No ar há algumas semanas, a série Afinal, o que Querem as Mulheres? é mais um produto televisivo com o DNA do diretor Luiz Fernando Carvalho. O diretor tem status diferenciado na Globo: vem realizando peças autorais, tem mais tempo para a execução das mesmas e é conhecido pela intensa preparação de atores que promove a cada nova empreitada.
Seu mais recente trabalho na telinha foi o Projeto Quadrante, que previa a execução de quatro microsséries baseadas em clássicos da literatura. A ideia era utilizar autores de diferentes regiões do país, adaptando-os em suas terras natais, utilizando atores e mão-de-obra locais. O Projeto Quadrante rendeu duas microsséries: a hermética A Pedra do Reino, de 2007, e a interessante Capitu, de 2008. Dois Irmãos e Dançar Tango em Porto Alegre seriam as próximas produções, mas o Projeto Quadrante está, ao menos por enquanto, paralisado.
A Pedra do Reino e Capitu tem características em comum: a narrativa não-linear, as interpretações teatrais, cenários surreais, takes de câmera e cortes diferenciados, cores intensas...Características que apareceram no trabalho televisivo de Luiz Fernando Carvalho em maior grau a partir de Hoje É Dia de Maria, bem-sucedida minissérie que emplacou duas temporadas em 2005.
Talvez por terem sido consideradas de difícil compreensão, as minisséries do Projeto Quadrante foram deixadas de lado e o diretor, agora, aposta em Afinal, o que Querem as Mulheres? A trama apresenta um argumento mais palatável, o que a torna, nem que seja ao menos um pouco, mais "popular" que Capitu. A história do doutorando em psicologia que publica um livro buscando responder à famosa indagação do doutor Freud, mas que não consegue compreender a própria mulher, aproxima o conflito ao público.
Mesmo assim, lá estão as cenas com a marca do diretor. Passagens aceleradas se misturam a outras mais lentas, cenas inseridas representando sentimentos, ao invés de ações, quadros com uma única cor predominante, além da trilha sonora diferenciada tornam Afinal, o que Querem as Mulheres? um meio-termo entre o Projeto Quadrante e uma série televisiva mais "comum". Não é difícil notar a tal da preparação a que os atores que trabalham com Carvalho se submetem: basta observar as cenas de Vera Fischer, por exemplo, muito boas!
Michel Melamed, o protagonista André Newman, repete com o diretor a dobradinha de Capitu, mas agora aparece não só no elenco, como também no argumento e na trilha sonora da série. Um grande encontro, cujo belíssimo resultado pode ser visto às quintas-feiras, por volta das 23h30, na Globo.
Atitude louvável da emissora de oferecer um espaço em sua grade para atrações diferenciadas como Afinal, o que Querem as Mulheres? Afinal, a emissora sabe bem que não se trata de um produto feito para dar Ibope e, mesmo assim, o colocou no confronto direto com A Fazenda da Record. A série não vai explodir na audiência, mas é inegável que a experimentação é a chave para que a narrativa televisiva possa seguir evoluindo.
Leia as colunas anteriores de André Santana:
Vale a pena ver de novo?
Malhação: celeiro de revelações
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Atualizado em 10 Abr 2012.
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