Guia da Semana

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A morte é algo natural e assim deve ser tratada. O que se pode trabalhar melhor com as crianças são os sentimentos relacionados à perda. A vida tem um ciclo e a natureza nos oferece diferentes situações em que podemos elaborar este conceito para elas, de uma forma produtiva e positiva. Desde pequena, podemos apresentar os ciclos da natureza, por exemplo, observando o nascimento, a vida e a morte de uma flor ou de um bichinho.

Há também muitos contos clássicos nos quais o tema aparece e a criança passa a compreender como funciona a vida em sua trajetória, de começo e de fim. Até os dois anos, ela imagina que a morte é um fato reversível. Mas é a partir dos 4 anos que começa a elaborar melhor o conceito deste fato como algo definitivo e deverá chegar ao auge dessa ideia por volta dos 7 anos, ou seja, no final da primeira infância.

Para que a criança progrida em relação aos sentimentos de perda, ela precisa compreender e aceitar a finitude de todo ser que tem vida. Se não vivenciar este conceito não avançará em seu desenvolvimento. Vemos muitos adultos imaturos e incapazes de lidar com a perda de um ente querido e nesta situação vivem eternamente aprisionados à lembrança do ser que se foi. Sem se desprender das lembranças, não conseguem crescer, progredir e se renovar.

Toda perda envolve um período de luto. Este tempo serve para que o indivíduo se reconstitua e possa seguir em frente. É de grande valor a vivência de perdas menores para que se trabalhe nossa impotência perante tudo. Ao se deparar com a perda de um animal de estimação, por exemplo, é interessante explorar o que a criança está sentindo, pesquisar quais os recursos que ela dispõe para lidar com esta dor, perguntar como ela se sente, incentivá-la a descobrir formas de se sentir melhor, apesar da dor.

O luto é a maior forma de respeito e aceitação da perda. É o período de transformar a angústia do momento em saudosas, mas agradáveis, lembranças daquele que partiu. A criança questiona quando sente necessidade de compreender os processos, portanto não há necessidade de se antecipar nada. Devemos esperar que estas questões surjam espontaneamente ou sejam geradas por uma situação.

Certamente os pequenos veem o mundo através dos olhos dos adultos com quem convive de forma mais íntima. Criança vê, criança faz. E a família que tem uma forma "dramática" de lidar com as questões relacionadas às perdas estará ensinando à criança a se comportar da mesma forma. Comentários feitos perante ao menor quando aparecem situações de perda em ambientes de ficção, como novelas por exemplo, estarão norteando e construindo o conceito de como lidar com estas situações na vida real.

É importante também sempre usar a verdade ao comunicar uma notícia de perda. Palavras ou metáforas como "viajou para sempre", "dormiu e virou estrelinha" não são formas adequadas de se comunicar a morte e não facilita o processo de trabalhar a dor da perda.

Evitar a realidade prejudica o processamento e a aceitação da perda. Infelizmente essa dor é inevitável, mas, por outro lado, necessária para aceitar toda a limitação do nosso ser. E como a escola pode ou deve trabalhar estes temas? É uma questão delicada, pois envolve princípios religiosos e éticos. A escola pode e deve estimular a criança a falar sobre seus sentimentos, ajudar a criança a identificar e nomear o que sente para poder comunicar seus sentimentos e, desta forma, possibilitar que as pessoas ao seu redor possam auxiliar para que ela descubra formas de amenizar a dor. Isto pode ser chamado de educação emocional e deve ser muito valorizado no ambiente escolar.

Quem é a colunista: Eliana de Barros Santos.

O que faz: Psicóloga, pedagoga e diretora pedagógica do Colégio Global/Escola Globinho de São Paulo.

Pecado gastronômico: Um bom vinho tinto

Melhor lugar do mundo: Vancoucer, Canadá.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 1 Dez 2011.