Guia da Semana

Por Dra. Maria Irene Maluf



Não é possível negar: mesmo os pais mais esclarecidos sobre as dificuldades escolares de seus filhos ou sobre a falta de empenho deles nos estudos, ficam muito aborrecidos quando a notícia da reprovação finalmente se concretiza.

E não é para menos. A escola particular é um investimento financeiro de porte no orçamento de quase todas as famílias. As expectativas em relação ao futuro escolar do filho começam a ser postas em dúvida e a situação gera a inevitável sensação de culpa (ou de busca de culpados) e a falta de orientação para saber como agir com a criança, que também sofre a frustração de não ter conseguido acompanhar os coleguinhas.

Independentemente do motivo da repetência, ela deve ser encarada como uma oportunidade de reflexão para a família, a criança e a própria escola. Que sentido faz a retenção dessa criança? O que a provocou? A falta de estudo? Imaturidade para acompanhar a série cursada ou a seguinte? Uma dificuldade de aprendizagem? Problemas relacionados ao comportamento ou a falta de motivação para aprender? Que sinais de alerta deveriam ter sido observados ao longo do ano letivo? Que tentativas foram feitas para evitar esse desfecho e por que não resultaram em sucesso? Qualquer que seja o motivo, a situação deve ser analisada com calma e de preferência com a ajuda de um psicopedagogo, já que inúmeros fatores podem estar envolvidos na repetência de um aluno, inclusive a inadequação à metodologia escolar adotada, a má adaptação à escola, problemas de ordem sócio-afetivas, problemas psicológicos, de saúde ou familiares que ocorreram durante o ano letivo, etc.

Para todas essas causas existe uma solução. Entretanto, a única atitude que não fará mudar as perspectivas para o próximo ano é deixar a situação como está, culpando indiretamente a criança pelo insucesso e nada fazendo para ajudá-la a passar por esse momento difícil. Castigá-la nada resolve, pois mesmo aquela que não se dedicou suficientemente aos estudos, já está se sentindo muito mal e se auto-responsabilizando, se julgando incapaz. As crianças, mesmo quando negam, sentem-se envergonhadas por não conseguirem ser promovidas e precisam de apoio e auxílio para perceberem que podem mudar as coisas no próximo ano. Investigar como anda a auto-estima da criança repetente é primordial.

O problema central, entretanto, independentemente do motivo que o gerou, relaciona-se a uma dificuldade de aprendizagem e esta é a hora certa para procurar por uma avaliação psicopedagógica e trabalhar para solucionar a questão. Adiar essa consulta a um profissional especializado ou apelar para aulas particulares como um paliativo, pode até amenizar a situação no presente, mas com certeza vai fazê-la reaparecer no futuro próximo. Ao se encontrar uma razão para o fracasso escolar e oferecer uma intervenção que venha a resolver o problema, dá-se novamente à criança a perspectiva de sucesso acadêmico e, mais importante, revitaliza-se a auto-estima e a motivação para aprender e crescer, tornando-se um aluno autônomo que pensa por si só e aprende a aprender.

Maria Irene Maluf é pedagoga habilitada em Educação Especial e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia -ABPp

Atualizado em 6 Set 2011.