Guia da Semana

Foto: Acervo pessoal

A Otome (feminino de Otaku) Giovanna Oening, responsável pelo blog do Vocaloid Brasil

Se houvesse a eleição do personagem de seriado mais comentado no universo teen de 2010, Sheldon Cooper, da série The Big Bang Theory, seria, disparado, o campeão. Tanto que o ator Jim Parsons está na disputa pelo Globo de Ouro de melhor ator de série cômica. Além de possuir uma inabilidade social toda própria, ele sempre está com alguma engenhoca na mão e sabe tudo de tudo, de física quântica a mangás japoneses. Essas características fazem dele o nerd do ano, e provam, mais uma vez, de que eles venceram.

E não é somente no universo da ficcção. Mark Zuckerberg, além de ser um dos nerds mais ricos do mundo, foi escolhido pela prestigiada revista Time como o grande destaque de 2011. Até o filme A Rede Social, que conta como o Facebook ganhou o mundo, está badalado, com seis indicações ao mesmo Globo de Ouro. Quer mais provas? O universo dos games já ultrapassou em faturamento a indústria do cinema e a Campus Party Brasil 2011, a ser realizada em janeiro, já está com os ingressos completamente esgotados.

Esse mundo, que até a década de 80 era habitado por maníacos em Star Trek e outros seriados de ficção científica, hoje se multiplicou. Os mais diversos tipos de teens, jovens e adultos, com atividades e gostos variados, fazem parte desse imenso balaio. Alguns, como os tecnológicos geeks, se consideram uma evolução dos nerds clássicos. Outros, como os otakus - adoradores de mangás, amines, cosplays e tudo que vier da cultura japonesa - preferem estar à margem desse debate. E ainda tem os dorks, os nerds ligados em informação, os gamers, aficcionados somente em jogos eletrônicos, e tantas outros micro-clãs. A verdade é que as fronteiras se apagaram, e todo nerd tem um pouquinho de cada tribo. Até você, que nem é tão nerd assim. No entanto, existem grandes características que dão os principais traços das três tribos mais conhecidas: os nerds clássicos, os geeks e os otakus.

Ser nerd é

Foto: Nathalia Clark/APH

Rafael Delgado já não é mais teen, mas vive desse universo: é Chief Game Master de uma publicadora de jogos online

Tecnologia, cultura e consumo. Esses três elementos definem o nerd contemporâneo. Cada tribo vai se relacionar com esses atributos de maneira específica. Em comum, a Internet, o oceano da cultura nerd onde tudo acontece. A rede mundial é tão importante que o cinema e a televisão, antes as principais fontes de informação e entretenimento, viraram velharia. "Não vejo TV, que coisa mais old!", ri Giovanna Oening, 20 anos. Quando um programa de TV lhe interessa, ela vê no You Tube. Já no seu MP3, carrega o melhor dos Vocaloids, personagens animados que são exímios cantores graças a um software, transformando-os em ídolos dos adolescente, uma verdadeira febre no Japão.

Outra grande característica é a entrar de cabeça e desde cedo, muito cedo, nesse universo. "Comecei a curtir computadores com cinco anos, apresentado por meus primos que tinham em casa o velho Amiga, um dos primeiros PCs", comenta Rafael Delgado, paulistano de 25 anos e com o emprego dos sonhos para muitos nerds: ele é chief game master na Ongame, publicadora de jogos multiplataforma on line, como Point Blank e Aika Online.

Foto: Acervo pessoal

Além de estudar Engenharia de sistemas digitais, Sabrina baixa tudo quanto é seriado via web

A cultura é o principal ponto de diferenciação das tribos. Enquanto o universo pop japonês, com seus mangás, animes, cantores e vestimentas (incluindo as fantasias cosplay) é a grande curtição dos otakus, os nerds clássicos são aficionados pelos produtos da cultura americana. Grandes clássicos, como Batman, Superman e a saga Star Wars continuam em alta, dividindo as atenções com novos clássicos, como Walking Dead. Já os geeks fazem de todo o tipo de gadgets, como celular, tablet, notebook, tocador de MP3 e câmera digital, a sua principal fonte de cultura. Para eles, consumir é fundamental e, depois, discutir em fóruns e mais fóruns na web as melhores formas de uso e os bugs tecnológicos dos aparelhos.

No entanto, eles garantem que, mais do que ter e possuir, o que define mesmo um nerd é conhecer. "Eu adoraria ter um Ipad ou um Galaxy, mas tenho apenas o E63, um smartphone da Nokia com plataforma Symbian, e, nem por isso, sou menos geek. Mas, mesmo que agora não saiba configurar uma rede wireless no Mac, se eu ler na Internet e tiver a máquina para aplicar, monto rapidamente", explica Sabrina Henriques, jovem gaúcha de 18 anos e apaixonada por tudo que liga, desliga e tem tela de cristal líquido.

Diversão? Ficar no computador e ir aos eventos das tribos, para as quais eles chegam a cruzar o país. Lá, encontram jovens como eles, sejam vestidos de personagens animados em eventos cosplays, ou em feiras e congressos, como as internacionais ComicCon e Campus Party, já com edições brasileiras.

E nada de álcool ou drogas. "É complicado chegar a uma cidade que você não conhece, andar com pouco dinheiro e junto com um monte de gente menor de idade. Ainda por cima, os eventos são caros! Os organizadores cobram entrada e R$ 6 por um pacote pequeno de palitinhos pocky!", analisa Giovanna, que chega a criar calos no pé de tanto andar. "A gente passa o dia todo circulando, comprando, rindo e isso cansa muito. Ao final, quer ir pra casa, entrar na Internet e dormir", comenta a jovem, pronta para seu próximo desafio nerd: organizar o primeiro encontro da comunidade Vocaloid Brasil.

Atualizado em 6 Set 2011.