Guia da Semana

Os tipos esquisitos de Herchcovitch na SPFW
Foto: spfw.com.br

Quem acompanha as novidades do mundo fashion dificilmente se surpreende com alguma coisa: as coleções podem ser comerciais, como as apresentadas no Fashion Rio, outras nunca vão sair das passarelas, como as combinações super estampadas da Cavalera na São Paulo Fashion Week. As maquiagens e cabelos mudam a cada temporada, ora retrô, ora futurísticos demais. Modelos ultra magras que ditam o padrão de beleza são proibidas de desfilar na Espanha e o estilista Jean-Paul Gaultier veste uma modelo de 132 quilos na semana de moda de Paris.

Por causa de tanta excentricidade, a pergunta que tem surgido com freqüência em desfiles recentes não causa espanto nos fashionistas: "É homem ou mulher?". Mulheres de rostos angulosos, homens de traços delicados e corpos esquálidos deixam dúvidas sobre a sexualidade. "Os modelos estão mais andróginos nesta edição", afirma Marcelo Kaminski, booker da agência L´Equipe. A escolha não acontece por acaso: "Tem a ver com o que o estilista quer passar, a atitude que ele quer do modelo que vai vestir", garante ele.

Marina Dias para Herchcovitch
Foto> spfw.com.br
Alexandre Herchcovitch é um dos estilistas que adora passar a imagem de que os modelos são idênticos, com a intenção de personificar a apresentação da sua marca. Alguns manequins já possuem os traços andróginos, mas com um pouco de produção não é difícil compor o visual. Pouco seio para as meninas, não ter o corpo definido para os meninos, cabelos curtos e desfiados, roupas que não marcam o corpo e pronto! Se ainda quiser passar um aspecto de doente, é só fazer um contraste entre pele branca e lápis preto no olho. Ou optar por um look clean, com direito a olheiras e sulcos no rosto.

Mas se você pensa que tipos não convencionais só conseguem trabalho com estilistas mais modernos e despojados, engana-se. A carioca Mayana Moura, famosa por seu estilo rebelde e hardcore, com direito até a muitos brincos e piercings, já protagonizou a campanha da grife Chanel, entre outros ensaios internacionais. A dominicana Omahyra Mota é outra andrógina sem curvas que, exatamente por sua estranheza, já estrelou campanhas da Victoria´s Secret e desfilou para Jean-Paul Garnier e Yves Saint Laurent. A beleza atípica da tatuada Eleonora Bosé, com seus traços fortes e ar masculino, garantiu a ela contrato com a Gucci e ensaios em revistas famosas, como Harper´s Bazaar e Vogue.

As tattos estilo machão de Karim Aum
Foto: fordmodels.com.br
Apesar das modelos bem sucedidas listadas acima, Marcelo garante que pessoas muito tatuadas são um caso à parte: "A maioria das modelos possui uma tatuagem pequena. Isso não é motivo para ser aceito ou não na agência, contanto que a pessoa esteja dentro das medidas. O problema é que um desenho muito grande limita, os trabalhos acabam se tornando muito específicos e aparecem menos oportunidades. Existem exceções, como a modelo Marina Dias, que já é consagrada". Aliás, Marina Dias é a musa do já citado Alexandre Herchcovitch. Segundo Marco Aurélio Cabral de Rey, diretor da Ford Models, as tattos não são determinantes: "Na moda, as pessoas não ligam muito para tatuagens, mas na publicidade sim. O trabalho depende muito da versatilidade do modelo".

Eliana Dias é outra de estilo rebelde com ombros e braços tatuados. Ex-namorada do roqueiro Supla, ela começou na carreira por acaso. Era hostess de casas noturnas de São Paulo, até que um dia foi descoberta por um olheiro. No caso do modelo Karim Aum, que faz o tipo musculoso, as grandes tattoos que ele possui no braço e na perna só reforçam a masculinidade: "Eu fiz na adolescência, antes de virar modelo. Costumo dizer que já peguei muitos trabalhos por causa delas e também já perdi vários", explica o rapaz.

Os mais otimistas podem argumentar que esse desvio do padrão representa um passo adiante na democratização da moda. Mas a verdade é que é muito mais difícil uma menina conseguir traços masculinos ou um menino ter as feições delicadas, do que emagrecer 10 quilos e manter o peso. Muito menos tatuagens e piercings são sinônimos de sucesso: se você resolver radicalizar no visual, só conseguirá ser um tipo estranho na multidão, o que com certeza atrairá olhares. "A moda é cíclica, muda de seis em seis meses. O que é requisitado e faz sucesso nesta temporada, pode não fazer na próxima", lembra o booker.

Atualizado em 1 Dez 2011.