Guia da Semana

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Tenho uma filha que, aos quase 12 anos, diz faltarem apenas seis meses para se tornar adolescente. Isto porque leu em algum lugar que a adolescência vai dos 12 aos 18 anos. Mas aos 11 anos já trocou o agradecimento "Obrigada!" por "Valeu!", o que, segundo ela, "aprendeu com os colegas". Aos poucos, acompanhando outros sinais, vem também a mudança de linguagem. É a adolescência, que no fundo pensamos que deveria demorar mais para chegar, mas bate à nossa porta cada vez mais cedo.

E na escrita, os torpedos no celular, os blogs, os e-mails, o ICQ, MSN trazem uma nova forma de se comunicar, e começa a nossa preocupação com esta "linguagem adolescente". Será que eles colocariam em uma redação de vestibular algo como "kra", "vlw" ou "og" (traduzindo, "cara", "valeu" ou "hoje")? E afinal, que linguagem é essa?

Muitos educadores não se preocupam, porque na prática parece que a maioria dos jovens sabe diferenciar a hora de usar as "novidades" que aprende. Em geral, eles não usam nas escolas a "linguagem da rede".Outros se preocupam e muito, refletindo sobre a incapacidade que podem apresentar para as relações fora da internet. Qual seria então o motivo desta linguagem? Como garantir que seu filho a separe da linguagem dos "não adolescentes"?

O ser humano busca um significado para a sua vida e o seu mundo, e a linguagem é um instrumento que colabora e muito neste processo. A criação de línguas especiais vem de encontro com a necessidade de pertencer a um grupo, mostrar sua identidade. Pode até parecer gíria, mas não é exatamente. A gíria tem um sentido, a de ser entendida apenas por quem faz parte daquele grupo, tem a missão de ser enigmática. A linguagem do adolescente na internet surge de uma necessidade: a pressa. Tudo para eles é rápido, urgente, é para ontem. E os novos vocábulos dão sentido a isto. No pensamento deles, para que escrever "não" tendo que acrescentar o "til", se é mais rápido escrever "naum"?

E os jovens se adaptam rapidamente para pertencerem ao grupo.

Mas fora deste ambiente, eles precisam escrever dentro dos padrões. Devem entender que a linguagem para o outro é uma forma de comunicação com o mundo, com as pessoas à sua volta. E o que os ajuda nesta diferenciação é a capacidade de leitura. Não existe uma linguagem universal, e o que vale é a nossa capacidade de adaptação. O jovem pode compreender que precisa se adaptar, como um médico que usa termos técnicos ao conversar com colegas de profissão, mas adapta sua linguagem aos pacientes para ser compreendido.

Antes de criticar o jovem, podemos fazer com que ele perceba a realidade, que entenda que a linguagem de rede tem seus motivos, mas é específica para este ambiente. Para quem adora ler, é só uma questão de praticidade, mas este sabe a hora certa de usar a linguagem mais formal.

O caminho para ser uma pessoa que se adapta é a alta capacidade de leitura. Quem lê bem não renuncia à gramática, não corre o risco de perder sua capacidade de expressão e é capaz de se transportar por diversas linguagens. Quem lê muito é capaz de manter sua qualidade de estudo, sua visão de futuro, sua capacidade de fazer reflexões e sua escrita formal.

O que forma uma escrita de qualidade é a ampliação da capacidade de leitura. Assim, se seu filho escreve em um e-mail "Kra, vlw", mas lê livros expressivos, com vocabulário elaborado, você não precisa se preocupar. Incentive a leitura de seu filho e ele será uma pessoa capaz de se comunicar cada vez melhor, tanto na internet quanto fora dela.

Quem é a colunista: Adriana Pinheiro Tomaz.

O que faz: Responsável pela Orientação do Método Kumon.

Pecado gastronômico: comida japonesa.

Melhor lugar do mundo: o Brasil.

Fale com ela: [email protected].

Atualizado em 26 Set 2011.