Guia da Semana

Foto: TV Globo/Renato Rocha Miranda

Escrito nas Estrelas, a novela das 18h da Globo, que terminou no último 24 de setembro, chegou ao seu fim sem tropeços e com um saldo positivo. A trama espírita, escrita por Elizabeth Jhin, emocionou o público do horário e manteve uma audiência cativa e satisfatória para a emissora. E isso já é um grande mérito, se considerarmos esses tempos de audiência em declínio, em que o público troca a televisão aberta por outras formas de entretenimento.

Mas a autora brindou o telespectador comum com uma história baseada na emoção: a dor de um pai ao perder seu filho bom-moço e o sofrimento de uma Cinderela moderna, cheia de boas intenções, mas sem muita sorte e que acaba nas mãos de um vilão chantagista e cruel. Somado a isso, a "cereja deste bolo": o espírito do filho morto ronda o pai e a mocinha, por quem se apaixonara, questionando os mistérios que existem entre a vida e a morte.

Tudo isso vem bem a calhar num ano em que o cinema leva ao público a biografia de Chico Xavier e o romance espírita Nosso Lar - os maiores orçamentos e bilheterias de nosso cinema atual. Nesta onda espiritualista, a Globo ainda apresenta o seriado A Cura, em que o tema também é explorado. A doutrina de Allan Kardec (1804-1869, pedagogo francês codifcador da Doutrina Espírita ) nunca esteve tão em voga por aqui.

Talvez o maior trunfo da autora tenha sido a intenção de contar uma boa história sem a pretensão de ser didática. O Espiritismo apareceu apenas como pano de fundo, gerando assim várias possibilidades dramatúrgicas. Mesclando drama e humor com maestria, o que se viu foi uma novela movimentada, sem as habituais "barrigas" (aquele momento na trama em que nada acontece), numa produção bem cuidada, com direção segura (de Rogério Gomes) e elenco de primeira.

O grande destaque deste elenco foi Nathália Dill - a mocinha Viviane/Vitória da trama - que em nada lembrou sua protagonista anterior - Santinha da novela rural Paraíso. Nathália seguiu segura com sua personagem mostrando talento ao criar um tipo cativante, sem ser piegas, como talvez poderia acontecer com uma atriz menos preparada.

Humberto Martins mostrou um Ricardo (o pai que perde o filho na história) longe dos super-heróis descamisados, no que o ator acabou se especializando. Alexandre Nero esteve ótimo na pele do vilão sacana Gilmar, um tipo irritadinho e impaciente, cômico às vezes, mas, ao mesmo tempo, um canalha com as mulheres que colecionou ao longo da história, e cruel como o algoz de Viviane/Vitória.

O grande destaque do humor ficou por conta das vilãs risíveis Sofia, de Zezé Polessa, e sua cria Beatrizinha, de Débora Falabella. A química entre a dupla fez a diferença e o tratamento dados às suas personagens, com rompantes de maquiavelismo caricato, atingiu aquele tom que levava às gargalhadas. Ao talento das atrizes, somou-se o texto correto de Elizabeth Jhin.

Escrito nas Estrelas foi o segundo trabalho solo da autora, que mostrou tarimba, talento e competência para levar ao ar mais histórias cativantes como esta. Os mistérios entre a vida e a morte continuarão, assim como os mistérios que envolvem a audiência e nossa televisão atual, ávida por fórmulas mágicas para atrair o público.


Quem é o colunista: Nilson Xavier.

O que faz: Autor do "Almanaque da Telenovela Brasileira" e criador do site Teledramaturgia.

Pecado Gastronômico: doces e sobremesas.

Melhor lugar do mundo: São Paulo.

O que está ouvindo no carro, mp3, iPod: quase um pouco de quase tudo.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 10 Abr 2012.