Guia da Semana

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Tenho muitos amigos gays. Confesso que adoro o jeito descontraído e a animação que a maioria deles tem. É claro que não é fácil "ser diferente", como eles mesmos costumam se definir às vezes e, talvez, essa vibração boa venha de muita luta contra o preconceito e os padrões da sociedade. Parece "blábláblá", mas já vi muitos amigos passarem por situações difíceis e delicadas, especialmente quando precisam se assumir perante a família e os amigos.

Eu nunca tive que explicar a minha preferência sexual para ninguém, e não posso imaginar como é ter as pessoas me olhando com cara de espanto, indignação e até decepção ao ouvirem que eu gosto de homens. Mas sei o que é estar ao lado de uma pessoa muito querida e amada, que está sofrendo exatamente por isso, e não saber como ajudar e nem o que dizer. "Queria que a sua família entendesse que você não é um E.T. por causa disso, sabe?". Apesar de ser o que eu penso, não é o suficiente para mim e ainda me sinto incapaz de dar conforto ao amigo que, para mim, continua sendo o mesmo, independente de querer beijar homem, mulher ou os dois.

Porque será que as pessoas querem tanto que todo mundo seja igual? Se você pinta o cabelo de verde, é estranha. Se você não usa a roupa da moda, se veste mal. Se você é homem e não gosta de futebol, duvidam da sua masculinidade. Se você é mulher e não usa salto alto, te acham a mais feia de todas. Basta dar um passo fora da "linha" - aquela coisa imaginária criada pelo senso comum e que, mesmo indefinida, todo mundo tem que seguir - para ser acusado, julgado e condenado antes mesmo de abrir a boca.

Dizem que os gays são mais promíscuos, mas baseado em quê? Com certeza eles sabem se divertir muito mais do que os heteros e é por isso que prefiro andar com eles e ir às baladas que eles vão. Pode ser que seja mais difícil para eles engatar num relacionamento sério diante de tanta pressão social - pessoal e familiar... - , o que pode levá-los a optar por relações mais casuais. Mesmo assim, nada justifica comentários como esse.

Acompanhei de perto um grande amigo assumir que é gay para a família e os amigos e posso dizer: não é nada fácil. Me lembro de como os amigos homens aceitaram totalmente e disseram: "Nada muda para a gente!", o que foi muito bacana. Em casa, não foi tão simples. Os pais criam expectativas e imaginam uma vida para nós sem nos consultar, por isso pode ser complicado aceitar que tomamos decisões e rumos diferentes daqueles pensados por eles.

Um outro amigo me disse uma vez que não queria gostar de pessoas do mesmo sexo, que não queria ser diferente. Quando você não se aceita, é muito pior, porque fica lutando contra algo que é uma grande parte do seu "eu" e rejeita a si. Mas quem quer sentir o peso da diferença? O peso do julgamento? Quando estamos dentro dos padrões, a chance de sermos aceitos é muito maior, e ninguém quer correr o risco de ser rejeitado. Mas quando não dá para escolher, não tem jeito. É enfrentar o desafio de cabeça erguida e com a certeza de que muitos podem criticar, mas muitos mais vão entender que a diferença é o que nos torna únicos - e consequentemente, iguais.

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Quem é o colunista: Fernanda Carpegiani - Uma jovem cheia de energia, que aproveita a vida de uma forma intensa e particular.

O que faz: Jornalista apaixonada.

Pecado gastronômico: Batata frita.

Melhor lugar do Brasil: Ubatuba - São Paulo.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 1 Dez 2011.