Foto: Getty Images
Serviços e tecnologia serão diferenciais no cinema do futuro
Há cada vez mais formas de consumir cinema. Isso pode até não mudar muito a maneira como o público recebe e aprecia a obra em si, mas aponta novidades na hora de entender como esse mesmo público gasta seu tempo com cultura.
Num país de tamanhos continentais e de diferenças regionais como o Brasil, fica difícil fazer generalizações. Só para se ter um exemplo, das 2.098 salas de cinema em todo o território nacional, 1.244 estão no Sudeste enquanto a região Norte detém apenas 60 espaços. A concentração e desigualdade se repete dentro da região mais rica do país. No estado de São Paulo são 722 salas. Já no Espírito Santo, apenas 50. Os dados são do Ministério da Cultura.
A concentração na distribuição de salas acompanha também o tamanho do bolso do público cativo. Estudo de 2003 da professora Isaura Botelho feito na grande São Paulo mostra que, enquanto 21,5% do público formado pela classe A/B vai ao cinema de uma vez por semana a mais de duas vezes por mês, na classe C essa porcentagem cai para 7%. Já a fatia que não viu nenhum filme no último ano crava 67% da classe C. Na classe A/B o índice também é considerado alto, mas bem menor: 39,7%.
Passado público, futuro privado
Cinema é a maior diversão, é o maior barato. Porém, diante dos dados, esses lemas soam antigos e defasados. As salas se multiplicaram, mas seus tamanhos reduziram. Assim como a oferta de filmes. Hoje há mais títulos disponíveis, porém, é cada vez menor o tempo de permanência em cartaz.
Mesmo com todo esse cenário, o cinema ainda é o produto cultural mais consumido pelos brasileiros quando a diversão é fora de casa. A força das novas tecnologias e estratégias das empresas exibidoras têm mudado os hábitos de compra, fazendo desse consumo algo mais elaborado e programado.
Foto: Divulgação
O sucesso Tropa de Elite 2 - procura da pré-estreia domina os canais da web
Thiago Barbosa, 26 anos, trabalha na área médica e é apaixonado por cinema, com um consumo bem acima da média, quase duas sessões por semana. Para manter o ritmo e ganhar tempo, compra os ingressos pela internet. "Como saio tarde do trabalho, é mais viável acessar a web, imprimir e ir direto para a sessão", explica. Para assistir ao Tropa de Elite 2, o jovem adquiriu o ingresso pela internet na quarta-feira anterior à pré-estreia, realizada na sexta-feira. "Já um amigo foi três vezes ao cinema tentar assistir ao mesmo filme no final de semana e não conseguiu porque as salas estavam todas lotadas," comenta.
Para o jovem, salas com novas tecnologias, como o sistema 3D, oferecido na sala Imax do Unibanco Pompeia, são espaços quase impossíveis de se conseguir comprar assentos diretamente no guichê. "Em cinemas de rua com circuito mundial e dito alternativo, é mais fácil, mas em grandes eventos é também bem difícil", comenta Thiago, que preferiu garantir os ingressos da 34ª Mostra de Cinema sempre com antecedência. No único filme no qual comprou direto da bilheteria, não encontrou um assento sequer.
Já a carioca Magali Cecília da Cunha tem 30 anos, é bancária e mãe de dois filhos, de 9 e 2 anos. Ainda pouco afeita às facilidades dos sites de ingresso, admite que ir ao cinema tem exigido mais dela ultimamente. "Nas minhas férias, levei bastante os meninos ao cinema. Apesar de utilizar a web para conferir o horário, prefiro ainda comprar diretamente no guichê. No entanto, as salas dos cinemas São Luiz e Botafogo Praia Shopping já oferecem um terminal automático para cartões de crédito de uma determinada bandeira. Não deixaria de ir ao guichê comprar, mas a economia de tempo e o fato de não ficar em pé na fila facilitam e fazem o serviço ser interessante", comenta.
Iscas tecnológicas e de serviços
Para conseguir a atenção do público em meio a grande oferta de shows, peças de teatro, restaurantes, exposições e demais eventos, os grandes exibidores têm utilizado as mais diversas estratégias.
Foto: Divulgação - Montagem: Fernando Kazuo
Lounge de espera do Bradesco Prime Cidade Jardim, uma das salas premium do país
A Rede Cinemark, com 52 salas em todo o país, lançou no mês passado a venda por celular. Somente smart phones com acesso a Internet e clientes da operadora Claro podem aproveitar o serviço. A plataforma utilizada é a da Ingresso.com, uma das maiores do setor de vendas virtuais, e o pagamento feito por qualquer cartão de crédito.
O cliente ganha na facilidade, as empresas, nas taxas. Os clientes da operadora de celular pagam pelo acesso ao aplicativo, enquanto a Ingresso.com embolsa a taxa de conveniência. Segundo usuários, o valor varia de R$3 a R$2,50 por tíquete.
A compra de lugar marcado, iniciada em 2007, foi outra tentativa de fazer do programa cinema algo mais reservado. O Grupo Severiano Ribeiro, um dos pioneiros, afirma que o sistema está disponível em quase todas as 215 salas. A empresa preferiu não avaliar a validade e a procura do serviço, que divide opiniões. O cinéfilo Thiago Barbosa não é a favor. "Isso facilita a criação da área vip e tira o prazer de chegar cedo para conseguir o melhor lugar, algo que, para mim, faz parte do prazer de ir ao cinema".
Para quem realmente gosta de ser vip, opções não faltam. As salas oferecem belas bombonieres e livrarias, como os do Estação Vivo Gávea e Unibanco Arteplex Frei Caneca. Mas quem quiser luxo mesmo deve ir ao espaço patrocinado pelo Bradesco Prime no Shopping Cidade Jardim em São Paulo. Poltronas em couro, pratos elaborados por chefs, cafés de blend e sommelier para escolha de vinhos e espumantes são oferecidos dentro das quatro salas antes do inicio da sessão. O ingresso varia de R$37 a R$49, conforme o dia da semana. Já o preço da pipoca com azeite trufado não muda. Custa R$15 a qualquer hora do dia ou da noite.
Independente da classe econômica e do preço da pipoca, ir ao cinema já deixou há muito tempo de ser um programa banal, quando se assistia ao filme que estivesse passando no momento, apenas pelo prazer de aproveitar o escurinho da sala.
Atualizado em 6 Set 2011.