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Isabella Nardoni, 5 anos, foi espancada, estrangulada e arremessada pela janela do 6º andar no Edifício London. Os principais suspeitos são seu pai e a madrasta. Num outro caso, depois de denúncias anônimas, a polícia encontrou L., uma menina de 12 anos que era torturada por sua mãe adotiva, em Goiânia. Na cidade de Ribeirão Pires (SP), dois irmãos foram mortos e esquartejados por seu pai e a madrasta, os garotos tinham 12 e 13 anos. Esses casos aconteceram em 2008, chamaram a atenção da mídia e chocaram a população por mostrarem a crueldade da violência doméstica.
O problema atinge diferentes classes sociais e é considerado uma questão de saúde pública mundial. A UNICEF estima que todos os anos cerca de 275 milhões de crianças sofram agressões em casa. Segundo informações do Laboratório de Estudos da Criança (LACRI), entre 2000 e 2007, foram constatadas 532 mortes por causa desse tipo de violência, porém, os dados relativos ao Brasil não são precisos, já que, principalmente por falta de diagnóstico e queixas, apenas 10% dos casos são denunciados.
Os agressores são pessoas que mantêm contato diário com a criança. Segundo a especialista Maria Ângela Carneiro, "na maioria das vezes, são os próprios pais, padrastos, cuidadores e babás, pessoas nas quais a criança confia". Quem agride geralmente está fora de si, devido ao uso de álcool e drogas. Em situação de desemprego, a estrutura familiar também fica abalada e, em casos extremos, os chefes da família podem apelar para a violência contra a criança, já que esta é vista como um estorvo. Porém, sobre quadros em que o padrasto ou a madrasta comete o assassinato, Maria Ângela explica que "em casos de segundo ou terceiro casamento, o cônjuge sente inveja da relação estreita entre pai e filho. Acha que a criança representa concorrência. São pessoas inseguras que já apresentam algum distúrbio".
Cicatrizes
As agressões deixam marcas no corpo da criança, com pancadas que geram hematomas, hemorragias e fraturas, podendo causar deformações nos ossos, principalmente nos dedos e nas vértebras das vítimas. "É importante lembrar que a violência contra as crianças inclui várias formas que não só a física: a violência psicológica, a discriminação, a negligência e maus-tratos ferem e freqüentemente deixam seqüelas para toda a vida", ressalta a psicopedagoga Maria Irene Maluf.
Atenção
Quem se importa com o bem-estar do pequeno deve ficar atento a alguns detalhes como, por exemplo, a Síndrome do Bebê Sacudido (SBS), um conjunto de evidências que mostram quando a criança é chacoalhada bruscamente. O indício mais fácil de notar é a hemorragia da conjuntiva - mancha de sangue no branco do olho- além disso, a SBS é caracterizada por lesões cervicais e edemas cerebrais. As seqüelas interferem principalmente no desenvolvimento motor da criança.
Já a Síndrome da Criança Espancada é caracterizada pela presença de diversas lesões causadas por golpes, injúrias e traumatismos, determinando a morte em 25% dos casos. Esse termo foi substituído por Síndrome de Maus Tratos, que também inclui agressões psicológicas e negligência.
Quando os médicos ou professores percebem algum machucado suspeito na criança, precisam tomar atitudes legais e informar o caso ao Conselho Tutelar ou à Vara da Criança da Infância e da Juventude. Segundo a pediatra Tereza Uras, algumas vezes é fácil de identificar quando o menor sofreu maus tratos. "Os pais chegam e contam uma história qualquer. Outro dia, chegou uma mãe e disse que o filho tinha caído da escada", diz. Dessa forma, cabe ao médico consultar uma segunda opinião e redigir um documento às autoridades competentes.
Mesmo assim, a denúncia pode ser feita por qualquer pessoa que suspeite de abuso contra a criança, como um vizinho que ouve choros e gritarias constantes vindas da casa ao lado. Basta ligar para o Disque Denúncia (o número é 181) e fazer o depoimento anônimo. Assim, é possível evitar conseqüências mais graves.
Números da Violência Doméstica 275 milhões - crianças vítimas da violência no mundo* Apenas 10% da violência doméstica é denunciada** 159.754 - casos denunciados entre 1996 e 2007** 49.481 - crianças vítimas de violência física** 65.669 - casos de negligência** 10% - casos de abuso denunciados do total** 532 - crianças e adolescentes que morreram vítimas da violência doméstica entre 2000 e 2007*** 90 - bebês menores de 1 ano foram assassinados em 2002*** Um bebê morre a cada dez horas no Brasil*** |
*UNICEF
** Laboratório de Estudo da Criança - USP
***Ministério da Saúde - Pesquisa levantada pelo O Globo
Fontes:
Maria Ângela Barbato Carneiro
Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisa sobre o Brincar
PUC-SP
Maria Irene Maluf
Psicopedagoga
Editora da revista Psicopedagogia da Associação Brasileira de Psicopedagogia
Teresa Uras
Pediatra
Hospital Samaritano
ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância
Atualizado em 6 Set 2011.