Guia da Semana

Foto: Stck.Xchng

A rebeldia adolescente faz com que todos os jovens já tenham, pelos menos algum dia, pensado em fugir de casa. Os mais receosos não se arriscam nessa empreitada por medo de não serem aceitos novamente pelos pais se algo der errado. Para aqueles que não se preocupam com os riscos, a aventura é um tanto tentadora, mesmo que não dure mais do que 24 horas.

O cadastro da Rede Nacional para Identificação de Crianças e Adolescentes Desaparecidas (Redesap) conta atualmente com 1.085 casos de desaparecimentos, sendo que 73% deste número são fugas voluntárias do lar, como revela uma uma pesquisa feita durante o projeto Caminho de Volta (Busca de Crianças Desaparecidas de São Paulo).

Em 74% dos casos, o desaparecido tem entre 12 e 18 anos, mas isto não é o suficiente para caracterizar o comportamento como algo típico da adolescência: "Não faz parte da infância e adolescência o ato de fugir de casa. No entanto, a fuga do lar vem ocorrendo cada vez mais freqüentemente e com números assustadores", explica a psicóloga Alaide Degani de Cantone, fundadora e coordenadora do CEPPS (Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde).

Motivos graves ou banais
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As motivações vão muito além da rebeldia ou uma nota ruim no boletim. Maus tratos, violência física ou psíquica, pobreza doméstica, abusos sexuais, má relação com a família, separação do casal ou formação de uma nova união dos pais podem ser motivos suficientes. "É importante ressaltar que essas novas situações na família não levam necessariamente a situações de conflitos. Muitas vezes, a separação do casal vai proporcionar uma convivência mais saudável e amistosa com os componentes da família, mesmo que ocorra, naturalmente, um período para a adaptação dessa nova forma de viver e conviver", destaca a psicóloga.

No caso de Flávia*, 18 anos, o motivo da fuga aos 16 foi a rigidez do pai. Enfrentando o fim de um longo namoro e a pressão do vestibular, ela não podia nem sair com as amigas. Foi quando conheceu Cláudio*, que era dançarino do clube das mulheres: "Por carência, acabei me apegando a ele. Meu pai proibiu nossos encontros, tirou meu celular e nós discutíamos muito. Então, o Cláudio disse que eu podia ficar na casa dele. Escrevi uma carta para minha família, fiz a minha mala e fui. No mesmo dia, meu pai descobriu o endereço e foi atrás de mim com a polícia."

A intenção não era desaparecer para sempre, apenas algumas semanas para chamar a atenção: "Hoje eu acho isso ridículo, tenho vergonha, foi coisa de criança. Eu nem estava apaixonada pelo Cláudio. Minha relação com o meu pai melhorou depois disso, mas me arrependo de tê-lo magoado", desabafa Flávia.

Existem também os fugitivos crônicos, aqueles que fogem, voltam para casa, mas estão dispostos, a qualquer momento, a fugir novamente diante de situações ou conflitos familiares que se repetem. "A falta de interesse pelo filho, inflexibilidade ou pais que exigem demais, podem gerar uma carga emocional insuportável para o adolescente", esclarece Dra. Alaide.

Para descobrir o paradeiro:
Na maioria dos casos, os adolescentes fogem para lugares bem previsíveis, como a casa de parentes ou do namorado. Assim, não é difícil encontrá-los depois de algumas horas. Caso os pais não consigam localizar os filhos, algumas medidas devem ser adotadas:
? Registrar boletim de ocorrência numa delegacia;
? Mobilizar parentes, amigos e a comunidade do local onde ocorreu o desaparecimento para que ajudem a procurar;
? Espalhar cartazes com fotos do desaparecido e divulgar uma imagem digitalizada na internet;
? Procurar em hospitais e no Instituto Médico Legal.


Antes de tomar esta atitude drástica, os jovens dão vários sinais de que algo não vai bem, tal como depressão, ansiedade, desinteresse pela escola, amigos e lazer, agressividade, hostilidade, isolamento, uso de drogas, entre outros. Isso mostra que eles estão infelizes e com sintomas de auto-destruição.

"Quando o adolescente retornar à casa, não é indicado punições severas, violências e ameaças, pois isso poderá gerar novo desejo em fugir. É necessário conversar e buscar compreender o que o levou a sair de casa. É importante ouvir e acolher, porém, na mesma importância, delimitar as regras e normas familiares", finaliza a psicóloga.

* Os nomes foram trocados a pedido da entrevistada.

Serviço:
Dra. Alaide Degani de Cantone - Psicóloga
www.cepps.com.br
Telefone: (11) 5054-3053

Atualizado em 1 Dez 2011.