus "chefes". Era desse modo, que no clima de bagunça e da brincadeira do "mestre mandou", que os veteranos da Cásper Líbero, tradicional faculdade de São Paulo davam as boas vindas aos calouros de 2009.

Hora da festa

Para os novos universitários, os trotes que acontecem nas primeiras semanas de aula são considerados um rito de passagem e uma forma de aliviar o estresse pós-vestibular. "É uma comemoração de uma nova etapa da vida, para relaxar e esquecer todas as horas de estudo. Rola uma integração com todo o pessoal da faculdade", justifica Gabriela de Oliveira, estudante do segundo ano de jornalismo, que comandava um grupo de bixos pela calçada movimentada.

Abusivo ou não, o clima era de festa no trote da Cásper. Até os supostamente torturados pelos carrascos aprovavam as brincadeiras. "Conhecer as pessoas durante esse momento é muito divertido. Não estou nem um pouco incomodada de terem me pintado toda, na verdade eu acho justíssimo. A gente ralou muito para chegar aqui, agora temos mais é que comemorar", brinca Natalia Aparecida Henrique, de 19 anos, bixete de Gabriela.

Barra Pesada

Fotos: Gabriel Oliveira


Mas apesar de ser visto com bons olhos por grande parte dos estudantes, os trotes e calouradas já renderam diversas manchetes nas páginas policiais, além de muita dor de cabeça, tanto para os alunos, como para os pais. No início de fevereiro, em Leme (interior paulista), o estudante de veterinária Bruno Ferreira teve que ser hospitalizado, após ter ingerido grande quantidade de álcool e ser agredido por chicote. Outro caso emblemático foi o do calouro de medicina Edison Tsung Chi Hsueh, que morreu afogado durante o trote na piscina da USP, há 10 anos.

Após tantos casos de final trágico, alguns veteranos passaram a tentar maneirar na brincadeira, como é o caso de Alexandre Facciola, estudante do terceiro ano de comunicação. "Eu pego leve, quando vejo que o bixo está muito assustado, falo que é uma brincadeira, depois a gente pinta, corta o cabelo, vou com calma", diz.

Mas mesmo assim, sempre existem aqueles que fazem questão de judiar dos recém-chegados. Felipe Arrojo, de 18 anos, sentiu isso na pele na última segunda. "É horrível. As pessoas pegam pesado mesmo, parece que funciona assim. Estou com cola até no pescoço, tentei fugir, mas já era tarde demais", reclama. Mas mesmo incomodado, o Felipe observa um limite nas brincadeiras. "Apesar dos gritos e buzinas achei que ainda rola um tipo de respeito, pedi não ingerir nenhum tipo de bebida alcoólica. Eles levaram na boa e não me forçaram a nada", completa.

O outro lado

Fotos: Gabriel Oliveira



Seja em trotes mais pesados ou leves, uma alternativa para as brincadeiras da primeira semana de aula têm sido as ações solidárias. Doação de sangue, cestas básicas e trabalho comunitários também fazem parte de ações parecidas. Foi o que aconteceu este ano no Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo, que promoveu palestras sobre a importância da profissão escolhida. Em outros lugares, como na Faculdade Rio Branco, a tradição do pedágio é mantida, mas em vez do bar, o dinheiro arrecadado vai para instituições de caridade. "A gente pinta os calouros, faz a mesma integração que qualquer outra faculdade. Mas o dinheiro arrecadado vai para instituições parceiras", explica Renata Martins, estudante de Relação Internacionais.

Sem dúvidas, uma boa maneira de não ficar de fora da festa, seguir as tradições universitárias e ainda contribuir com algo legal para a sociedade. Mas seja como for, se você não quiser pintar a cara e raspar o cabelo, é melhor só aparecer na segunda qunizena de aula...


Atualizado em 6 Set 2011.