Guia da Semana

Por Larissa Coldibeli

Foto: artbr.com.br
Aula prática do projeto Graffiti.org

Nos muros que beiram grandes avenidas ou em becos esquecidos pelo poder público, o grafite atrai os olhos de quem busca cores e formas entre o caos e o abandono da metrópole. Com mensagens de protesto ou desenhos de ares infantis, permeia a cidade e toma forma pelas mãos de quem não tem medo de se arriscar na ilegalidade com pincel na mão e uma idéia na cabeça.

Usando os mesmos instrumentos de um pichador, mas com uma intenção bem diferente, o grafite surgiu em São Paulo na década de 70. Desenhos moldados em máscaras de papelão, a chamada stencil art, eram reproduzidos pela cidade. Depois, vieram os desenhos à mão livre. Em pouco tempo, essa nova proposta de arte passou a atrair cada vez mais adeptos e chamou a atenção de todo o país.

Foto: Anderson Santiago
Stencil art em Higienópolis

Engana-se quem acha que os grafiteiros se incomodam com a classificação de marginal. Rui Amaral, pioneiro neste trabalho no Brasil, diz que o grafite de verdade só existe ilegalmente: "O grafite verdadeiro é ilegal. Se for autorizado, é arte de rua". Essas intervenções urbanas organizadas, como define Rui, escolhem espaços deteriorados como cenário. Assim, unem o protesto à arte, pois chamam a atenção para a degradação do ambiente e, ao mesmo tempo, dão outra cara ao local.

Levando a sério o conceito de underground, o grafiteiro Zezão ficou conhecido pelos desenhos nos subterrâneos da capital paulista. Sua obra está exposta em galerias - de esgoto -, mas o público vai além dos ratos e baratas que transitam por ali. Seu fotolog traz os "flops" (desenho azul claro que se parece com uma assinatura) à tona.

Ao contrário do que muitos pensam, o grafite não é uma arte exclusiva da periferia. Suas influências podem vir tanto das artes visuais, mais decorativa, como da cultura hip hop, com mensagens de protesto, representação de personagens da comunidade e letras que identificam gangues. Com origem na cultura hip hop, Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos como Os Gêmeos, são internacionalmente conhecidos. Seus desenhos possuem traços singulares que são facilmente identificados por quem conhece: "Fomos forçados a desenvolver um estilo utilizando outras técnicas, como uso do látex e rolinho. Depois, alguns projetos rolaram e a gente conseguiu ter spray", dizem eles.

Foto: Cesio Lima
Rui Amaral

Assim como muitos jovens que se tornaram artistas, Os Gêmeos começaram pichando o próprio nome no final dos anos 80. A partir da década de 90, muitos talentos da periferia foram surgindo. Ao invés de pichar nomes de gangues num ato de vandalismo, passaram a usar a criatividade para transmitir idéias. Hoje, escolas, estabelecimentos comerciais e até residências usam o grafite em seus muros para escapar dos pichadores.

"Hoje, parece que a cena mudou um pouco, as pessoas falam em graffiti como puro dinheiro, e esquecem das ruas", declaram Os Gêmeos. Apesar de destacar que o verdadeiro grafite é aquele proibido, Rui Amaral não condena totalmente a comercialização: "O ilegal é vanguardista. O grafite é a arte plástica do futuro e isso acaba envolvendo dinheiro. O que incomoda é o oportunismo, pessoas que se apropriam do grafite e o transformam em produto". Depois de ter sido preso cinco vezes por causa de sua intervenções, Rui Amaral agora é professor do projeto Graffiti.org, em parceria com o Senac-SP. Junto com a Artbr, sua produtora multimídia, vai lançar ainda este ano a Artbr Social, uma ONG que que terá os mesmos trabalhos desenvolvidos no curso particular, só que para jovens carentes.

Outros tipos de arte de rua:

Além do grafite e da stencil art, outras intervenções urbanas são classificadas de street art. Os stickers e lambe-lambes são adesivos que podem ser colados em muros, postes, viadutos ou onde a criatividade e o ativismo cultural permitirem. A diferença do lambe-lambe para o sticker é que o primeiro é feito com cola caseira, que é mais difícil de ser retirada.


Atualizado em 6 Set 2011.