Guia da Semana

Acervo pessoal - Arte: Fernando Kazuo

Débora Alvares, aos 15 e aos 18 anos

Com o verão, a vontade de estar com um corpo perfeito é quase obrigação. Mas, ao invés de dietas, exercícios ou até truques de maquiagem, muitos jovens vão direto à faca e procuram um cirurgião plástico. Os procedimentos estão cada vez mais avançados, os preços acessíveis e a satisfação quase imediata passado o pós-operatório. Mas mexer com o corpo ainda na adolescência não é algo tão simples. "Somente no dia da operação, caiu a ficha do que estava fazendo comigo. Chorei à beça, pensei no futuro, mas fui. Mesmo com o bom resultado, espero que seja a última vez numa mesa de operações".

Palavra de Débora Álvares, que fez a redução mamária aos 15 anos. Hoje aos 18 anos, a jovem está satisfeita com seu corpo, mas destaca: "Fazer uma cirurgia não é brincadeira. O risco é grande e irremediavelmente ficam cicatrizes, mesmo que pequenas. É importante estar certa do que se quer".

Números na ponta da faca

C
erca de 630 mil cirurgias plásticas são realizadas por profissionais especializados ao ano. A maioria, intervenções estéticas feitas em mulheres. As pacientes na faixa de 13 a 18 anos representam 6% do total. Mas é só chegar à maior idade que esse percentual salta para 38% (dos 19 aos 35 anos). Os dados são da pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC) com o DataFolha de 2008. "O mundo atual trouxe mulheres mais autônomas e auto-suficientes e uma maior exposição do corpo em nossa sociedade, seja pela mídia ou pelo padrão das academias. Só que isso está cada vez mais precoce, exigindo atenção do médico, da família e principalmente da paciente", comenta o cirurgião plástico Sebastião Guerra, presidente da SBCP.

Mulheres e adolescentes sabem que, quando bem feita, a plástica pode ser a melhor coisa do mundo. Mas quando mal feita, com certeza é a pior. Com 40 anos de experiência, Sebastião Guerra percebe que as suas pacientes mais jovens são movidas à paixão, um elemento perigoso na hora de se decidir pela cirurgia. "Tive um caso de uma jovem que aos 16 anos colocou 180 centímetros cúbicos (cc) de silicone nas mamas. Ao morar nos EUA, se apaixonou por um americano e voltou ao Brasil decidida a aumentar o volume dos seios para atender o desejo do namorado, acrescentando uma nova prótese de 340 cc. O namoro acabou e ela teve de fazer nova cirurgia, para voltar à medida inicial".

Manequim e saúde

No caso de Débora, o que a incomodava era a dificuldade de encontrar sutiã. "Só tinha uma loja que achava meu número, e a empresa decidiu parar de comprar. Entrei em desespero e decidi pela operação. Conversei muito com meus pais, fiz várias consultas e exames pré-operatórios. Três meses depois, aconteceu a cirurgia". A jovem não sabe precisamente quanto de gordura foi retirado, "mas meu número caiu do 52 para o 42".

Após a operação, sentiu muitas dores, teve desmaios, precisou de assistência total da mãe por 10 dias e perdeu mais de cinco quilos. Depois da retirada dos pontos externos, continuou com as consultas de acompanhamento por cinco meses e passou a fazer fisioterapia para reajustar a postura e corrigir disfunções na coluna devido ao peso dos seios. A cirurgia deixou uma pequena cicatriz e perda da sensibilidade na região. "Quando me levantam pelo tronco sinto uma fisgada".

Mídia e Família

Divulgação

Para o cirurgião Sebastião Guerra, a adolescente deve pesar prós e contras

Para Guerra, mães, namorados e a televisão são grandes indutores da busca do corpo perfeito. "As mães apóiam cada vez mais, sem pensar nas consequências, e tratam as intervenções estéticas como presente de Natal ou aniversário, sem esgotar as possibilidades anteriores, como dietas, exercícios e massagens linfáticas". Em meio a tantos programas de culto e exposição ao corpo, os piores são as séries médicas. "Assisti uns episódios de uma dessas que se passa em Hollywood a pedido dos meus assistentes e eles apresentam procedimentos totalmente fora da prática atual, como próteses a base de soro fisiológico e incisões a partir do umbigo. São reality shows sem comprovação científica", frisa o presidente da Sociedade de Cirurgia.

O médico sabe que quando uma jovem quer muito algo, o melhor é não contrariar. "O cirurgião deve avaliar tanto física quanto psicologicamente a paciente e mostrar que a cirurgia ajuda, mas não resolve os problemas do mundo. É importante pesar bem os motivos pessoais e contar com a ajuda dos pais nesse momento".

Para os pais temerosos, o caminho é a conversa. "Não adianta negar e pronto. Os pais devem perguntar o porque dessa decisão, apresentar prós e contras, ponderar se a época é a mais adequada, procurar profissionais especializados e com experiência comprovada e acompanhar a jovem em todas as etapas".

Atualizado em 1 Dez 2011.