Guia da Semana



Cresci ouvindo minha mãe dizer que os jovens podem ser muito cruéis. Mas foi apenas há duas semanas que constatei o quão verdadeira essa sentença - infelizmente - pode ser.

Antes de mais nada, quero esclarecer que estamos falando de um dos colégios mais bem-conceituados da cidade de São Paulo, cujos ensinamentos são baseados nos preceitos católicos, com mensalidade equivalente ao que uma boa parte da população não recebe em três meses. Estamos falando de garotos e garotas que saíram da classe média-alta em diante.

No começo deste ano, um garoto entrou na sala do meu irmão. Nunca é fácil ser o garoto novo na escola e tudo pode ficar muito mais complicado quando seus pais estão passando por uma separação conflituosa, com conflitos pela guarda dos filhos. Piora muito mais a situação se, às vezes, você sucumbe à pressão e chora no meio da sala de aula.

Acrescente a isso um colégio onde todos os intervalos os alunos passam jogando futebol e esse não ser é o seu esporte favorito. Além disso, o seu cabelo é um pouco mais comprido do que o usual. É óbvio que se chega a uma conclusão lógica (ou pelo menos assim pensam crianças de nove anos): você é homossexual. E é claro que não estou usando o termo utilizado pelos garotos.

Quando um grupo consideravelmente grande de alunos resolve não gostar de você, qualquer coisa vira motivo para implicância - no caso dele, somou-se o fato de ser judeu. O pobre garoto era hostilizado simplesmente porque era diferente, porque correr atrás de uma bola não era seu hobby favorito, porque demonstrava seu sofrimento em público e porque seguia uma religião diferente dos demais.

É desnecessário informar que o aluno largou a escola, um dos únicos locais onde via a irmã. O que, aliás, era um dos motivos porque sua mãe desejava tanto que ele continuasse lá - e principalmente a razão pela qual ela desabou num choro histérico no corredor, no meio dos alunos. Essa parte foi relatada pelo meu irmão, que assistiu a essa cena.

Meu irmão, por falar nisso, foi descoberto, muito recentemente, como membro de uma "gangue". Ele tem nove anos de idade e, para se defender do bullying que sofrem aqueles que não gostam de jogar futebol, uniu-se com alguns elementos de sua sala e formaram a temível Gangue Tomba-Lata.

Não sei se esse é, de fato, o nome que eles designaram, mas encaixa com perfeição, uma vez que o rito de iniciação desta resume-se a falar palavrões na frente da professora, abaixar a calça dos colegas e derrubar latas de lixo. Seria engraçado, se não fosse este apenas a ponta de um gigantesco iceberg, cujo fundo envolve crianças e uma intolerância digna de tempos de guerra.

Realmente, os jovens podem ser cruéis.

Leia as colunas anteriores de Gisele Zwcker:

Nem tudo está no currículo

Até que ponto é comoção?

Ema, ema, ema

Quem é a colunista: Gisele Zwicker. Para ela, um fim de semana perfeito envolve um bom livro, um bom filme e uma ida ao teatro.

O que faz: Estudante.

Pecado gastronômico: Filé de frango com arroz.

Melhor lugar do Brasil: São Paulo, Capital. Não há lugar melhor que o lar.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.