Guia da Semana


Manhêêê! Paiêêê! Eu quero! Eu quero! Quem não fica louco, ao ouvir o filho repetir insistentemente essa frase? Como se não bastasse a birra, quando são contrariados, eles fazem um escarcéu, choram, gritam e não sossegam enquanto não são atendidos. Assim são os pequenos ditadores.

No colégio eles são os líderes da turminha e delegam funções nas brincadeiras. Em casa, impõem suas vontades aos pais. São crianças que têm dificuldade de enxergar o espaço do outro e chegam a ser desrespeitosas, teimosas e irredutíveis em suas opiniões. Mas o que fazer se a sua casa for comandada por um desses tiranos infantis?

Motivos da tirania


"Desde pequena a Bia sempre arruma um jeito de conseguir o que deseja. Ela não desiste nunca! Se quiser um brinquedo, não importa se é o mais caro da loja, temos que comprar aquele que ela gostou", diz Rogério Souza, pai da pequena Beatriz, de 5 anos.

Nenhuma criança nasce mandona. Sua personalidade é formada conforme a educação dada pelos pais, o ambiente familiar e o meio social. Elas apenas refletem o que lhes foi ensinado, o que resulta em uma noção individual entre o certo e o errado, como explica a psiquiatra infantil Sonia Palma.

"Lá no começo da infância, os pais fazem de conta que os filhos não estão fazendo manha. Acreditam que eles têm opinião forte, personalidade. No fim, eles se enganam e fingem não reparar nos primeiros sinais de comportamento individualista. Isso lhes dá a sensação de que estão no poder e elas acabam governando os pais".

É comum os pais sentirem-se envergonhados por terem filhos mandões. Neste ponto, é preciso agir com muita cautela para o problema não virar uma bola de neve. A tendência é satisfazer a vontade dos pequenos, para evitar situações de conflito, que levam a constrangimentos públicos. Também existe o medo de frustrar os filhos. Muitos pais, por se sentirem ausentes, sentem medo de serem tachados como chatos em casa.

Na opinião da terapeuta familiar Márcia Ferreira, é fundamental para os pais não se preocuparem com os rótulos dados pelos filhos. "Se o seu filho está chamando você de chato, significa que está no caminho certo. Quem coloca regras e limites é uma pessoa chata. Não dá para ser legal com o filho o dia inteiro".

Conduta como exemplo


Assim como acontece na maioria das atitudes infantis, a influência costuma vir de casa. Segundo Márcia, se a criança tem uma mãe autoritária, que grita e exige que ela pegue os brinquedos imediatamente, ela passa a cobrar as mesmas exigências da mãe, pois ela assimilou este comportamento. "Essas pessoas não estão seguras no papel de pai e mãe. Por isso tentam impor suas regras desse modo. São pais muito frágeis nesse ato de educar. Eles acabam deixando de lado o que acreditam em nome da sociedade, do que está na mídia".

Estabelecendo limites


Para contornar a situação, é necessário estabelecer um critério sólido do que a criança pode fazer. Após esta etapa, os limites devem ser seguidos com regularidade. "A negativa para brincar no parque ou tomar gelado não pode variar de acordo como humor do pai. A criança precisa entender o motivo da privação", explica Márcia.

Por essa razão, para seguir o rumo certo, é bom sempre lembrar-se de estabelecer barreiras claras, baseadas nos valores familiares e segui-las à risca. "O limite é um dos grandes aprendizados da vida, faz parte do crescimento emocional e do conhecimento cognitivo. Quando eu não tenho os meus desejos atendidos, eu sou obrigado a criar outros recursos para aprender a improvisar, criar brinquedos, brincadeiras. Assim a criança tem a possibilidade de trocar e aprender a lidar com as suas vontades", conclui.

Atualizado em 6 Set 2011.