Guia da Semana

Uma nova versão do conto de fadas “A Bela e a Fera” está chegando aos cinemas. É francesa e infantil – combinação difícil para um cinema conhecido pela sensualidade e pelo drama. O filme tem direção de Christophe Gans e traz a ousada combinação de Léa Seydoux ("Azul é a Cor Mais Quente") e Vincent Cassel ("Cisne Negro") nos papéis principais.

Para atrair o público mirim, a produção investiu em cenários majestosos e digitais, buscando um visual próximo de “Alice no País das Maravilhas” ou “Malévola”. Além disso, o roteiro incluiu criaturinhas supostamente simpáticas, tentando suprir a falta das louças falantes que cativaram os pequenos no desenho clássico da Disney.

Como o conto original é francês (escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve no século XVIII), grande parte da história segue essa versão. O pai de Bela, por exemplo, é um mercador que perdeu tudo durante um naufrágio. A heroína tem duas irmãs e três irmãos, e é a mais nova. Seu pai é ameaçado pela Fera ao tentar pegar uma rosa de seu jardim, depois de gozar da hospitalidade e das riquezas do monstro.

As diferenças aparecem a partir do segundo ato, quando Bela finalmente vai ao castelo em troca da vida de seu pai. O que vinha se construindo como um drama familiar (já que Bela era invejada pelas irmãs e um dos irmãos estava metido em problemas) começa a se transformar num romance pouco convincente.

Ao contrário do conto e até da versão animada, esta Fera não tem longas conversas com Bela nem tenta conquistá-la pelo intelecto, mas sim pela força. Distribui ordens como um general e enche sua hóspede de presentes como se fosse uma obrigação. Mesmo assim, ela sonha com o passado da Fera e tenta descobrir seus segredos.

Esse passado, no caso, foi totalmente reinventado para o longa, envolvendo um deus da floresta no lugar da bruxa (será que bruxas estão fora de moda?) e uma grande história de amor. Também é novo o personagem Perducas, que serve de antagonista para a Fera e que conduz a história para um desfecho hollywoodiano.

Se sobra tensão sexual na relação entre Bela e a Fera, falta sutileza em todo o resto: o humor é forçado, os gracejos infantis são mal colocados, a batalha épica é barulhenta e sem emoção. Como uma superprodução, o filme acerta no design de ambientes, na cor e figurino, mas erra nas criaturas mágicas; acerta no elenco, mas erra no tom. Tudo parece ter passado um pouco do ponto... A receita desandou.

Assista se você:

  • É fã de contos de fadas
  • Quer ver uma produção francesa com estilo hollywoodiano
  • Quer ver o filme pela cor e pelo design

Não assista se você:

  • Espera ver uma versão adulta do conto
  • Procura um filme tão divertido quanto o desenho de 1991
  • Espera ver um filme mais autoral

Por Juliana Varella

Atualizado em 23 Set 2014.