Guia da Semana

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"Bem-vindo ao Miss Bimbo! O jogo mais divertido e fashion do mundo. Divirta-se criando sua bimbo e fazendo dela a mais popular que já existiu!"

É essa a frase que cerca de 200 mil crianças e adolescentes já receberam em seus e-mails, para iniciarem o jogo no site inglês www.missbimbo.com. O game começa da seguinte forma: "Olá, você está num novo jogo. Não esqueça que o objetivo é ser a mais popular, rica e famosa bimbo em todo o mundo/ jogo." Para conseguir ganhar os pontos, no entanto, as bonecas devem realizar cirurgias plásticas, dietas e toda forma de procedimento estético que as façam ficar mais bonitas. Para ficarem ricas, a beleza vai ajudar a encontrarem um namorado milionário.

O portal foi lançado em fevereiro deste ano e o número de internautas engloba, principalmente, meninas de 9 a 16 anos de idade. No Brasil, não há um site que siga as mesmas características, mesmo assim é preocupante, uma vez que a internet é acessível a todos e o país é o segundo no ranking de cirurgias plásticas. Só no ano de 2006, foram realizadas 700 mil no país, sendo cerca de 105 mil em pessoas entre 14 e 18 anos, ou seja, 15% da parcela, valor que praticamente triplicou em uma década.

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O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Prado Neto, lembra que o número de adolescentes que buscam pelo artifício vem crescendo muito nos últimos anos. O problema nisso tudo é que, muitas vezes, eles não possuem preparo psicológico suficiente. "Uma menina pode estar desenvolvida fisicamente aos 15 anos, mas não tem equilíbrio emocional, podendo ter problemas futuros gerados pela frustração em relação aos resultados da cirurgia", diz.

Dessa forma, ter certeza do que quer é extremamente importante para que não haja imprevistos. A estudante Caroline Pantano, por exemplo, implantou silicone nos seios em dezembro de 2007, aos 17 anos. De qualquer forma, a decisão foi tomada bem antes, aos 15 anos. "A operação durou cerca de duas horas e não houve complicação ou alergia. Aos 15 anos, eu não me sentia bem com meu corpo e tinha muita vergonha. Meus pais diziam que não havia necessidade de operar, mas me apoiaram. Não fiz para sair mostrando para todos, fiz para mim, para eu me sentir bem. Quando decidi, fui ao médico e ele falou para eu voltar depois de um tempinho. Dois anos depois ele perguntou se era o que eu realmente queria", lembra.

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De acordo com o cirurgião diretor do Centro de Medicina Integrada, Ruben Penteado, as operações mais procuradas por adolescentes são de aumento da mama, lipoaspiração, correção do nariz, das orelhas e de mamas masculinas (ginecomastia). Ele lembra que, apesar das meninas buscarem mais pelos procedimentos do que os meninos, a diferença vem diminuindo nos consultórios. Em relação ao aumento rápido dos números, ele salienta que, pelo lado positivo, há um maior acesso de camadas da população que antes não poderiam se beneficiar destas cirurgias, democratizando o que antes era considerado como privilégio das elites. "Por outro lado, está a mercantilização e, portanto, a banalização de uma atividade que não pode ser considerada como simples objeto de consumo. Critérios bem estipulados e bem definidos muitas vezes não são seguidos, quer pelos que se candidatam a uma cirurgia plástica ou pelo próprio profissional, trazendo conseqüências físicas e psicológicas graves."

Quando fazer?
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Quando pode? A cirurgia plástica é indicada ao adolescente quando a questão a ser corrigida trouxer algum prejuízo ao pleno desenvolvimento do mesmo, como mamas muito grandes, que causam problema de coluna, ou problemas no nariz, prejudicando a respiração. Fisicamente, se o corpo está completamente formado, procedimentos como esses podem ser realizados a partir dos 15 ou 16 anos.

Pré-requisitos: em primeiro lugar, é importante que o adolescente saiba que a cirurgia não fará "milagres" e o resultado depende de diversos fatores, inclusive o próprio corpo do paciente, podendo não aparentar grandes diferenças após a operação. Em segundo lugar, é preciso que os pais acompanhem o filho em algumas consultas e assinem o termo de autorização. Esse termo é comum a qualquer paciente, em qualquer idade. Porém, são os responsáveis por menores de idade que assinam.

Exames: após constatar a saúde plena do paciente, devem ser realizados exames, incluindo o hemograma, o coagulograma e a avaliação cardiológica.

Orelha de abano: diferente de outros procedimentos, a cirurgia para este tipo de problema pode ser realizada a partir dos 6 anos, para evitar brincadeiras e piadas de colegas. Isso é possível porque a orelha está completamente formada nessa idade e não crescerá mais. O que acontece é que ela perde a elasticidade com o passar do tempo, podendo parecer maior.



Há limites

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Além da cirurgia plástica, a Miss Bimbo incentiva o culto à beleza de outras formas. Devido a polêmicas, foi retirado do site um recurso onde a boneca tomava pílulas para emagrecer. Segundo a psicóloga do Centro de Avaliação de Desenvolvimento Infanto-Juvenil - CADij Lúcia Marmulzstejn, a brincadeira pode ser prejudicial à medida que supervaloriza a perfeição através do que se tem e não do que se é de verdade.

Mesmo assim, o portal não é o único vilão do mau exemplo. "A mídia é um agente extremamente poderoso na formação da personalidade de qualquer um, principalmente dos adolescentes, que estão se estruturando como indivíduos. De um certo modo, ela traz parâmetros, que vão além daqueles que são colocados pelo nosso grupo de amigos e pela comunidade da qual fazemos parte", ressalta Lúcia. O psicólogo da Caberj Integral Saúde Vinícius Frota completa dizendo que é na infância e na adolescência que a personalidade é formada. Assim, crescer com conceitos deturpados é perigoso e pode deixar graves seqüelas.

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Os procedimentos estéticos desejados pelos filhos devem ser sempre avaliados pelos pais, que vão perceber até que ponto aquilo gera um grande sofrimento, com prejuízos emocionais e sociais. Em primeiro lugar, deve ser identificado o real motivo para o jovem querer modificar a imagem, que sentimento ele tem de si próprio, se ele está sendo influenciado por alguém do seu grupo que já pode ter feito algum tipo de cirurgia estética. "Embora o grupo tenha nesta fase maior influência que a família, o diálogo é ainda a melhor opção. Mas os pais devem lembrar que são eles as figuras de autoridade e que devem decidir. A importância é que um defeito estético sempre causa prejuízos na auto-imagem e auto-estima do adolescente. Desde a infância, a criança convive com os apelidos, piadas, gracinhas dos amigos e, às vezes, até mesmo dos familiares. A cirurgia corretiva pode livrar o adolescente de um constrangimento, de ser alvo de chacota. Posteriormente, sugiro um acompanhamento psicológico", finaliza a psicóloga especializada em Educação Infantil Sônia Gomes.

Atualizado em 6 Set 2011.