Guia da Semana

Los Angeles


A combinação de talentos vista em A Troca é peculiar e memorável. Com roteiro de J. Michael Straczynski (o criador da série Babylon 5), direção de ninguém menos que Clint Eastwood e uma atuação impecável de Angelina Jolie, o filme faz por merecer as indicações a Melhor Atriz, Fotografia e Direção de Arte e não seria surpresa ver Clint entre os diretores, porém, assim como sua formidável atuação em Gran Torino, o astro foi solenemente ignorado pela Academia no ano em que O Curioso Caso de Benjamin Button aponta como franco favorito.

Há tempos Angelina Jolie não impressionava pelo aspecto dramático, com quem fez as pazes em A Troca. Imbuída de todo o sentimento maternal que esbanja com sua legião de filhos, ela conseguiu entregar grande dignidade à reconstrução de Christine Collins, um ícone da luta pelos direitos civis aqui em Los Angeles. Diferente das militantes de Iron Jawed Angels, com Hilary Swank Frances O´Connor, a personagem de Jolie é uma mãe desesperada na década de 20, numa Los Angeles ainda comandada por policiais corruptos e, em sua maioria, incompetentes. É aquela realidade de Los Angeles - Cidade Proibida, mas sem Russell Crowe para salvar o dia.

O filho de Christine desapareceu e a polícia pouco faz para encontrá-lo. Meses mais tarde, um garoto é encontrado e o comando da polícia acredita ser o pequeno Walter Collins. Mas eles estavam errados. Christine reconhece o engano imediatamente, mas a polícia não pode arcar com o erro e a inevitável crítica da opinião pública. Começava aí um drama maior ainda na vida dessa mulher que, depois de perder o filho, vê um estranho em sua casa. O machismo exacerbado daquela época impedia que uma mulher contestasse as autoridades.

Se o inferno com a perda do filho era horrível, o que dizer de uma instituição médica especializada em "silenciar" mulheres que se recusavam a aceitar as agressões e humilhações de uma polícia corrupta e incapaz? A Troca é um soco no estômago de quem reclama da vida nos dias de hoje, afinal, mesmo na Los Angeles dos anos 20, ainda existia uma situação de semiservidão social aberta.

O visual das mulheres da época caiu como uma luva para Angelina Jolie que consegue se manter bonita e estilosa, enquanto demonstra grande capacidade dramática e intensa. O espectador não pensa duas vezes antes de se envolver na trama e, claro, de compartilhar a dor da personagem. Clint fez valer sua experiência, com extremo bom gosto ao compor esse longa-metragem, sem exageros e com a tranquilidade necessária para que a história se desenrolasse.

Toda a incompetência policial, porém, tem uma exceção no papel de Michel Kelly, um investigador especializado em crianças desaparecidas, que descobre um caso hediondo e histórico para a Califórnia. É o último elemento que compõe a triste história de Christine Collins. Kelly contribuiu fantasticamente para o filme e, dadas as proporções, de maneira até mais efetiva que o reverendo engajado na luta contra a corrupção policial, interpretado por John Malkovich.

A Troca marca por sua história impactante e verídica, grandes atuações e uma direção sempre bem vinda de Clint Eastwood que, mesmo ignorado pela Academia, merece destaque na produção de 2008. Tudo é verossímil nesse filme. Clint soube aumentar o nível de emoção sem exagerar, coisa que poucos conseguem hoje em dia. É um filme inesquecível, de beleza particular.


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.


Atualizado em 6 Set 2011.