Guia da Semana

Vocês já pararam para pensar na insensatez que é um Oscar? Todos os anos, esse evento de proporções gigantescas faz milhões de pessoas sintonizarem suas TVs (ou computadores, tablets, celulares...) ao mesmo tempo – por aqui, sempre num domingo à noite, para a infelicidade de quem trabalha ou estuda na segunda-feira de manhã. Não bastasse, essas poucas horas de glamour rendem debates e matérias incansáveis para o ano todo – e para os anos seguintes.

Com todo esse frisson, até o mais bem informado dos cinéfilos tende a achar que o Oscar é a maior e melhor coisa que poderia acontecer a qualquer filme: garantia de fama eterna, respeito, um trabalho a ser estudado pelos próximos especialistas... Mas não. Na verdade, o prêmio da Academia (leia: profissionais que trabalham diretamente com cinema, massageando o próprio ego com vestidos longos e gravatas-borboleta) passa bem longe disso.

Alguns dos filmes mais consagrados jamais venceram um Oscar (pelo menos, não na categoria principal). Outros, nem mesmo foram indicados. Do outro lado, alguns vencedores caíram no esquecimento rapidamente, como tantos blockbusters que passam pelos nossos olhos anualmente. É compreensível: nem sempre reconhecemos um clássico quando o vemos, não é mesmo?

Para aquecer os motores para a cerimônia deste ano, que acontece no dia 2 de março, e também para reduzir um pouco as expectativas sobre “qual será o melhor filme”, o Guia da Semana selecionou 10 clássicos que jamais ganharam a estatueta mais desejada da noite – e mesmo assim continuam firmes e fortes na memória do público. Confiram:

O Grande Ditador (Charles Chaplin)

Ano em que concorreu: 1941

Quem venceu o Oscar naquele ano: Rebecca (Alfred Hitchcock)

Certo, estamos falando de Hitchcock e Chaplin, dois gênios do cinema. Mas, enquanto Rebecca ganhou dois Oscars naquela noite, O Grande Ditador (indicado a cinco) não levou nenhum. O filme foi o primeiro inteiramente falado de Chaplin e fez uma sátira sobre a Segunda Guerra, com um discurso imitando Hitler que se tornou um dos mais famosos da História do cinema.

Cidadão Kane (Orson Welles)


Ano em que concorreu: 1942

Quem venceu o Oscar naquele ano: Como era Verde o Meu Vale (John Ford)

Durante 50 anos, Cidadão Kane foi considerado o “melhor filme do mundo” pelos críticos internacionais, que o colocaram no topo da lista da revista Sight and Sound (realizada a cada dez anos). Era de se esperar que o filme, que narra a trajetória de um magnata da comunicação, seria eleito o melhor do ano, certo? Errado. “Kane” foi indicado a 9 Oscars e venceu apenas o de Melhor Roteiro.

Um Corpo que Cai (Alfred Hitchcock)

Ano em que concorreu: 1959

Quem venceu o Oscar naquele ano: Gigi (Vincente Minnelli)

Depois dos 50 anos de hegemonia de Orson Welles, quem assumiu o posto de “melhor filme do mundo” para os críticos (em 2012) foi Um Corpo que Cai, de Hitchcock. O suspense abusa de tramas falsas para entorpecer o leitor a um estado de “vertigem”, como o nome original sugere. O filme foi indicado a duas categorias técnicas e saiu de mãos abanando.

2001: Uma Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick)


Ano em que concorreu: 1969

Quem venceu o Oscar naquele ano: Oliver! (Carol Reed)

Stanley Kubrick é um dos exemplos mais evidentes de que, às vezes, a Academia erra feio. O diretor, que lançou poucos filmes, mas todos extremamente cultuados, ganhou um único Oscar em vida: o de Efeitos Especiais por 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Efeitos especiais, mesmo? O filme (que também rendeu um livro, escrito paralelamente à produção) se arriscou numa aventura espacial enquanto a Nasa ainda tentava levar o homem à lua, previu tecnologias reais como o IPad e lançou a questão que se tornaria o cerne de toda uma geração: e se o computador se voltasse contra o homem? (Nota: o filme não foi nem indicado à categoria principal).

