Guia da Semana

Depois do sucesso de Distrito 9 em 2009, o diretor Neil Blomkamp volta a temperar a ficção científica com questões sociais em Elysium, uma aventura muito mais hollywoodiana e menos provocativa, mas ainda assim interessante. Wagner Moura, que nunca trabalhara num filme de língua inglesa, estreia em grande estilo.

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Enquanto Distrito 9 faz uma sátira inteligente do Apartheid (Blomkamp é sul-africano) com recursos limitados, Elysium usa verbas milionárias para discutir superficialmente a desigualdade social e jogar uma faísca sobre a polêmica da universalização do sistema de saúde.

O universo do filme é dividido em dois: de um lado a Terra, um gigantesco terceiro mundo (Los Angeles se transformou numa favela verticalizada, com “puxadinhos” saindo das varandas); e do outro Elysium, uma estação espacial em forma de estrela com condições ideais que apenas os milionários podem chamar de “casa”. O espectador conhece pouco de Elysium e mesmo da Terra, exceto que ela é fiscalizada por robôs sem qualquer senso de humor (o que rende uma ótima sequência inicial).

Robô militar em Elysium

O elenco multinacional reflete bem a divisão de classes-nacionalidades: sul-africanos, mexicanos e até brasileiros interpretam os moradores da Terra, enquanto americanos ou europeus povoam Elysium. Matt Damon vive o protagonista heroico que simboliza a união dos dois mundos, tendo origem latina (chama-se Max Da Costa) e aparência caucasiana.

Apesar de “cutucar a ferida”, Blomkamp não mergulha fundo nas questões sociais e prefere dedicar a maior parte do tempo a criar efeitos especiais perfeccionistas e colocar os personagens para correr. Damon passa o filme todo fugindo, seja da morte, seja de drones militares ou do sub-vilão Krueger (Sharlto Copley), cuja motivação nunca chegamos a compreender.

Como Krueger, todos os personagens de Elysium são apresentados superficialmente: Max é um criminoso movido pelo instinto de sobrevivência; Frey (Alice Braga), uma enfermeira interesseira que vê em Max a chance de salvar sua filha; Delacourt (Jodie Foster), uma secretária de defesa inescrupulosa e um tanto ingênua; e Spider (Wagner Moura), uma espécie de traficante que se descobre revolucionário.

A força do longa não está nos personagens, mas sim na poderosa metáfora do “1% de milionários contra o povo”, colocando a saúde como símbolo das desigualdades - em Elysium, todos os moradores têm uma cápsula médica particular, enquanto na Terra os hospitais estão lotados.

Wagner Moura, nome que deve atrair muitos brasileiros à estreia, não desaponta: seu Spider é raivoso e ágil – parece estar sempre recalculando seus planos mentalmente como um verdadeiro hacker do submundo. Sua voz enrouquecida e grave contrasta com a fragilidade do seu corpo e dá um quê de mistério à figura. Suas intenções não são as melhores, mas seus olhos brilham com a expectativa de uma revolução e, surpreendentemente, Blomkamp garante a ele um tempo bem longo de tela.

No fim, Elysium não chega para ser o “novo Distrito 9”, mas fica claro que a intenção do diretor não era essa. Agora em Hollywood, o sul-africano tem a chance de se esbaldar nas tecnologias de gravação e mirar um público infinitamente maior. E por que ele não faria isso?

Assista se você

  • Procura um filme de ação com “algo a mais”
  • É fã de Wagner Moura
  • Gosta de ficção científica

Não assista se você

  • Espera ver um filme profundamente político
  • Não tolera cenas de violência (prepare-se para ver corpos explodindo)
  • Procura algo tão original quanto Distrito 9

Por Juliana Varella

Atualizado em 19 Set 2013.