Guia da Semana

De Los Angeles




Fruto da necessidade de se fazer filmes para um público jovem e dinâmico, Jumper aborda um aspecto importante e consistente na ficção científica: teletransporte. Fosse um filme inspirado em Harry Potter, poderia muito bem ser chamado de Aparatador (referência à magia que leva um bruxo de um lugar ao outro instantaneamente), afinal de contas, seu público alvo envolve também os leitores de J.K.Rowlling. Para garantir o sucesso com a garotada, foram chamados Hayden "Anakin Skywalker" Christensen e a beldade Rachel Bilson, a Summer, do seriado The O.C. E Samuel L. Jackson era a cereja do bolo dessa receita pronta e sob medida.

Jumper cumpre o que promete. É ágil, não pára um segundo - assim como seus personagens que têm a habilidade de saltar de um lugar ao outro, usando apenas uma referência visual - e não deu muita atenção ao potencial da história. Hayden vive um garoto que descobre, tardiamente, que é capaz de se teletransportar. Vivendo em relativa pobreza com o pai e abandonado pela mãe aos cinco anos, mas sempre criado com dignidade, o sujeito encontra um jeito de melhorar sua vida ao entrar e sair de cofres de bancos sem ser notado. Bom-moço, sempre deixa bilhetes com a mensagem: "prometo que vou devolver". E seguia sua vida.

Como alguma coisa tem que dar errada, entra em cena o "cara mau" de Samuel L. Jackson, uma espécie de Torquemada pós-moderno, que viaja o mundo matando esses sujeitos que insistem em ter um poder "que só Deus deveria ter". Logo se descobre que ele integra um grupo que persegue esses saltadores desde a Idade Média e que pretende destruir tais aberrações da natureza. A alegação é que, além de ter um poder anormal, todos os saltadores se transformam em bandidos sem limites, eventualmente. Mas, claro, esse sujeito que deixa bilhetes nos cofres deve ter alguma coisa de diferente, não?

Pode até ser, mas, certamente, essa diferença não é a atuação de Christensen, que, mais uma vez, perdeu a chance de se distanciar da sua interpretação do personagem Anakin - pouco convincente, diga-se de passagem. Bastante inocente, ele demora a ligar os pontos e só consegue entender a encrenca em que está metido quando um outro saltador, vivido por Jamie Bell, resolve aparecer e explica as coisas ao rapaz. No meio de tudo isso, uma namorada bonita e perdida num roteiro que privilegia cenas de ação e grandes tomadas em cantos distantes do mundo.

Nem se esperava muito de Jumper, entretanto, deve-se lamentar o desperdício da oportunidade de se criar um filme de ficção científica digno de lembrança, o que não é o caso aqui, uma vez que, passada a projeção, pouca coisa permanece na memória do espectador. E tinha tudo par que isso acontecesse: Um dilema milenar, jovens com superpoderes, onipresença e um sujeito diferente dos outros de sua raça deveriam render muito mais do que uma perseguição maluca e surreal através dos continentes do planeta. Mas, novamente, o cinemão pipoca venceu.

Foto: Divulgação

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    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 6 Set 2011.