Guia da Semana

Foto: Stck.Xchng

A faculdade é uma fase de transição maravilhosa, a melhor época das nossas vidas. Meu pai dizia isso desde que eu estava no primário. E olha que ele fez medicina, portanto de faculdade ele entende. Entretanto, não segui a carreira de meu pai. Decidi ser jornalista porque, aos 17 anos, tinha razoável gosto por leitura e imenso gosto por futebol. Além de desgosto por números, química, física e qualquer coisa do gênero. Hoje, aos 21 anos, estou encerrando esse ciclo e vou contar um pouco da minha enorme experiência.

A faculdade nunca deixa de ser uma escolinha para os que se acham mais desenvolvidos. Todo mundo fala na aula, ninguém respeita os professores que não impõem respeito, muitas aulas chatas (inclusive você dorme em muitas delas). Você sempre teve a impressão de que existiam no colégio muitas aulas que para nada servem (para que eu tenho de aprender Fórmula de Bhaskara se não vou seguir matemática?). Mas, pasmem, na faculdade também existem aulas que não servem para nada! No jornalismo, é quase unanimidade a "metodologia" de alguma coisa. Hoje já esqueci até do nome da matéria. A disciplina mesmo acho que nunca aprendi.

Como no colégio, as melhores lembranças que ficam são os seus nobres colegas. Você faz amigos, inimigos, conhece gente interessante que vai encontrar no futuro nas redações ou assessorias a fora, mas também conhece aqueles que nunca trabalharão em jornalismo e já têm outra faculdade "engatada" após terminar a primeira. Sem contar aqueles da sua sala que você simplesmente desconhece, nunca falou e nunca vai falar.

A faculdade começa e as panelas são criadas. A questão de afinidade para as amizades importa 20%. Os outros 80% dependem mais de com quem você sentou mais perto ou conversou mais nos primeiros dois meses de aula. A afinidade é definida depois, quando os incomodados do grupo simplesmente se mudam.

Quando o estudante de jornalismo tem uma noção mais exata das áreas de atuação que quer entrar, as vaidades começam. Você passa a achar que é jornalista e não suporta mais os seus agora "colegas de profissão" mais experientes, que escrevem no jornal. A crítica, mesmo superficial, deixa o ego do futuro jornalista lá no alto, como se estivesse desenvolvendo seu espírito crítico.

Quem quer ir para a área esportiva, critica as notas dos jogadores de futebol e os textos do jornal falando que isso não é jornalismo imparcial. Quem quer a área cultural, critica as críticas de cinema dos jornalistas. Os futuros assessores de imprensa criticam os releases dos assessores de hoje. Quem quer economia (ou acha que quer economia) critica os poucos jornalistas de economia que falam para os leigos entenderem. Quem quer política, bem... Esse merece uma análise a parte.

Aquele que quer política é a figura mais bem acabada do estereótipo que fazem de um jornalista. Com visões esquerdistas, eles querem mudar o mundo. São verdadeiras viúvas de Marx. Criticam tudo e todos, lêem Carta Capital, Caros Amigos (ou fingem que lêem) dizendo que aquilo é imparcial, independente. Ainda não se deram conta que todos gostam de parcialidade jornalística, desde que a visão do autor lhe convenha.

E essas mesmas pessoas se juntam aos de bêbados e drogados caídos pelos bares, achando que são jornalistas engajados, revolucionários. E é desse tipo de bêbado e/ou drogado que eu tenho mais pena. Eles devem achar o jornalista um artista. E como os maiores mitos revolucionários não tiveram o que conhecemos exatamente por uma vida sã, acho que eles associam. Só pode ser isso...

Mas essa raça, que votou no Lula antes e depois do Mensalão (alguns migraram para o PSTU), é minoritária. A maioria dos estudantes de jornalismo é menos pretensiosa. Eu imagino o que os veteranos jornalistas militantes na época da ditadura falam destes aspirantes a jornalistas de hoje, sejam eles de qualquer uma das raças já citadas.

Perdoem-nos velhos jornalistas militantes. Vocês são dignos de respeito, mas não nos culpem pela falta de revoluções. O Brasil mudou. A sociedade individualista e conformista nos contagiou e nos impede de uma rebelião pelo todo. Parece que o Brasil com direito a voto já basta a todos. Mas acalmem-se, um dia vamos agir.

A faculdade de jornalismo é dura. Você passa boa parte dos quatro anos escrevendo textos péssimos e acha que faz jornalismo. Você acredita em jornalismo imparcial e depois sai da faculdade sabendo que tudo tem opinião, até mesmo os seus "ótimos" textos. Você aprende o que é a pirâmide invertida, depois pensa que isso é uma bobagem e faz o texto do seu jeito, mas no final sucumbe e descobre que para notícias é melhor fazer o tradicional mesmo.

Logo nos primeiros meses os professores dizem que o bom jornalista lê no mínimo dois jornais por dia e duas revistas semanais. Você agüenta a rotina no máximo por uma semana e depois desiste. Realmente, ninguém consegue ler um jornal inteiro por dia e ainda trabalhar (será que aquele meu professor de faculdade ainda consegue?). Quando você vai para redações descobre que o mais importante para fazer o seu trabalho é ler TODOS os jornais, porém apenas na sua editoria. Nas outras editorias você dá uma passada, lendo os leads (grande tática, não é mesmo, jornalistas?).

Muitos universitários saem da faculdade dizendo que algumas coisas são certas: você vai aprender a beber, a jogar sinuca e vai engordar. Meu Deus, nem nisso a faculdade me marcou, pois não bebo, não jogo sinuca e mantive o peso. Depois dos quatro anos de muita observação, a frase que mais se encaixa em tudo isso que eu disse, não é minha. Meu amigo (e colega de faculdade) Rafael Zangalli resumiu bem: "Eu não aprendo nada nessa faculdade, mas eu me divirto".

Quem é o colunista: André Carbone

O que faz: Jornalista do canal Viagem do Guia da Semana, jornalista esportivo e árbitro de futebol.

Pecado Gastronômico: Pizza e sorvete.

Melhor Lugar da Cidade: Qualquer estádio de futebol.
Fale com ele: [email protected]


Atualizado em 6 Set 2011.