Guia da Semana


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Por volta dos cincos anos de idade, as crianças começam a questionar os adultos que as rodeiam acerca da morte. Nessa fase, também começam as complicações dos maiores sobre como lidar com tais questionamentos. Para muitos, isso é um dilema. As coisas podem se tornar ainda mais complicadas quando as perguntas surgem a partir da morte de um ente querido. Na tentativa de poupá-los, é comum que os mais velhos inventem histórias para atenuar o peso da morte. Ao contrário do que se pensa, ações desse tipo podem ocasionar problemas futuros às crianças.

"A morte é irreversível e é preciso deixar claro para as crianças que a pessoa não volta mais. A frustração faz parte da vida e viver isso também é importante para a nossa formação", afirma a psicóloga Renata Moreira de Carvalho. Além de ter a base teórica, ela fala como quem já viveu a situação na prática. Renata foi eleita pelo acaso para falar ao seu afilhado de dez anos sobre a morte da bisavó do menino - a quem ele era bastante apegado. "Quando cheguei no velório, ele estava sozinho num canto.Fui até ele comecei a conversar", conta.

Na ocasião, dois pontos a preocupavam: falar a verdade causando o menor impacto possível e não invadir o espaço do menino. Isso porque, revela Renata, ele não perguntou nada. "Foi tudo muito rápido. Eu cheguei e vi que ele estava isolado, meio perdido, aí achei que deveria explicar o que estava acontecendo", lembra.


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Apesar de tomar dimensões mais amplas quando projetada no universo infantil, essa dificuldade de lidar com a morte é um aspecto marcante de toda a cultura ocidental e vem sendo objeto de estudos de diferentes áreas. Em 2007, a psicóloga brasileira Claudia Bigard, que atua no Hospital Pitié-Salpêtrière, na capital francesa, publicou uma cartilha com o intuito de ajudar os pais a tratarem do tema morte com seus filhos. Intitulada Comment Parler aux Enfants de la Mort (Como Falar às Crianças sobre a Morte), a publicação ensina que a notícia da perda deve ser dada de forma direta, independente da idade da criança. Além disso, a cartilha ressalta que a palavra morte deve ser utilizada e que é importante deixar claro que se trata de um acontecimento irreversível.

Ocultar o fato ou dizer que a pessoa que morreu foi morar no céu, por exemplo, são tentativas de abrandar a morte que podem complicar as coisas. Da mesma forma, falar que a pessoa dormiu ou foi fazer uma longa viagem pode deixar os pequenos com medo na hora de ir para cama ou acharem que quem viaja nunca mais volta. Nessa fase, os indivíduos tendem a entender tudo ao pé da letra e esse tipo de linguagem abstrata pode gerar dúvidas que costumam trazer uma angústia ainda maior, dificultando o processo de luto e o entendimento do que é a morte.

Como a pessoa que morreu não volta, a criança, sem ter isso claro, também pode se sentir abandonada. E, dependendo da circunstância, ela pode até pensar que foi a responsável pelo 'sumiço'. O grau de proximidade do falecido com a criança e o tipo de morte são fatores que podem tornar o momento mais complicado.

Os pequenos não devem ser excluídos da experiência de perda quando algum ente querido morre. Uma dica é deixá-los perguntar o que quiserem e incentivá-los a expressar o que sentem, respondendo a todas as suas perguntas de forma simples e direta. É importante que a criança saiba da existência da morte para aceitá-la e elaborar o seu processo de luto. Afinal de contas, cada uma vive e demonstra o seu luto de uma forma diferente. E esse é um processo fundamental para se conseguir passar por esse momento sem culpa, medo ou trauma.


Atualizado em 6 Set 2011.