Guia da Semana

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Como saber se as mentiras que seu filho conta são normais e inocentes ou devem ser encaradas com mais atenção e cuidado?

Primeiro é importante conhecer o desenvolvimento mental de uma criança. Até os cinco anos, o mundo da fantasia se confunde com a realidade. É comum a criança inventar histórias extraordinárias, seja para conseguir mais atenção ou mesmo para tentar sair de uma situação de dificuldade, como um ato incorreto que tenha feito.

Nesta fase, devemos ter atenção à persistência das mentirinhas e suas conseqüências. Enquanto ela insistir em narrar contos fantásticos, desde que estes não prejudiquem ninguém, não há porque se preocupar. Essas situações não deixam de ser uma experiência de criatividade e tendem a diminuir com o passar do tempo.

O normal é que a criança busque cada dia uma história diferente, ou seja, se o assunto que ela "inventou" não persistiu, é porque de fato, não deve ser levado a sério.

Devemos ter mais atenção quando a criança insistir em comentar sempre a mesma história, envolvendo fantasias de perigo ou de perseguição, por exemplo. Elas podem revelar certas angústias que ainda não estejam bem resolvidas em sua vida e que não esteja conseguindo exprimir.

Já quando ela começa a usar a mentira para esconder seus erros, é hora de uma conversa mais séria. Em um primeiro momento, entre os 3 e 5 anos, a criança pode usar a mentira em duas situações: as histórias mirabolantes, já citadas acima, e as aplicadas a um erro involuntário, como uma maneira de tentar evitar a desaprovação ou punição. Nesta fase, longos discursos morais sobre a atitude pouco resolverão. Melhor é mostrar à criança, de forma bem prática, que cedo ou tarde as mentiras serão descobertas e que, além de ter de responder pelo erro cometido, ela ainda deverá responder também pela mentira. E ainda, que se ela contar a verdade, isso será valorizado e poderá amenizar as conseqüências do ato.

Para as crianças menores, até 6 anos, utilizar formas lúdicas de explorar esse assunto pode funcionar. Utilize filmes ou livros infantis que contem histórias sobre crianças que mentem e suas conseqüências, abordando os prejuízos das mentiras e os benefícios de dizer a verdade.

Aos sete anos a criança já domina a diferença entre realidade e fantasia e a situação pode tornar-se um pouco mais séria quando ela manipula uma situação antecipadamente, para conseguir ou evitar algo (como dizer-se doente para não ir à aula, por exemplo). Neste caso, nota-se que já houve uma premeditação da situação e suas eventuais conseqüências, ou seja, a criança teve consciência, tanto do ato quanto da mentira em si.

Estas situações não devem ser toleradas. Neste momento, há a necessidade de muita conversa e de mostrar à criança a importância do erro, dando a ela a oportunidade de reparação. Caso isto não ocorra, há o risco de a criança entender que não houve conseqüências relacionadas à sua ação e ainda sentir que levou vantagem, pois conseguir atingir seu objetivo através da mentira reforçará novas situações parecidas.

Outra situação que pode ocorrer é a criança seguir um exemplo incorreto dado por algum adulto. Pais e familiares devem estar atentos e evitar mentir na frente dos filhos. Não estou me referindo, aqui, às mentirinhas inocentes, como dizer que algo ficou bonito para não magoar uma pessoa, mas sim, a mentiras que as crianças rapidamente percebem, como por exemplo, pedir para dizer que não está em casa para não atender ao telefone, por exemplo.

A questão das "mentiras sociais" é delicada: como ensinar o filho a não mentir, mas ao mesmo tempo desaprová-lo por fazer cara feia quando ganha um presente que não gostou? A assimilação deste tipo de situação levará tempo, virá com as experiências práticas da vida e com o amadurecimento da criança. O mais importante é deixar claro que, nestes casos, a intenção de não magoar uma pessoa querida é o que conta, mas que em qualquer outro tipo de situação, não se deve mentir.

Comunicação sempre aberta

Pais, mães e filhos devem conversar muito, estabelecendo uma relação de confiança. Isso ajuda a criança a contar o que acontece em sua vida, seus medos e anseios, evitando que utilize o artifício da mentira quando desejar ganhar ou evitar algo.

E por incrível que possa parecer, regras extremamente rígidas também podem estimular a criança ou o adolescente a mentir, pois neste caso, o ambiente familiar proporcionará poucas chances de negociações a respeito dos limites da rotina diária ou dos passeios com os amigos.

Será melhor conversar abertamente estabelecendo e combinando juntos regras um pouco mais equilibradas, permitindo situações em que a criança ou adolescente já sejam capazes de administrar. E cobrando, sim, os resultados de acordo com o que foi combinado. Desta forma, também estará se treinando o senso de responsabilidade.



Quem é a colunista: Cláudia Fernanda Venelli Razuk
O que faz: Coordenadora Pedagógica do Colégio Itatiaia
Pecado Gastronômico: chocolate
Melhor Lugar de São Paulo: o bairro em que moro (paraíso). É bonito e tem tudo por perto.
Para Falar com Cláudia: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.