Por Fábio M. Barreto
De Nova Iorque
Foto: Divulgação |
Pegue o estilo de filmagem de A Bruxa de Blair, adicione o conceito de monstro de Godzilla e coloque a criatividade de J.J.Abrams para trabalhar. O resultado disso é Cloverfield - Monstro, que estréia esta semana nos cinemas de todo o país, depois de uma impressionante abertura nas bilheterias americanas com US$ 46 milhões em apenas três dias. Mais que mostrar destruição e correria, o primeiro arrasa-quarteirão do ano tenta provar que os norte-americanos também podem fazer filmes de monstro tão bem quanto os orientais.
Na história, tudo está bem em Nova Iorque, durante a festa de despedida de Rob (Michael Stahl-David), que vai se mudar para o Japão. Hud (o comediante T.J. Miller) está filmando tudo com uma câmera portátil para a posteridade, mas, no meio da festa, as luzes se apagam e tudo treme. Pouco depois, a cabeça da Estátua da Liberdade passa rolando entre os prédios da cidade. Pronto, o monstrengo deu seu cartão de visitas. Daí pra frente, Cloverfield mostra uma seqüência de fugas alucinantes, decisões corajosas e aponta uma nova direção para a maneira como se fazem filmes de monstro em Hollywood.
Convenhamos, criar monstrengos sempre foi coisa que os japoneses fizeram com maestria e até a Coréia do Sul entrou na dança com O Hospedeiro (muito bom, por sinal), contudo os americanos nunca tiveram jeito para a coisa. Godzilla que o diga. Até hoje, o único mostro tipicamente norte-americano a conquistar multidões foi mesmo King Kong, com direito a remake de Peter Jackson e tudo mais. Agora, vemos uma câmera trêmula e insegura nas mãos de um dos personagens, que observa toda a tragédia sem saber ao certo o que está acontecendo - toda a comunicação desaparece, afinal, ninguém vai tentar acessar a internet com um monstro derrubando prédios como uma criança faz com um castelo de cartas?
O constante movimento da câmera, aliás, pode causar tontura em algumas pessoas. Outro ponto de crítica é o monstro em si mesmo, que aparece pouco e tem sido considerado "decepcionante" pelos milhares de internautas que transformaram Cloverfield em fenômeno de expectativa na rede. E é aí que o filme de J.J. Abrams e Matt Reeves, o diretor, corre perigo: ele não é tradicional e usa o monstro apenas como elemento secundário, pois o que vale são as ações e decisões dos personagens. Tudo provocado pela criatura, mas sem focar no que o monstro está fazendo o tempo todo.
Cloverfield - Monstro cumpre o que promete. Mostra uma nova criatura, dá seus sustos e é feito sob medida para o atual perfil de público jovem que adora adrenalina e intensidade, tudo isso embalado por uma divulgação sem precedentes na internet. Ele também promove certa discussão em termos de formatos de se fazer cinema em Hollywood - que já está cansada dos mesmos filmes e de estruturas semelhantes. Afinal, até quando queremos ver a história de amor em meio à tragédia e o final feliz com trilha sonora do Kenny G? Pode ser a hora de mudar e esse monstrinho mostra um caminho.
A continuação já está nos planos da Paramount e já existem até idéias para o roteiro, como mostra a entrevista exclusiva com o diretor Matt Reeves, que falou ao Guia da Semana, em Nova Iorque no dia da estréia do filme. Clique aqui e confira!
Atualizado em 6 Set 2011.