2016 não está sendo um ano bom para sequências. Depois de gigantes como “Alice Através do Espelho”, "X-Men: Apocalipse” e “Tartarugas Ninja - Fora das Sombras” decepcionarem nas bilheterias, é a vez de “Invocação do Mal 2” deixar na boca dos fãs aquele sabor familiar de que “o primeiro foi melhor”. Aliás, bem melhor.
Lançado em 2013, “Invocação do Mal” catapultou o diretor malaio James Wan ao status de “mestre do horror contemporâneo”, reforçando a reputação que ganhara em 2004 por “Jogos Mortais” e em 2010 por “Sobrenatural”. “Invocação” era um compilado de referências clássicas (especialmente de “O Exorcista” e “Poltergeist”) bem trabalhadas, com paciência e sutileza, de forma a entregar o susto apenas quando o espectador já estava de cabelo em pé.
O filme trouxe para os cinemas um casal de investigadores sobrenaturais carismáticos (Lorraine e Ed Warren, interpretados por Vera Farmiga e Patrick Wilson) e se permitiu “perder” algum tempo para apresentá-los e mostrar a rotina da família assombrada antes de revelar, efetivamente, seus assombradores. Foi uma combinação rara de tempo certo, história coerente e boas atuações.
“Invocação do Mal 2”, por sua vez, tenta repetir a mesma fórmula num nível até incômodo: um caso paralelo é apresentado antes do título, uma família numerosa é mostrada vivendo numa casa sinistra, crianças são abordadas por espíritos enquanto dormem, ouvem-se três batidas em alguma porta. A diferença é que, agora, a família percebe rapidamente a presença maligna – afinal, suas ações não são nada discretas.
Se o primeiro longa bebia dos bons clichês estabelecidos pelos cânones do horror, este se apressa para chegar logo ao lado mais “gore” de “O Exorcista”. Uma das filhas da família assombrada, afinal, é possuída e não demora até ouvirmos sua voz gutural, vermos a menina levitando e jogando objetos pelo ar ou virando cruzes de ponta-cabeça.
E isso não é tudo. Sabemos que possessões podem ser uma coisa feia de se ver, mas os espíritos, em si – ou o demônio que os Warren enfrentam desta vez – já foram mais habilidosos em criar medo e tensão sem recorrerem ao susto fácil. Aqui, eles literalmente pulam sobre os personagens e se transformam em gigantescas criaturas de carne e osso, geradas num visual de stop-motion digno de um terror B dos anos 80. Talvez Wan e seus roteiristas tenham se esquecido de que as ações dos espíritos podem ser mais assustadoras que a sua aparência.
A história, além disso, não é toda coerente. Se, no primeiro filme, o caso de Annabelle fora usado para explicar alguns conceitos e explorar medos inconscientes nos personagens – sem, contudo, interferir na história principal –, neste, os eventos mostrados na abertura (que pertencem a outro caso, outra casa e outro tempo) interferem diretamente na possessão da menina e no sofrimento de sua família. Por quê? Conveniência é a única explicação possível.
“Invocação do Mal 2” ainda se eleva um pouco acima da média, se comparado aos títulos genéricos que pipocam nos cinemas todos os anos. Farmiga e Wilson, afinal, têm uma química inegável e carregam o longa nas costas, encontrando uma dimensão pessoal em meio a todos os excessos. O filme, porém, se aproxima muito mais desse grupo mediano do que de seu antecessor e deve se tornar mais um número nas estatísticas negativas das sequências em 2016. Estreia no dia 9 de junho.
Por Juliana Varella
Atualizado em 8 Jun 2016.