Guia da Semana

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Cacoete é uma expressão popular que dá nome a gestos ou comportamentos estereotipados, ou seja, ritualizados e que obedecem forma padronizada e seqüencial. Sabe aquela careta que você insiste em fazer nas horas mais impróprias ou aquele velho hábito de fungar mesmo que não esteja resfriado? Na psiquiatria, esses comportamentos súbitos e repetitivos são chamados de tiques ou compulsões.

Ao contrário das manias, que podem ser agradáveis aos donos, estes maus hábitos incomodam muito quem os possui, pois diminuem a auto-estima e geram ansiedade, pois é um esforço muito grande controlá-los: "Em muitos casos, os pacientes sentem-se presos ou amarrados a estes comportamentos que podem tomar muitas horas, interferindo no trabalho, lazer e relacionamentos", explicam os psiquiatras Eurípedes Constantino Miguel Filho e Pedro Gomes de Alvarenga, do Hospital Sírio Libanês. Há casos extremos em que os tiques são tão bizarros a ponto de repelir as outras pessoas do convívio com o portador.

Fatores biológicos, como hereditariedade, podem estar ligados à origem dos cacoetes, assim como fatores psicológicos e ambientais: "Perturbações emocionais pioram ou desencadeiam os tiques e compulsões em pessoas predispostas. A prevalência encontra-se aumentada em transtornos neuropsiquiátricos como TOC (transtorno obssessivo compulsivo) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade", explicam os especialistas.

Situações muito excitantes, como o início de um namoro ou uma promoção no trabalho, junto com a ansiedade e o estresse, são agravantes dos tiques. Em situações que de relaxamento, eles tendem a diminuir. É só durante o sono que os portadores ficam horas sem apresentar nenhum desses movimentos ou sons involuntários.

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Os cacoetes mais comuns são os que envolvem os músculos da face, como piscar os olhos rapidamente repetidas vezes e sacudir a cabeça. Estes são chamados de motores. Tiques vocais como assobiar, pigarrear, fungar são mais raros. Pessoas de todas as idades podem ter, entretanto, os tiques e o TOC são mais freqüentes na infância, adolescência e no adulto jovem. Muitas vezes estes sintomas são transitórios e desaparecem com a idade.

Milton Rodrigues de Melo, 21, diz que possuem cacoetes desde os 8 anos de idade e garante que não consegue ficar muito tempo sem um: "Quando eu perco uma mania, logo começo com outra. Já tive trimilique, chacoalhava a cabeça, fungava. O pior era ficar fazendo barulho com a garganta. É chato, incomoda os outros", conta ele.

Entretanto, os médicos garantem que os tiques não causam dependência nem vício: Os tiques, muitas vezes, ocorrem sem o indivíduo saber e, apesar de se sentir compelido a realizá-los depois de percebê-los, ele o faz para obter um alívio. O que é bem diferente dos comportamentos ligados às dependências, que, pelo menos no início do quadro, estão associadas a vivências de prazer."

O principal fator de gravidade para um cacoete é o sofrimento vivenciado pelo paciente e a repercussão social acarretada pelos sintomas: "Há pacientes adaptados a tiques com ampla magnitude e outros que ficam profundamente incomodados por um discreto piscar de olhos".

Medicações e técnicas específicas de psicoterapia comportamental e cognitiva oferecem bons resultados para os pacientes. Estas técnicas possibilitam aos portadores conhecimento dos seus sintomas e dos fatores agravantes, além de promoverem aquisição de auto-controle.

Síndrome de Tourette
A Síndrome de Tourette foi descrita sistematicamente pela primeira vez em 1885 por Georges Gilles de La Tourette, que compilou os relatos já existentes na literatura da época e descreveu mais oito casos de pacientes que apresentavam mímica involuntária (tiques), repetição de palavras e atos realizados por outras pessoas (respectivamente, ecolalia e ecopraxia) e coprolalia (falar palavrões). Atualmente, algumas das características descritas por Tourette ainda continuam válidas, apesar das várias mudanças ocorridas neste período.

Atualizado em 6 Set 2011.