Guia da Semana



O príncipe Naruhito já foi embora, mas as celebrações do centenário da imigração japonesa no Brasil continuam. O momento não poderia ser mais propício para falar sobre como nossos amigos de olhos puxado influenciaram - e ainda influenciam - a cultura pop do brasileiro.

Para começar, a televisão. A invasão das nossas telas começou com os chamados tokusatsu, abreviatura de "tokushu satsuei". A expressão significa algo como "filme de efeitos especiais". Sabe aquelas séries doidas de japonês, cheias de raios, monstros, robôs gigantes e explosões? Então, aquilo é tokusatsu.

No Brasil já tem isso na TV faz tempo. Nos anos 60, o sucesso era National Kid. Não sou tão velho pra lembrar desse herói, mas tenho anos suficientes para ter vagas (e boas) recordações de Spectreman. A fala inicial, que transcrevo abaixo, era muitíssimo classe:

"Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como em todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E, apesar dos esforços das autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectreman!!!"

O Spectreman antecipou a moda do ecologicamente correto, veja você. Anos depois, muitas outras séries desse tipo fizeram sucesso. Coisas como Changeman, Jiraiya e Black Kamen Rider viraram mania. Lembro muito bem de passar as tardes vendo o Jaspion lutar contra Satan Goss. Depois os americanos tentaram copiar e adaptar o negócio com os Power Rangers, mas aí eles conseguiram estragar tudo.

Esquecendo o passado, hoje os animes são o estrondoso sucesso e ocuparam o lugar dos tokusatsu na mídia; para o bem ou para o mal. Na minha opinião, Pokémon é um anime horrendo. Mas dá para encontrar na TV episódios dos bacanas Dragon Ball, Yu Yu Hakusho e - um dos meus preferidos - Naruto. Também existem alguns desenhos americanos, como o ótimo Teen Titans, que usam a estética dos animes.

No mundo dos videogames não tem pra ninguém. Quem não conhece Super Mario Bros? O game da japonesa Nintendo é um clássico absoluto, além de ser o mais vendido de toda a história dos videogames. Num tempo em que a mania é assaltar banco e atropelar velhinhas no GTA, dá uma certa saudade dos inocentes jogos do Mario - que aliás, continuam evoluindo e estão por aí. O mais recente é Super Mario Galaxy, lançado ano passado para Nintendo Wii.

Na música a coisa parece ser um pouco diferente. Aparentemente os nossos cantores fazem mais sucesso no Japão que os japoneses aqui no Brasil. O fenômeno pop japonês Puffy AmiYumi, mesmo com desenho animado e clipes no Cartoon Network, não conseguiu empolgar o público brasileiro. Como música não tem dublagem, talvez a barreira da língua seja mais forte nessa arte que em desenhos, filmes e jogos.

Já deu pra ver que o nosso universo pop está tomado pela cultura japonesa. E olha que nem falei dos mangás, dos tamagotchis e de tantas outras manias que a terra do sol nascente consegue espalhar por nossas bandas. E tudo isso é a pontinha do iceberg. Na litertura há coisas geniais como o livro Musashi de Eiji Yoshikawa, que conta as aventuras do mais famoso samurai de todos os tempos. Um dos maiores cineastas que já viveu, Akira Kurosawa, também é japonês. Dá para gastar uma vida aprendendo e se divertindo com tudo que a cultura nipônica tem a oferecer - e nem é preciso ser japonês para isso.

Quem é o colunista: : Robinson Melgar, 29, não estudou e por isso ganha a vida escrevendo sobre informática. Seu sonho é virar a maior autoridade em cinema de sua rua.

O que faz: é jornalista.

Pecado gastronômico: x-calabresa.

Melhor lugar de São Paulo: Rua Augusta.

Acesse o site dele: www.morfina.com.br.

Atualizado em 6 Set 2011.