Por Gabriela Guimarães
Fotos: Divulgação / IMDb
Warren Beatty e Natalie Wood em Clamor do Sexo
A recente morte da atriz Elizabeth Taylor trouxe à tona uma série de retrospectivas da sua carreira cinematográfica. E se tem algo que a trajetória da estrela de Cleópatra ilustra é como a indústria cinematográfica evoluiu ao longo da segunda metade do século 20 com a ascensão da figura da mulher como símbolo da delicadeza, beleza e força. As atrizes consagradas de hoje, como Glenn Close, Meryl Streep, além das mais jovens Angelina Jolie, Kate Winslet e Natalie Portman, beberam na fonte de estrelas contemporâneas à dama dos olhos violetas.
Em homenagem a algumas dessas divas, selecionamos cinco estrelas de filmes que completam 50 anos em 2011: Natalie Wood, Delphine Seyrig, Anna Karina, Jeanne Moreau, Audrey Hepburn. Confira um pouco sobre a carreira e as interpretações mais marcantes de cada uma:
Natalie Wood:
Dona de um rosto angelical, a norte-americana Natalie Wood (1938-1981) deu um show à parte ao interpretar Deanie Loomis na obra-prima de Elia Kazan, Clamor do Sexo (Splendor in the Grass, 1961). A história da jovem pudica se passa em meio à repressão sexual de 1928, em uma cidadezinha do estado do Kansas, onde os ritmos do jazz e do jive tomam conta dos corpos em esplendor de Deanie e de seu namorado Bud (estreia de Warren Beatty nas telonas). O desespero dos jovens é tanto que a protagonista resolve se internar em uma clínica psiquiátrica por dois anos e meio, mudando de vez a trajetória do romance.
O título do filme se refere a um verso do livro Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood, de William Wordsworth, que traduz toda a angústia vivida pelo casal: "A luz que brilhava tão intensamente / Foi agora arrancada dos meus olhos, / E embora nada possa devolver os momentos / De esplendor na relva e glória nas flores, / Não sofreremos, melhor, / Encontraremos força no que ficou para trás". Uma história de amor que jamais poderia ser banalizada nas mãos de Kazan.
Ainda em 1961, Wood interpretou brilhantemente Maria na produção musical Amor, Sublime Amor (West Side Story), dos diretores Jerome Robbins e Robert Wise. O filme retrata uma espécie de Romeu e Julieta dos anos 50, em meio ao romance conturbado entre Maria, irmã do líder da gangue Sharks (composto por imigrantes porto-riquenhos), e Tony, ex-líder da gangue rival, os Jets (formado por brancos anglo-saxônicos). O longa venceu dez categorias do Oscar de 1962, entre eles melhor filme, melhor direção e atriz coadjuvante para Rita Moreno.
Richard Beymer e Natalie Wood em Amor, Sublime Amor
Delphine Seyrig:
Estrelado pela atriz libanesa Delphine Seyrig (1932-1990), o polêmico e delirante O Ano Passado em Marienbad (Last Year At Marienbad, 1961), do renomado cineasta Alain Resnais, foi um marco do período do cinema francês denominado Nouvelle Vague. Rodado em preto e branco, o longa gira em torno de um triângulo amoroso formado por um desconhecido hóspede de um luxuoso hotel, personagem X (o italiano Giorgio Albertazzi), que faz a todo custo a mulher, intitulada A (Delphine Seyrig), lembrar-se do romance que viveram um ano antes, no mesmo lugar, em Marienbad.
A, casada com M (o suíço Sacha Pitoëff), tenta se livrar da presença de X, mas não consegue. Pouco a pouco o misterioso homem usará o método do escritor Marcel Proust, em seu livro Em Busca do Tempo Perdido, tentando criar lembranças involuntárias em A, ao ponto dela reviver momentos que podem ou não fazer parte de sua vida real.
Resnais criou um clima intimista e não se preocupou em filmar uma história linear, mérito que foi reconhecido pela indústria cinematográfica da época ao indicar o filme ao Oscar de melhor roteiro original, em 1962. Para quem ainda não conhece muito do cinema europeu, O Ano Passado em Marienbad é uma obra para se deliciar sem culpa se entendeu ou não o que o diretor quis transmitir, ou, talvez após a exibição, ter uma sensação de que teve várias percepções a respeito deste triângulo amoroso.
