Guia da Semana

Comédias sobre pais acidentais não são exatamente uma novidade em Hollywood. A paternidade, aparentemente, faz com que os personagens amadureçam naturalmente, oferecendo aos roteiristas piadas fáceis de adultos infantis, crianças adultas e namoradas raivosas. A fórmula parecia infalível – até que o absurdo encontrou o clichê em De Repente Pai.

+ Confira salas e horários para assistir ao filme
+ Quer rir de verdade? Veja o espetáculo Comédia com Tudo
+ Veja as estreias da semana nos cinemas

Não que o filme, com Vince Vaughn, seja um desastre: o ator garante sua parcela de risadas, e há certas mensagens sobre a figura paterna que podem ser aproveitadas. Mas o longa – um remake do canadense Starbuck, apenas dois anos mais antigo (e dirigido pelo mesmo Ken Scott) – não consegue soar verossímil.

Doação de espermas, vocês sabem, é uma coisa cotidiana. E anônima, é claro. Por que, então, algumas centenas de jovens se uniriam para processar (isso mesmo, processar) o doador que ajudou suas mães a dar-lhes a luz? Não é um pai que abandonou a esposa grávida – vejam bem, é um doador. Ele tem o direito de permanecer anônimo, certo? Não para eles.

Qual é a motivação desses garotos? O que isso representa para seus pais de criação? As poucas questões que poderiam enriquecer a discussão e tornar toda a polêmica mais aceitável são deixadas de lado. Os 142 filhos (entre 533) que movem a ação contra o doador são apresentados como se fossem órfãos, independentes e sem qualquer apoio paterno. Além de inverossímil, a premissa faz um desfavor aos pais e mães que recorrem diariamente à fertilização em clínicas.

Vaughn interpreta esse doador, David Wozniak – um homem nos seus trinta e tantos anos considerado um irresponsável por sua família. A namorada, ele descobre por acaso, está grávida. Quando ele decide tomar um rumo na vida e assumir a criança, surge a revelação dos 533 rebentos – gerados, é claro, por alguns anos intensos de diversão solitária em troca de dinheiro, 20 anos antes.

Se a proposta parece engraçada, a decisão de colocar esses jovens juntos no tribunal, ou numa espécie de grupo de terapia, ou num Woodstock de final de semana como “irmãos” que se encontram e ajudam, certamente não é. Também não funciona bem o papel do amigo advogado, decidido a provar que pode ganhar “pelo menos uma vez”. Como pai das quatro crianças endemoniadas, como também é apresentado, ele se sai muito melhor.

Ironicamente, a revelação de Wozniak de que ele seria o doador (figura massacrada pela mídia) não provoca em seus amigos, pai ou mesmo em sua namorada nenhuma reação de espanto. Todos acreditam naquela história imediatamente, ao contrário do público, que, após alguns risinhos nervosos, provavelmente sairá da sessão para esquecê-la completamente.

Assista se você:

- Procura um filme para não pensar muito

- É fã de Vince Vaughn

Não assista se você:

- Está pensando em fazer uma inseminação artificial

- Quer ver uma comédia muito engraçada

Por Juliana Varella

Atualizado em 11 Jan 2014.