Guia da Semana

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Com as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas, a mulher passou a assumir vários papéis em seu dia a dia. Hoje, ao ter um filho, muitas vezes é preciso contar com o auxílio de uma babá para cuidar da criança, pois, geralmente, a mãe trabalha fora de casa e não consegue dedicar todo o tempo necessário aos pequenos. Porém, nem sempre a relação entre os pais e a babá é harmoniosa e tranquila. A chegada de uma nova funcionária ao lar, que vai fazer parte da rotina familiar, pode gerar dúvidas, conflitos, angústias e inseguranças.

A musicista Silvia Luisada, por exemplo, sempre contou com a ajuda de babás para cuidar de seus filhos Helena, de 6 anos, e Enzo, de 3 anos. Além de musicista, Silvia, rege duas orquestras e dá aulas de música, o que a impede de dedicar tempo integral às crianças. Porém, ela já enfrentou vários problemas com as profissionais contratadas, como faltas constantes e agressões. "Como trabalho o dia todo, optei por contratar uma babá para tomar conta das crianças. Mas não é fácil encontrar alguém que tenha preparo e sintonia com a família. Um dia, cheguei em casa e vi uma gaveta caindo sobre Enzo, que é muito arteiro. Enquanto isso, a babá estava na cozinha, longe dele. Então, decidi colocá-lo em uma escola com período integral", conta.

Os problemas já podem surgir no momento da decisão de contratar alguém para assumir os cuidados do bebê ou da criança. Para Roberta Palermo, terapeuta familiar e autora do livro Babá/ Mãe - Manual de Instruções, a melhor forma de encontrar uma boa profissional é por meio de indicações de conhecidos. "O ideal é que seja indicada por um familiar ou por uma amiga que não ficará mais com a profissional. Familiares de uma funcionária de casa também é uma boa dica. Caso não exista nenhuma dessas possibilidades, as agências de emprego podem encaminhar uma boa profissional", diz.

Antes de chamar alguém para trabalhar, é preciso conhecer o passado da pessoa e perceber o seu perfil psicológico. Além disso, no momento da contratação, é importante saber mais sobre direitos e deveres legais da pessoa contratada. Assim, é necessário seguir a Lei do Empregado Doméstico para evitar problemas futuros e garantir uma contratação de sucesso. Porém, as regras de trabalho são definidas no momento da negociação. "São os acertos pessoais entre patroa e babá que definem se a profissional vai trabalhar ou não nos feriados, se as folgas serão semanais ou quinzenais, além de outros detalhes. O salário também varia de família para família", afirma.

Adaptação

Depois da escolha, há uma fase de adaptação entre os pais, a babá e a criança. Segundo Roberta, para que haja um rápido ajuste, é necessário um diálogo mais profundo sobre os sentimentos e expectativas da mãe em relação à babá e sobre as angústias da profissional acerca do que a família espera de seu trabalho. Nessa relação, geralmente há desconfiança e insegurança de todas as partes envolvidas. "É bom deixar claro para a babá que é normal que ela se sinta insegura, afinal ela acaba de chegar na família e é necessário um tempo para todos, o tempo para a adaptação. Assim a babá entenderá melhor o comportamento da mãe, caso ela não saia de perto, por exemplo, entre outras situações chatas", explica.

Segundo Roberta, o maior problema é quando a babá não segue as regras dos pais. Por isso, é importante saber até onde vai o trabalho dela. "Por mais que a babá se torne uma pessoa íntima dos pais, afinal passa muito tempo com eles, é importante que todos se lembrem que ali é um local de trabalho da pessoa contratada, portanto ela não poderá se tornar uma grande amiga e nem confidente. É comum a profissional se envolver em saias justas por se sentir muito íntima da família e acabar não tendo mais clima profissional nesse trabalho", alerta.

Outra questão que gera dúvidas é como agir quando há conflitos entre a criança e a babá. Nesse caso, a terapeuta avalia que, para cuidar bem dos pequenos, a profissional deve ser calma, paciente e carinhosa. Além disso, é preciso deixar claro para a criança que a babá é a responsável por ela naquele momento. "Existe uma hierarquia e a babá é o adulto. Os pais têm que deixar claro que, em sua ausência, a babá manda, mesmo que ela não tenha a autonomia para tomar algumas decisões. Os pais devem dizer até onde ela poderá chegar e, caso não gostem de alguma atitude, devem conversar depois, longe da criança", orienta.

Babá ideal

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Para Roberta, uma boa profissional é aquela que não mente, que não judia da criança e que segue as regras estabelecidas pelos pais. Em alguns casos, é possível investir em cursos para as empregadas domésticas, mas as melhores formas de garantir uma longa permanência na casa e uma rápida adaptação é o diálogo e a convivência cotidiana. "Cada casa é uma casa. É comum a babá usar muito pouco do que aprendeu na família anterior. Portanto, o melhor treinamento é a prática do dia a dia. A mãe deve deixar claro o que espera do trabalho da babá e a babá precisa estar aberta para fazer o que a mãe quer, do jeito que ela solicitou, e deve fazer todas as perguntas que possam ajudá-la a se adaptar à família".

A terapeuta afirma que mesmo quando o auxílio da babá é indispensável para a família, é importante que os pais não transfiram a responsabilidade de educar e acompanhar o crescimento dos filhos. A escola, os avós e a babá devem ser aliados na educação da criança. "Nos dias de hoje, a babá passou a assumir todas as atividades de cuidado da criança. É ela quem dá o banho, alimenta, brinca, troca a fralda, acorda a noite, corta a unha, etc. Na sua folga, os pais contratam a folguista e não assumem em momento algum o cuidado, o que os forçaria a ter esse vínculo com a criança, essa responsabilidade que é deles. É muito importante que eles descubram qual atividade de cuidado gostam de fazer e sejam mais presentes nesses momentos. A criança quer que os pais cuidem delas", diz.

Atualizado em 6 Set 2011.