O Exorcista (William Friedkin)


Ano em que concorreu: 1974

Quem venceu o Oscar naquele ano: Golpe de Mestre (George Roy Hill)

Não tivessem os jurados sido tão apressados, Friedkin teria seu Oscar no momento certo (e não por Operação França, de 1971). O Exorcista, 9ª maior bilheteria de todos os tempos (corrigida), se tornou um ícone para o cinema de horror, explorando também o suspense e um profundo drama pessoal do protagonista, e tenta ser imitado até hoje sem sucesso. O filme levou o Oscar por Melhor Roteiro Adaptado e Som.

Guerra nas Estrelas (George Lucas)


Ano em que concorreu: 1978

Quem venceu o Oscar naquele ano: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Woody Allen)

Olhe à sua volta. Quantos Darth Vaders, C3POs, sabres de luz e Yodas você vê? A febre por Star Wars (ou Guerra nas Estrelas, como preferir) já dura mais de 30 anos e deve se renovar por mais algumas décadas, se a Disney fizer um bom trabalho com a marca. O filme que deu origem a tudo isso, lançado em 77, foi o rei das categorias técnicas, mas perdeu para Woody Allen nos prêmios principais. (Neste caso, a briga foi quase justa).

O Iluminado (Stanley Kubrick)


Ano em que deveria ter concorrido: 1981

Quem venceu o Oscar naquele ano: Gente Como a Gente (Robert Redford)

É isso mesmo: O Iluminado, um dos filmes de terror mais lembrados de todos os tempos, com uma das melhores (senão a melhor) atuação da carreira de Jack Nicholson, nunca foi indicado a um Oscar. Em nenhuma categoria – nem mesmo a de Melhor Ator. Precisa dizer mais? O filme conta a história de uma família que vai morar num hotel isolado, onde estranhas aparições vão enlouquecendo o pai e o filho pequeno. Inspirado num livro de Stephen King.

E.T. O Extraterrestre (Steven Spielberg)


Ano em que concorreu: 1983

Quem venceu o Oscar naquele ano: Gandhi (Richard Attenborough)

Sejamos justos: E.T. ganhou, sim, quatro Oscars. Mas todos foram em categorias técnicas, e não nas badaladas estatuetas de Melhor Filme e Diretor, nem mesmo Roteiro. Isso, para um dos mais populares filmes de Spielberg, é curioso – mas, aparentemente, a Academia prefere sua versão “séria”, mostrada em O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler (ambos premiados). Gandhi, por sua vez, ganhou oito estatuetas (e, desde então, não deixou grandes heranças para outros cineastas).

Se7en: os Sete Pecados Capitais (David Fincher)


Ano em que concorreu: 1996

Quem venceu o Oscar naquele ano: Coração Valente (Mel Gibson)

Coração Valente é um bom filme, é claro... Mas ganhar em cinco categorias, incluindo Melhor Filme e Direção, quando David Fincher estava em jogo? Fincher, aliás, jamais ganhou um Oscar, nem mesmo por Clube da Luta (indicado apenas por efeitos de som). Se7en, inspiração para os suspenses que analisariam a mente de serial killers pelas próximas décadas, acabou indicado apenas na categoria de edição e não levou nada.

A Origem (Christopher Nolan)


Ano em que concorreu: 2011

Quem venceu o Oscar naquele ano: O Discurso do Rei (Tom Hooper)

É difícil afirmar quem deveria ter vencido o Oscar em 2011, mas a disputa certa era entre A Origem e Cisne Negro e o resultado decepcionou muitos fãs. O filme de Nolan, porém, parece trazer uma semente mais promissora para o cinema como um todo: a ideia é criativa, fala com a atualidade e mexe (muito) com nossa imaginação. Como um Matrix menos filosófico, A Origem brinca com conceitos de realidade e sonho e desafia a capacidade de concentração e de criação de seu espectador. O que ganhou? Quatro Oscars, em categorias técnicas.

Por Juliana Varella

Atualizado em 8 Dez 2015.