Guia da Semana

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Você teria coragem de se tornar um servo de Deus como o jogador Kaká, do Milan, que declarou à imprensa que, quando parar de jogar futebol, se tornará pastor? Pois é, muitos jovens no Brasil optam por esta escolha e cedo largam as festas, as pegações e as noitadas para se dedicarem inteiramente a Deus.

É claro que as igrejas são diferentes, mas a rotina e a "vocação" são as mesmas. Segundo o Padre José Aguirre, 71 anos e 47 de sacerdócio, "Deus chama, mas tem que ter muita força e principalmente vocação, pois hoje vivemos em um mundo muito materialista, em que os valores foram invertidos".

Mas o que seria esta tal vocação? Como uma pessoa tão jovem sente a necessidade de seguir a Jesus desta forma única? E a rotina, se transforma? Perante seus amigos e familiares você terá que mudar suas atitudes? E a pergunta que não quer calar, rola conflito ou até preconceito em cima destas pessoas que seguem esta estrada muitas vezes deixada de lado?

Vamos começar definindo o que é esta tal de vocação. Segundo o dicionário Aurélio este termo significa "escolha, predestinação, talento ou aptidão". "É Jesus quem toca o coração e chama as pessoas para seu reino. Hoje dou graças a Ele, porque muitos jovens estão ouvindo seu chamado e descobrindo seu verdadeiro talento", comenta o Pastor Luis Henrique Amando Gonçalves, de 37 anos, que guia uma unidade da Igreja Bola de Neve há quatro.

O adolescente que sente este chamado que o pastor Gonçalves tanto ressalta, tem que ter muita fé e cuidado, porque o início na caminhada na igreja é muito delicado, gera insegurança e muitas perguntas. "Acredito que quem decide seguir rumo ao sacerdócio, nunca o faz totalmente seguro de si, no começo há questionamentos e dúvidas, mas tudo é pensado e amadurecido nos dez anos de estudo. Toda a opção supõe uma renúncia, mas é uma escolha livre, com todas as suas responsabilidades", destaca o Padre Paulo Afonso da Silva, 40 anos e 12 de sacerdócio.

O início

Os padres e pastores jovens que entram no seminário optam por este caminho ainda na adolescência e quase 100% deles foram criados dentro de uma religião. Apenas o Padre George Fernandes, 31 anos, começou a freqüentar a igreja mais tarde, com 16, mas já com 19 sentiu a necessidade de se tornar sacerdote. "Fiquei entusiasmado pelo poder de Deus, com os escritos bíblicos que se tornavam reais e perceptíveis. Uma transformação começou a ser realizada em meu coração e o único caminho de estar mais próximo de tudo isso era me tornando padre", afirma.

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Pastor Felipe Martines de Oliveira da Igreja Bola de Neve


Já a trajetória de vida do Padre Ariel Alberto Zottola, 29, foi bem diferente. Ele foi criado dentro do catolicismo e com 15 anos decidiu que se tornaria padre para melhorar a vida das pessoas, tanto que, saiu de sua terra natal, a Argentina, e está há quatro anos e meio no Brasil como sacerdote. "Tenho prazer como padre em poder ajudar os outros, mas meu desejo maior é de alguma forma mudar este mundo e foi no seminário que encontrei este caminho", comenta.

A história dos evangélicos não é diferente. O Pastor Felipe Martines de Oliveira, 30 anos, foi convertido para Igreja Bola de Neve com 21 e a partir deste momento achou mais prudente deixar sua vida nas mãos de Deus. "Com o passar dos anos, vi que era mais seguro viver na dependência de Deus do que na dos homens". A mesma reação aconteceu com o Pastor Felipe Lopes Correa, 23, que lidera o grupo de jovens na Igreja Renascer em Cristo, ele percebeu que ´mergulhar de cabeça´ nos ensinamentos de Deus era mais vantajoso, pois Nele encontrou o que nunca tinha visto na bebida, prostituição e drogas.

Nova Vida

Hoje, para o jovem ser um religioso ele pode, ainda, enfrentar alguns conflitos e até preconceitos como o Pastor Felipe de Oliveira que precisou explicar nos detalhes para sua família e amigos que se tornaria pastor, muitos deles não aceitavam e não entendiam como um garoto que estudou tantos anos e estava em um momento excelente em sua profissão largaria tudo para seguir os ensinamentos de Deus. Já Padre Fernandes, quando comunicou à mãe da sua decisão ela ficou um mês sem falar com ele e ainda emendou a frase: "Eu quero netos".

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A rotina destes fervorosos na fé muda completamente, Fernandes afirma que seu dia-a-dia não tem uma programação pré-definida, antes, por exemplo, ele sabia a hora de levantar e o que o emprego exigia dele, já hoje, apenas espera o que Deus tem reservado para aquele dia. "Padre é uma condição existencial", diz. Já a rotina do Pastor Felipe de Oliveira é repleta de estudo bíblico e contato direto com os membros da igreja, ações que quando não era pastor, ficavam limitadas aos fins de semana.

Em relação ao modo de vida de um padre ou pastor perante a qualquer outro jovem, as três denominações concordam e vão direto ao assunto: O que muda é que tanto o padre e o pastor ganham novas responsabilidades e suas atitudes precisam ser condizentes a essa nova realidade. "A vida religiosa possui seus deveres e direitos", afirma o Padre Fernandes, e o Pastor Felipe Correa encerra: "Eu jogo bola e passeio, mas sempre cumpro com as responsabilidades e atitudes que assumi em minha nova vida".

Ponto de vista médico

A adolescência é um período instável e é justamente nesta época que muitos jovens escolhem em seguir a vida religiosa. Para a psicóloga Beatriz Guimarães Otero esta opção implica alguns pontos, pois na puberdade o jovem é repleto de conflitos, dúvidas e muitos estão em busca de um sentido para vida e acabam encontrando na igreja uma forma de mudar o mundo. "O jovem é cheio de idéias e projetos e quer sempre lutar por uma sociedade mais justa, por isso que muitos deles optam por seguir a religiosidade", afirma.

E realmente isto foi constatado! Os padres e pastores disseram que têm esta esperança e vontade de fazer este mundo melhor, como destaca o Padre Fernandes: "Todo o jovem possui um desejo muito grande pelo novo e de transformar o que é ultrapassado. É cheio de sonhos e projetos, de melhorar o que se vê", diz.

Mas Beatriz ainda afirma que um jovem padre ou pastor recebe uma carga de responsabilidade psicológica muito grande e que o ideal é que estes religiosos tenham outra pessoa em quem eles podem confiar para conversar e até desabafar.

Atualizado em 6 Set 2011.