Guia da Semana

Foto: Gael Oliveira/APH

A professora e doutora em Física mostra como se faz um chip de computador


Uma oportunidade de conhecer como um material que já existe na natureza, se bem utilizado, pode ser revolucionário. Na palestra das 19h de hoje, a Campus Party recebeu Tatiana Rappoport, doutora em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma das pesquisadoras mais conceituadas da área no Brasil, para falar do grafeno, um derivado do carbono que promete altíssimas velocidades de processamento de dados e flexibilidade de aplicações.

Com uma apresentação didática, a jovem doutora apresentou a história do estudo dos materiais utilizados na eletrônica e como eles revolucionaram as nossas vidas. O grafeno nada mais é do que um arranjo dos átomos de carbono em forma de colmeias, que ficam dispostas umas ao lado das outras, formando uma única folha. Para se ter uma ideia, o grafite, de onde vem o grafeno, é estruturado exatamente da mesma forma, só que com várias folhas superpostas.

Essa diferença é tão importante que dá ao grafeno uma série de características que, até agora, nenhum outro material tem. "Ele é um ótimo condutor, super flexível, ultrarresistente e transparente", disse Tatiana. Mas, na prática, seu uso ainda está bem longe da teoria. Não é possível fabricar uma folha de grafeno em larga escala, para a fabricação de chips de computador, por exemplo - os átomos não ficam arranjados de maneira homogênea.

Mas isso não significa que os cientistas não estejam pesquisando melhores formas de produção. Por enquanto, as aplicações mais próximas da atualidade para esse material é na fabricação de sensores de gás, já que o grafeno se liga facilmente a outros átomos. Seguindo a mesma linha, de acordo com Tatiana, é possível, em um intervalo de cinco anos, produzir fotossensores, base para pesquisas com células e também materiais anti-aderentes. Todos com a mesma característica: serem finos e transparentes.

Ela revelou que há protótipos de telas touchscreen (aquelas que são acionadas pelo toque dos dedos, como algumas telas de celular e as dos iPads) que podem ser ainda mais flexíveis e transparentes. No futuro, uma folha pequena de grafeno pode ser guardada na carteira, dobrada, esticada, desdobrada e ter sua forma alterada. Assim, ela pode se transformar em uma tela de celular, um relógio, um tablet, uma folha de jornal e até exibir imagens em 3D.

Os transistores, os componentes mais ilustres da eletrônica (são encontrados aos milhões nos chips de computadores ) podem se tornar ainda mais rápidos no processamento de informações. Para se ter uma ideia, a velocidade do chip do seu computador, hoje, pode variar de 1 a 3 GHz. Os primeiros transistores fabricados com grafeno chegam a 200 GHz e podem facilmente alcançar 1 THz, ou mil vezes maior que 1 GHz. Pena que isso ainda vai demorar um bom tempo para acontecer, segundo Tatiana. "Os meios de produção desses transistores ainda são caros e não existem em larga escala", diz. E afirma: "A brincadeira está só começando".

Atualizado em 6 Set 2011.