Guia da Semana

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Quando paramos para pensar na nossa infância e, em seguida, olhamos para as nossas crianças de hoje em dia é quase impossível que um pensamento um tanto quanto nostálgico não venha à nossa mente: Como as coisas mudaram!

Realmente, a criança de hoje não é mais a mesma de algumas décadas atrás. As brincadeiras, os hábitos e os interesses mudaram. E, para acompanhar todas essas transformações, os brinquedos, desenhos animados e a até mesmo a Literatura Infantil tiveram que se adaptar.

Assim, conhecer a trajetória por qual passou a Literatura Infantil até chegar aos livros que nossos filhos leem hoje é também conhecer um pouco da nossa própria história.

Até a Idade Moderna, simplesmente não existia a concepção de criança que possuímos atualmente. Os pequenos eram vistos como "adultos em miniatura", o que significa que eram tratados com maturidade e participavam das mesmas atividades sociais e culturais que os mais velhos. Isso explica a razão de que, por tanto tempo, simplesmente não se produziu uma literatura voltada para a criança.

As primeiras obras "clássicas" desse gênero, a bem da verdade, nada mais eram do que narrativas primordiais, que se transformaram em narrativas populares até atingirem o status de "obras clássicas da literatura infantil", como aconteceu com os contos de Charles Perrault, dos irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen.

Essa situação começou a mudar em meados do século XVIII, quando a sociedade passou por uma série de transformações e, no âmbito da Educação, começou-se a se dar mais valor à educação infantil e à alfabetização. Essa nova realidade exigia livros infantis e, como ainda não existiam livros especificamente voltados para esse público, foram realizadas adaptações de romances e novelas famosas que, originalmente, eram destinadas a adultos. É o caso, por exemplo, de obras como As aventuras de Robinson Crusoé e Viagens de Gulliver.

Essas obras não tinham uma preocupação com a qualidade estética ou com o lúdico e a criatividade das crianças. Tratavam-se de obras com caráter meramente pedagógico e moralizante, cujo objetivo era ensinar maneiras de agir e de se portar, visando contribuir para a formação educacional e moral das crianças.

Foi somente na segunda metade do século XX que surgiram em massa obras feitas originalmente para o público infantil. Com a mudança na concepção de criança, que deixou de ser vista como um "adulto em miniatura" ou como uma "criatura frágil de Deus" e passou a ser encarada como um ser em desenvolvimento, com capacidades e poder intelectual, o ato de ler começou a ser visto como um ato de aprendizagem intelectual e a Literatura Infantil foi se aprimorando e desenvolvendo.

Assim, é graças a todas essas mudanças e transformações por qual passou a Literatura Infantil que podemos hoje entrar em livrarias e bibliotecas e nos depararmos com uma infinidade de livros infantis e juvenis que, preocupados em se aproximar cada vez mais da linguagem e dos interesses desses pequenos leitores, não visam simplesmente ensinar a moral e os bons costumes. Felizmente, nossos livros infantis hoje têm um papel muito maior: preparar nossos jovens para encarar o mundo que os espera.

Quem é a colunista: Lívia Lombardo tem 24 anos, é graduada em Letras e Jornalismo e trabalha no Kumon Instituto de Educação.

O que faz: Elabora o material didático de Língua Portuguesa que é utilizado nas unidades do Kumon de todo o Brasil.

Pecado gastronômico: coxinha.

Melhor lugar do mundo: qualquer praia!

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.