Anna Karina:
Um dos mais enigmáticos cineastas do século 20, o francês Jean-Luc Godard já mostrava a que vinha em uma de suas primeiras películas, o primoroso Uma Mulher é Uma Mulher (Une Femme Est Une Femme, 1961). O filme é protagonizado pela atriz dinamarquesa Anna Karina (nascida em 1940), na pele da estonteante stripper Angela, que tenta convencer seu namorado, o ciclista Émile (Jean-Claude Brialy), a ter um filho, mas isso não está nos planos dele.
Diante da negativa de Émile, a dançarina recorre ao seu vizinho e grande amigo, Alfred (Jean-Paul Belmondo), para lhe ajudar a realizar o sonho de se tornar mãe. O que Angela ainda não sabe é que Alfred é completamente apaixonado por ela, criando a partir daí uma série de confusões, que poderiam ser facilmente filmadas, se o diretor em questão não fosse Godard. Uma Mulher é Uma Mulher é uma deliciosa comédia em que Godard, que ainda hoje aos 80 anos está em atividade, deixa claro que a protagonista quer apenas ser uma mulher como todas as outras.
Audrey Hepburn:
Baseada na obra homônima de Truman Capote, a comédia romântica Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany´s, 1961), dirigida por Blake Edwards (1922-2010), trouxe no papel da garota de programa nova-iorquina Holly a atriz belga Audrey Hepburn (1929-1993). O enredo gira em torno de Holly, que se muda para a cidade grande sonhando em se casar com um milionário. Mas sua realidade é bem diferente: ela se torna uma garota de programa, agenciada por um mafioso que rege seus negócios de dentro de uma penitenciária.
A inocente mocinha passa a ser bancada por ele, vivendo em um apartamento, onde tem como vizinho o escritor Paul "Fred" Varjak (o ator norte-americano George Peppard, 1928-1994), que é sustentado por uma amante, a ricaça Sra. Failenson (Patricia Neal).
Holly enxergará em Fred um homem confiável, que não a vê como um produto, e sim como um ser humano, e faz com que ela lhe entregue seus bens mais preciosos, seu amor e sua amizade.
Uma das cenas mais marcantes desse são os cafés da manhã da protagonista em frente à famosa joalheria Tiffany´s, que faz reverência ao título original dessa deliciosa produção, que foi um marco do cinema norte-americano, eternizando Audrey Hepburn.
Audrey Hepburn (ao centro) em Bonequinha de Luxo
Jeanne Moreau:
Uma das musas do cinema francês, que já brilhou em produções de diretores como François Truffaut (1932-1984), Louis Malle (1932-1995) e Orson Wells (1915-1985), a atriz francesa Jeanne Moreau (nascida em 1928) viveu a insatisfeita esposa Lídia no drama A Noite (La Notte, 1961), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007).
A história se passa em uma noite, em que o casal Lídia e Giovanni (Marcello Mastroianni), após dez anos de casamento, reavaliam os motivos de a união ter afundado. Em meio a casos extraconjugais e compromissos sociais, os dois sentem uma profunda solidão, além do silêncio que tomou conta dessa relação instável. Esta é a segunda parte da trilogia que Antonioni filmou, iniciada com A Aventura (1960) e terminada com O Eclipse (1962). A produção é um deleite para os amantes da sétima arte.
Ficha Técnica: Direção: Elia Kazan Elenco: Natalie Wood, Warren Beatty, Pat Hingle Tempo de duração: 124 min Ano de lançamento: 1961 Amor, Sublime Amor Título original: West Side Story Direção: Jerome Robbins, Robert Wise Elenco: Natalie Wood, George Chakiris, Rita Moreno Tempo de duração: 152 min Ano de lançamento: 1961
O Ano Passado em Marienbad Título original: L´année dernière à Marienbad Direção: Alain Resnais Elenco: Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi, Sacha Pitoëff Tempo de duração: 94 min Ano de lançamento: 1961 A Noite Título original: La Notte Direção: Michelangelo Antonioni Elenco: Jeanne Moreau, Mascello Mastroianni, Monica Vitti Tempo de Duração: 115 min Ano de Lançamento:1961 Uma Mulher é Uma Mulher Título original: Une Femme Est Une Femme Direção: Jean-Luc Godard Elenco: Anna Karina, Jean-Claude Brialy, Jean-Paul Belmondo Tempo de duração: 85 min Ano de lançamento: 1961
Bonequinha de Luxo Título original: Breakfast at Tiffany´s Direção: Blake Edwards Elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal Tempo de duração: 115 min Ano de lançamento: 1961 |
Atualizado em 10 Abr 2012.