Guia da Semana

Por Emerson Viana

Quase 50 anos se passaram, mas ele continua vagando por aí à procura da mulher superior, aquela que lhe dará o tão desejado herdeiro perfeito. Chapéu e capa preta, barba por fazer e unhas enormes são marcas registradas de um dos primeiros personagens de terror - para não dizer o mais importante - do cinema nacional.

O coveiro Zé do Caixão, criado e interpretado pelo paulista José Mojica Marins, 75, parece ganhar ainda mais força no Halloween. “Desde que surgiu o Zé do Caixão, sempre deram preferência a esse período dado à mística da época”, confirma o cineasta e roteirista, uma espécie de guardião de Josefel Zanatas, real nome do personagem.

Mojica, que curiosamente nasceu em uma sexta-feira 13, considerado dia de azar pelos mais supersticiosos, leva uma vida muito menos “obscura” do que a maioria imagina. “Não vou nesses bailes cheios de loucuras. A gente [referindo-se à companheira Edineide Silva, que é 48 anos mais jovem] procura uma coisa mais calma, mais gostosa”, afirma.

Residindo no Centro de São Paulo, o cineasta e roteirista conta como gosta de se divertir nas horas vagas e fala um pouco mais sobre Zé do Caixão, que, segundo ele, “não é um cara tão mau [...] ele procura somente eliminar o que tenta entrar no caminho dele”.

* Direto das catacumbas

Guia da Semana: Se alguém perguntar para o Zé do Caixão “travessuras ou gostosuras?”, o que ele responde?
José Mojica Marins: Eu acho que o Zé ficará com os dois: travessurras e gostosuras. Porque, para se chegar a algum lugar, você tem que ser meio travesso, como uma criança. E o que é gostoso você não vai querer largar.

O que tem feito atualmente?
Muitas viagens para palestras, entrevistas, oficinas de cinema e comerciais.

Como nasceu o personagem Zé do Caixão?
Foi em 1963. Eu não tinha feito grandes sucessos, mas as coisas iam bem. Ficava à noite apavorado pensando o que podia fazer em terror. Gostava, mas tinha vergonha de falar, porque ninguém tentava fazer aqui. Foi então que, no dia 11 de outubro de 1963, tive um pesadelo: um ser de preto me tirava da cama, me levava até o cemitério, abria um túmulo e me jogava dentro. Nele, vi o que depois seria o Zé do Caixão. Acordei assustado e considerei aquilo uma mensagem. Pensei: tem que ser terror e nada mais importa.

E ele ainda vive?
Ele ainda está procurando a companheira superior (O Zé do Caixão, hein! Eu não, eu já tenho [risos]). Mas o personagem ainda não encontrou a mulher que ele acha que daria o filho superior para ser o seu sucessor. Ele está procurando, né?! Logo mais, vocês vão poder ver um pouco mais no filme Maldito, que é a biografia do Zé do Caixão, feito pela produtora Ioiô.

Que características deve ter essa mulher?
Ele quer uma mulher que se compara a Anita Garibaldi, a Evita... aquela mulher de coragem, quase uma deusa, para que nasça um gênio. Essa é a ideia dele.

O Zé do Caixão é um ser mal? Você acha que as pessoas têm ou já tiveram medo dele?
Acho que já tiveram muito medo. Não vejo ele tão mal pelo fato de querer proteger as crianças, que realmente são o futuro do mundo. Não é um cara tão mau como se fala. Ele procura somente eliminar o que tenta entrar no caminho dele, que pode impedi-lo de completar o que a natureza lhe propôs: achar a mulher que ele escolheu.

E por que você acha que o Zé do Caixão se tornou tão simbólico?
Apesar de ser um país de tantas lendas e folclores, o Brasil estava muito carente. Ninguém se jogava nesse gênero de terror. E acho que por eu ser o primeiro a fazer um personagem diferente, mas tupiniquim... nosso, bem brasileiro! E não deu outra, né, passou a fazer parte do Brasil. Fala-se muito contra ele, mas não surge nenhum com força para substituí-lo.

* Por trás da capa preta

Do que o José Mojica Marins tem medo, se é que existe algo?
O José Mojica Marins tem medo da morte por não saber o que o espera. Tem medo do dia seguinte, dessa violência que está imposta cada vez mais em nosso país. Ele chega até a pensar que o Zé do Caixão poderia sair da ficção e ser seu protetor.

Você reage bem ao assédio das pessoas nas ruas?
No passado, quando eu deixava as unhas cumpridas, era terrível. Como eu cortei todas, porque elas estavam me atrofiando as mãos, melhorou a minha liberdade. Colocando uma roupa branca, também não sou muito reconhecido. Agora, quando eu visto preto, que eu gosto muito, as pessoas me reconhecem e querem fotos, autógrafos. Eu apenas procuro evitar quando eu saio com ela [Edineide].

Como analisa a diferença de idade entre você e sua esposa?
A diferença não é muita, né?! Ela tem 28 e eu 75, coisa mínima [risos]. Ela me enxerga como um rapaz de trinta e poucos. A gente se sente bem porque a mente não envelhece. A gente se dá muito bem, não há discussões; quando acontecem, são bobinhas.

O que gosta de ouvir?
Apesar do pessoal que ouve rock se identificar com o Zé do Caixão, eu não gosto muito do ritmo. Eu gosto do Francisco Alves, Angela Maria, entre tantos outros que deixaram coisas bonitas. Gosto daquelas músicas fortes, caso de Inezita Barroso.

Vocês costumam sair à noite?
Essa é a única coisa que eu acho que ela deve me cobrar internamente, mas não me força muito. Quando é algo que traga um bem estar a mim, eu vou. Não vou nesses bailes cheios de loucuras. A gente procura uma coisa mais calma, mais gostosa. Vamos muito para litoral e, assim, a gente se dá muito bem.

* Curioso para encontrar José Mojica Marins? Veja por onde ele anda em São Paulo

É fácil me ver na São João, Praça da Sé, República e Arouche...

...restaurante, eu vou no O Gato Que Ri, ali no Arouche. Ele tem mais de 60 anos e abre em qualquer dia da semana. Gosto não só a maneira de servir, mas da variedade: carnes, peixes e crustáceos...

...Museu do Ipiranga, que faz parte da história do Brasil...

...ia bastante também no Museu da Imagem e do Som ver determinas coisas...

...às vezes, dou uma chegada no Horto Florestal...

...acho que essas são coisas que eu me apego e que agradam a minha companheira

Atualizado em 10 Abr 2012.